ALGUNS DOS MANJARES PELO MUNDO – CONTINENTE EUROPEU
Texto & Fotos de Mário Menezes
Sou um grande comilão, aliás quem me conhece sabe disso logo desde os primeiros momentos que convive comigo. Até à idade da reforma não me hei-de esquecer de uma situação: fomos almoçar, um grupo de colegas de trabalho, feijoada à Brasileira e dois deles pediram maruca cozida…Impressionou-me o grande poder de “sacrifício” que eles possuem! Eu não seria capaz, detesto peixe cozido e comê-lo junto a outros que se banqueteavam com feijoada à Brasileira, com farofa e tudo a que tinha direito, soaria a requintes de malvadez…mas eles já se devem ter arrependido da maruca pois como sou muito repetitivo, não me tenho calado com isso e a história já se alastrou a outros departamentos e até a empresas fornecedoras. Maruca já é um estribilho…Óbvio que o prazer da comida se paga, a curto prazo, na balança, uma das coisas que não conseguimos enganar, a outra é o espelho. Nas viagens que faço ando muitos quilómetros a pé, desde manhã até ao deitar, pelo que mesmo com as asneiras que vou fazendo, acabo por desgastar as calorias ingeridas, inclusivamente até perco uns quilinhos…
As frases não são tão pouco da minha autoria mas concordo com elas: “somos o resultado dos livros que lemos, das viagens que fazemos e das pessoas que amamos” e “viajar é a única coisa onde se gasta dinheiro, e nos torna mais ricos”. Quando vamos para fora, as nossas necessidades fisiológicas e alimentares mantêm-se inalteráveis. Elas são responsáveis pela maior fatia do custo das nossas viagens: alojamento e alimentação, mesmo tentando pernoitar em locais mais económicos e nos alimentarmos de fast food, portanto comer mal, o que em curtas escapadelas até se suporta. Mesmo assim, fast food também pode ser considerado como gastronomia e até pode ser bastante variado. Fast food é muito além dos McMenu’s que sabem ao mesmo em qualquer parte do Mundo. Às vezes até são bons para “desenjoar” das comidas picantes e com temperos intensos.
“Comemos para viver, não vivemos para comer” mas também “somos aquilo que comemos” e já li que “somos aquilo que viajamos”. Nas nossas viagens os hábitos alimentares inevitavelmente se modificam. Seja por fatores psicológicos, seja devido ao jet lag, seja devido à geografia, seja devido às nossas rotinas, seja devido ao que for, viajar é uma excelente oportunidade de experimentar coisas novas, a gastronomia dos vários países é também cultural. Afinal “a experiência é a fonte de todo o conhecimento” e uma parte do meu orçamento é destinada a provar algo típico. Jamais numa viagem turística a qualquer país nos tornamos peritos na sua gastronomia, um livro de receitas típicas de qualquer um, é um “calhamaço”, mas o facto de citarmos nomes de diversas iguarias internacionais que provamos, já é um excelente começo!
Ao longo dos diversos países que visitei, procurei na medida do possível experimentar novos pratos, bebidas, sobremesas, enfim, novos sabores, dentro dos meus limites, orçamentais e também fisiológicos e até mesmo ideológicos.
A gastronomia é um prazer, mas não é o objetivo principal das minhas viagens. Em muitos países sentar-nos à mesa de um restaurante tem preços proibitivos, sendo o fast food o recurso mais em conta na maior parte dos dias. O tempo disponível, a vontade de aproveitar ao máximo as horas de sol, os horários das atrações turísticas, museus e monumentos, ou das atrações da natureza que em geral ficam distantes das cidades, ou mesmo dar um mergulho no mar, na piscina do hotel ou mesmo nas Termas de Széchenyi em solo Magiar, são fatores determinantes, pelo que ao jantar no final de um dia de grande reboliço, depois de passar pelo quarto do hotel, tomar um duche reconfortante e trocar de roupa, é a altura ideal para desfrutar do prazer de uma refeição “com dignidade” e se for seguida de um espetáculo o dia passado no estrangeiro ainda fica mais completo e memorável!
Orgulho-me de pertencer a um país que tem provavelmente a melhor gastronomia do Mundo e que ainda não conheço na totalidade. As amizades que vou fazendo além-fronteiras, quando as reencontro em Portugal, faço questão que conheçam a nossa gastronomia. A nossa sardinha assada por exemplo já é conhecida na Rússia…
Seguem alguns dos pratos típicos de países Europeus que visitei, muitos que provei e que recomendo experimentar. E se tentarem memorizar alguns nomes passarão no exame com distinção.
INGLATERRA
Afirmar que Inglaterra, e, por conseguinte, os restantes países pertencentes ao Reino Unido, não possuem gastronomia é consensual e nem sequer é ofensivo. Os Britânicos são os primeiros a reconhecer este facto, sobretudo quando visitam o nosso país. Por aqueles lados, a cultura dos pubs é fortíssima, ao final do dia estão cheios, as pessoas saem do trabalho (a vida por lá começa e acaba bem mais cedo…) e é uma enorme romaria. O “pint”, que corresponde a 568 ml, é certamente a unidade de medida fora do Sistema Internacional (SI) mais conhecida no Mundo inteiro. Entrar num pub e pedir um “pint” de cerveja à pressão, ou para os mais equilibrados, um “half pint”, é tradição. Existem várias marcas de cerveja Britânicas, muito sinceramente algumas são fraquíssimas, quase sem gás, pouco frias e até parecem mortas. “Em Roma sê Romano” e nenhum turista resiste ao final de um dia entrar e sentir a atmosfera de um pub tipicamente Britânico e beber uma “jola” como se diz em bom Português…
As refeições servidas nos pubs são também as mais tradicionais no Reino Unido. Além do fish and chips (peixe frito com batata frita) há pratos de carne de vaca e de frango. Os bifes, preparados de diversas formas são bastante apreciados em Terras de Sua Majestade, daí os seus habitantes serem por nós alcunhados de “Bifes” e “Bifas”, estas últimas sobretudo no Algarve…
O fish and chips é um prato com reminiscências do século XIX, quando a pesca por arrasto no mar do Norte se desenvolveu, e deste modo tornou-se fácil encontrar um alimento barato e de preparação rápida para a classe operária. Dos vários peixes utilizados nesta iguaria, o bacalhau é um deles, apesar de muitos estabelecimentos de forma fraudulenta usarem peixe panga, proveniente do Vietname, vendendo assim “gato por lebre”.
Dos bifes, experimentei o British steak & ale pie, e o famoso Sunday roast, o típico manjar de almoço Domingueiro. Duas refeições típicas de pubs, o primeiro trata-se de uma torta recheada com bife estufado, leia-se mais molho que carne, servido com batata frita e legumes cozidos, o outro trata-se de bife grelhado acompanhado também de legumes cozidos (mas servidos num prato separado) e Yorkshire pudding que é uma espécie de pão, feito com farinha, ovos e leite, assado em formas de metal, as mesmas que são usadas para fazer queques, untadas com gordura. Os pratos são acompanhados com o molho “chippie sauce” servido numa pequena caneca. Trata-se de um molho castanho escuro, feito com tomate, melaço, tâmaras, maçãs, tamarindo, especiarias, vinagre e por vezes passas.
Daquilo que percebo de cozinha e depois de há uns anos, ter conhecido a Susan, uma Australiana Escocesa, em Amesterdão, de ter estado com ela em Lisboa e levá-la a provar, entre outras coisas, um cozido à Portuguesa, recordo que ela afirmou que nunca tinha comido nada tão delicioso e que a comida na Escócia não tinha sabor. Agora conclui facilmente que este tipo de comida de pub, que é basicamente o mais consumido no Reino Unido, certamente é feita com produtos congelados. Um pub foi obviamente concebido para servir bebidas alcoólicas, e as refeições que por lá são servidas, é natural que a matéria prima seja à base deste tipo de produtos, fáceis de armazenar por longos períodos de tempo e para confecionar aqueles pratos adequa-se na perfeição. Ir a um pub para comer uma refeição também é um ritual, mesmo sabendo de antemão o que nos irá ser servido, e não deixa de ser um enorme prazer para qualquer turista que visite o Reino Unido.
Apesar do Reino Unido não possuir gastronomia, em Londres podemos provar especialidades de vários cantos do Mundo, mesmo em forma de fast food, incluindo de países que não temos qualquer intenção de visitar. Nos mercados, nomeadamente no Borough Market junto à estação de London Bridge, podemos encontrar muitos alimentos frescos, peixe, carne, frutas, até mesmo frutas do Sudeste Asiático como o durian! Em Londres, os preços da alimentação são estupidamente caros, resta ao turista decidir onde e como quer gastar as suas Libras!
Em Liverpool o prato típico chama-se “scouse”, sendo a razão pela qual os habitantes da cidade são alcunhados de “scoucers”, e a língua Inglesa por lá falada dado ser tão difícil de compreender, devido ao sotaque característico, ser chamada de “scouse”, e por muitos considerada com um dialeto, pois tem palavras diferentes da língua de Shakespeare que aprendemos na escola! O prato “scouse” é um guisado, feito de pedaços de carne, geralmente bovina, com batatas, cenouras e cebola, que está associado à zona portuária da cidade. Enquanto por cá os guisados, associados às zonas portuárias, aos pescadores e marinheiros, são feitos com sobras de peixe e chamados de “caldeiradas”, por aqueles mares provavelmente os peixes são de tamanhos bem maiores e os guisados são de carne, das sobras que se encontram em terra. Em Liverpool o scouse é rei, sendo fácil de encontrar em qualquer pub ou bar. O nome de scouse é derivado da palavra “lobscouse” que por sua vez é originário de “lapskaus” originária das línguas norueguesa.
ESCÓCIA
Impossível não associar este país ao whisky, a sua bebida nacional, existindo por lá, cerca de 140 marcas. A bebida é taxada de forma altíssima, por questões de saúde pública e assim evitar que os mais novos consumam. Uma garrafa pode custar alguns milhares de Libras, mas em algumas destilarias, é possível provar um copo por muito menos. Muitas marcas não se encontram facilmente em Portugal, pelo que fiz questão de provar uma delas. Blair Athol, foi o que experimentei, apenas para marcar o momento, pois não sou entendido no assunto. Para isso seria necessário estudá-lo a fundo e investir algum tempo e dinheiro a visitar destilarias, pois existem diversos tipos de whisky de diversas regiões produtoras.
Haggis é o prato nacional. Trata-se de bucho de ovelha cozido, recheado com as suas miudezas (coração, fígado e pulmões) ligadas com farinha de aveia, sebo, cebola, sal e especiarias. É proibida a importação de pulmões de ovelha nos EUA, para enorme desgosto dos americanos de origem escocesa lá residentes, que ficam por isso privados de desfrutar a sua iguaria predileta! Haggis pode aparecer como topping de outros pratos, hamburgers por exemplo, ou servido em cima de puré de nabos ou de batata, o haggis, neeps and tatties. “Address to a haggis”, é um famoso poema de Robert Burns que homenageia esta iguaria.
Haggis aparece no recheio do chicken balmoral, um peito de frango, depois envolto em bacon e servido com whisky ou molho de pimenta.
Scotch pie, é uma tarte recheada com carne de carneiro picada, carne bovina ou mesmo carne de cordeiro.
Stovies, é um guisado de carne e batata. O verbo “to stove” é o equivalente na língua local, a “to stew” na língua inglesa, que significa estufar. É confecionado lentamente numa panela fechada com gordura (banha ou manteiga) e com outros líquidos, como leite, caldo ou geleia de carne.
Além da sopa de tomate, a scotch broth é uma das sopas mais tradicionais, feita geralmente com cevada, carne de cordeiro, de carneiro ou de vaca, batatas, leguminosas secas, repolho e alho francês.
IRLANDA
É voz corrente afirmar, de forma depreciativa, que o Reino Unido não tem gastronomia, mas os Irlandeses afirmam que o seu país tem! Eles há muito que saíram do Reino Unido…
Ao falarmos de Dublin é impossível não referir a cerveja Guinness, que é preta, sendo considerada como a rainha de todas as cervejas, e por ali há várias marcas. Não sendo um apreciador deste tipo de cerveja (prefiro loiras), durante a minha estada em Dublin bebi todos os dias Guinness e naquele ambiente soube-me sempre bem. Cerveja de barril, pois por cá quando compro cerveja Guinness de lata ou de garrafa, não me sabe bem! A cerveja Guinness é quase única e exclusivamente produzida com matéria-prima da região, sobretudo a água do Rio Liffey, das suas nascentes nas Montanhas Wicklow. O malte e a levedura também são de origem Irlandesa. O lúpulo é importado da Chéquia.
O whisky também reina por lá. O whisky Irlandês, o Jameson, é produzido, primeiramente através de fermentação, processo semelhante ao fabrico da cerveja, sendo a matéria prima a cevada e o malte, e posteriormente por destilação, sendo que o whisky Irlandês é destilado por 3 vezes, ao passo que o whisky Escocês é apenas destilado uma vez. O Whisky Irlandês é usado para fazer o Irish coffee, o famoso café Irlandês, misturando-se num cocktail, com café quente e açúcar, levando creme batido por cima, e também o Baileys Irish Cream.
Comecei este texto com bebida pois a gastronomia do país é indissociável dos pubs, algo cultural no povo Irlandês. Consumir refeições num pub é típico! A batata que foi introduzida no país, na segunda metade do século XVI, é consumida em grande escala e os guisados são os pratos mais comuns, pois são indicados para enfrentar o clima frio e chuvoso. O Irish lamb stew, é um guisado de borrego servido num pote, é o prato nacional. Existe também o Irish beef Guinness stew, um guisado típico de carne de vaca com puré de batata. A Irish style farmhouse vegetable soup, uma sopa de legumes, também é típica. A manteiga e o pão fatiado são sempre colocados na mesa. Tudo delicioso, mas nada barato. Dublin é uma cidade cara. A Irlanda é uma ilha e os salários praticados estão ao nível dos mais altos da Europa, mas contrariamente às minhas expetativas, na Irlanda comi bem!
IRLANDA DO NORTE
Pertencente ao Reino Unido, mas à semelhança da Irlanda, em termos gastronómicos possui alguns pratos típicos que são um regalo provar. “A Good Day Starts with a good Breakfast” é uma expressão popular por aqueles lados e todos sabemos bem o seu significado. Ao pequeno-almoço é consumido o prato mais emblemático do país. O Ulster fry, a fritada de Ulster, a região mais a norte do país. É constituído por toucinho, ovos, salsichas, sendo tradicionalmente tudo frito em banha. Acompanha com tomate, pedaços triangulares de pão com fermento e pão de batata, um pão achatado preparado numa fritadeira, com batata, farinha e soro de leite coalhado. Pode também incluir batata frita, feijão, cogumelos, outros tipos de pão, panquecas e um tipo de morcela, conhecida localmente como black pudding. Se estiverem por Belfast, para provarem o Ulster fry, aconselho vivamente o Maggie Mays mas preparem-se para esperar pela mesa pois o local é muito concorrido. Serão amavelmente recebidos por uma jovem e simpática equipa que vos tratará muito bem, sobretudo se forem Portugueses, país cujos proprietários da casa têm bastante apreço.
Em Belfast, existe o presunto tradicional, o Belfast ham. É fabricado com a perna do porco desossada, salgada, depois fumada sobre turfa ou zimbro o que lhe confere um sabor picante e caraterístico. Belfast ham and cabbage é um prato que poderá ser pedido, trata-se do presunto servido com repolho. Sopas de legumes, ensopados de borrego também são tradicionais por lá, assim como o fish and chip, pratos consumidos em larga escala na Irlanda e na Grã Bretanha.
FRANÇA
É considerada a rainha da gastronomia Mundial. Os seus vinhos e os seus queijos são apreciados em todo o lado. O queijo não pode faltar numa mesa, já Asterix dizia que “un bon repas sans fromage, c’est une bête qui n’a qu’un oeil, c’est un oiseau sans plumage, une forêt sans écureuil“. Quanto ao vinho, Bordéus é considerada como a capital Mundial. Vinhos e queijos internacionais, Franceses incluídos, conseguimos facilmente encontrar em qualquer hipermercado, nos dias de hoje com a pertença à União Europeia tudo chega facilmente até nós e a preços acessíveis.
Gastronomia Francesa é associada à “haute cuisine”, cuja capital é Lyon. A cidade é tida como o coração gastronómico de França, pois nela encontramos diversos restaurantes que oferecem experiências gastronómicas de famosos chefes e também com estrelas Michelin.
A França, acumula o título de país mais visitado do Mundo, com o de destino gastronómico de eleição, porém grande parte dos turistas que a visitam, além da baguette e do croissant ou do brioche, pouco mais conhecem. Os preços dos restaurantes estão entre os mais caros da Europa. Passear por Paris com uma baguette debaixo do braço e uma bebida em lata na mão é uma das imagens de marca dos turistas. Quanto ao fast food, destaque para a cadeia de restaurantes “Nebab” que lideram o mercado do donner kebab. No prato com batata frita e salada, ou no pita (pão) conforme foi inventado na Alemanha pela comunidade Turca lá residente, é uma iguaria largamente difundida pelo Mundo fora e uma das opções que nos permite “matar a fome” a preços acessíveis.
Pratos tipicamente Franceses, no seu país, já experimentei alguns: A bouillabaisse Marselhesa. Uma sopa de peixe, um género de caldeirada. À semelhança das nossas caldeiradas, a bouillabaisse foi criada por pescadores que após separarem os peixes para a venda, usavam as sobras para fazer um ensopado, utilizando também ervas aromáticas da região, as ervas de Provence por exemplo. A bouillabaisse é servida num prato de sopa, acompanhado de pão torrado, rouille (molho feito com gema de ovo, azeite, pão ralado, alho, açafrão e pimenta caiena) e queijo Gruyère ralado. É gostosa. Recomendo. Mas atenção. É cara, muito cara e vale pela experiência. Para matar a fome de um tipo com o meu calibre eram preciso umas 3, pelo menos. Sustentar-me a bouillabaisse em Marselha, é pior que “sustentar um burro a pão de ló”! A cidade possui diversos restaurantes na zona do Porto Velho que servem a famosa bouillabaisse, assim como diversos peixes e mariscos.
O cassoulet, um género de feijoada, prato típico da Occitânia, nomeadamente de Toulouse. Além dos típicos temperos da região, normalmente o prato leva carnes salgadas e lentamente cozidas na sua própria gordura (confit) nomeadamente confit d’oie (de ganso) ou confit de canard (de pato), assim como salsichas, linguiça, carne de porco, de perdiz ou de cordeiro.
Os crêpes, assim se escreve em Francês, são uma especialidade típica da Bretanha. Estando por Rennes é possível escolher um dos muitos restaurantes que servem este manjar. Foi por aquelas terras que os crêpes foram criados, depois do trigo sarraceno ter sido introduzido no século XII. Dali se deram a conhecer em todo o Mundo, com as devidas adaptações. Os crêpes de farinha branca só apareceram no início do século XX, quando a farinha de trigo se tornou acessível, tal como o açúcar. A farinha branca é usada somente na confeção da massa dos crêpes doces. A massa dos crêpes salgados é de trigo sarraceno, daí ser escura. Estes são recheados por dentro e por fora, podendo levar por cima, queijo, molho de tomate, ervas aromáticas, ovos estrelados ou bacon. O crêpe é tradicionalmente acompanhado de uma poiré, assim se chama a sidra, que é uma bebida regional, sendo confecionada por aqueles lados com sumo de pêra fermentado, em vez do sumo de maçã.
Mais a norte, já na Normandia, quem visita o Monte St Michel é tradicional provar os moules-frites, mexilhões confeccionados numa panela com azeite, temperos e salsa, acompanhados de batatas fritas. No restaurante onde provei, o mexilhão era de excelente qualidade, não tive quaisquer problemas, apesar de ser uma das coisas que é arriscado comer longe de casa. Moules-frites, é um prato de origem Belga, mas segundo algumas sondagens é o segundo prato preferido dos Franceses, só perdendo para o magret de canard, um prato de peito de pato, crocante, acompanhado por molhos doces.
Em relação à doçaria, posso recomendar o gâteau Nantais” que é semelhante ao nosso pão de ló, mas humedecido com rum e limão, e o fondant baulois que é um delicioso bolo de chocolate, duas especialidades típicas de Nantes. Se viajarem apenas com mochila e sem mais nada, podem adquirir estas especialidades no aeroporto, nas freeshops antes de se dirigem à porta de embarque.
Em Bordéus, além do vinho, não esquecer de provar o Canelé de Bordeaux. Durinhos por fora e fofinhos no interior, semelhantes a um pudim, este doce é composto de massa aromatizada com rum e baunilha e coberto por uma crosta caramelizada. Julga-se que a sua origem ocorreu há uns séculos atrás no Convento da Anunciada, localizado no centro da cidade. É um símbolo da cidade de Bordéus e da região da Occitânia.
ESPANHA
De longe o país estrangeiro que mais vezes visitei. Já perdi a conta! Apesar de vizinhos e nos considerarem como “nuestros hermanos”, a gastronomia apesar de se enquadrar na dieta mediterrânica, é diferente da nossa. Ao contrário dos muitos países europeus que visitei, onde vários deles possuem pratos comuns na sua gastronomia, saindo de Portugal não encontramos nada igual na mesa. Isso faz da nossa gastronomia como única, e talvez a melhor do Mundo porque muita da sua matéria-prima só existe no próprio país, o peixe, por exemplo, que só existe com essa qualidade nas nossas águas frias e Atlânticas, e consumimo-lo poucas horas depois de pescado!
Espanha, não era de todo um país que considerava que se comesse bem. Quanto mais visito Espanha mais me vou adaptando ao modo deles comerem…tenho ideia que os Espanhóis não comem, eles petiscam! Apesar da língua ser parecida com a nossa, quando lemos a carta de um restaurante em Espanha temos sempre dificuldade em escolher. Os nomes não são assim tão óbvios.
São tapas, raciones, bocadillos ou montaditos e as refeições muitas vezes são “dos platos” que no fundo são dois pires! O jamon (presunto) é excelente, o do tipo Ibérico chega a custar umas centenas de Euros o kg, assim como os enchidos. Pedir uma “tábua” acompanhada por uma “caña de cerveza” da marca Cruzcampo, Estrella Damm ou Mahou é um regalo! Em Madrid, e não só, o “Museo del Jamon” é o local ideal para desfrutar, por exemplo, uma tapa, pa amb tomàquet, que é isso mesmo, pão com tomate, uma especialidade catalã. O pão mais consumido é sobretudo do tipo baguettes de trigo.
A paella é o prato mais famoso. Já tive oportunidade de provar num restaurante em Benicasim, um povoado pertencente à Comunidade Valenciana, região de onde este prato é oriundo. A paella original não é a paella com mariscos. Existem diversas variações do prato, pois o original é confecionado em lume de lenha, com verduras, condimentos, como o açafrão e carne, incluindo a de coelho e também caracóis, não misturando carnes e mariscos. O prato vai sendo adaptado ao gosto dos visitantes nacionais e internacionais, existindo diversas casas que servem a iguaria ao estilo de comida rápida. Existe também o arròs negre (arroz negro) preparado de forma semelhante à paella, que leva mariscos, chocos e o negro é oriunda da tinta destes últimos. Longe da sua região, tive oportunidade de o provar em Sevilha, no La Paella. Arroz como acompanhamento não parece ser muito usado, além da paella desconheço mais pratos que sejam confecionados com arroz. Para confecionar paella, o arroz que deve ser utilizado é o “arroz bomba”, que tem um grão mais curto e mais arredondado, sendo oriundo da zona do Parque Natural de La Albufera.
Na Andaluzia, os calamares são manjar tradicional. Se forem feitos com lulas são excelentes, no entanto a pota é mais usada e muitas vezes fritos em óleos já “massacrados”. Dos diversos peixes fritos (choco incluído) que se consomem, experimentei o adobo sevillano, que é feito com cação marinado, sendo passado por farinha antes de ser frito. As especialidades andaluzas incluem o famoso gaspacho, uma tradicional sopa fria e parece-me ser das poucas sopas existentes. “Adoro isso, a minha sogra mima-me com calamar, choco, puntillita y boquerone” diz um amigo meu cuja namorada é sevilhana e que por lá passa grandes temporadas!
Em Oviedo provei a fabada asturiana, típica das Astúrias. Um género de feijoada, com feijão fava (fabes) mas muito aquém de carnes e enchidos, acompanhado com sidra, servida para os copos com a garrafa colocada no alto. Nas Astúrias, o cordeiro também é rei, assado no forno, mas sem temperos como nós fazemos, assim como a parrilla (assado de carnes no carvão) que em 2006 foi a minha refeição do dia de Natal. Os callos à la madrilena não tenciono experimentar, um guisado feito com tripas, tradicionalmente de porco ou vaca, embora atualmente se use cordeiro. Sardinha assada é tradicional em Santander, servida nos restaurantes junto da praia do Sardinheiro, no entanto é assada na plancha (chapa) em vez de ser no carvão como nós gostamos e que as faz libertar aquele fumo com aroma característico. E é sardinha Cantábrica, de mar não do oceano…Na Galiza, sobretudo nas Rias Baixas, perto de Pontevedra, o mexilhão é consumido em larga escala, pois a região é o maior produtor Mundial deste bivalve. Mariscadas também são típicas em terras Galegas.
A carrillada, é a parte da bochecha do porco, cozinhada e adocicada em molho de vinho. Confesso que para matar a fome a um tipo do meu calibre, eram precisas mais duas, pelo menos! Em Valência, após pedir e pagar cerca de 15€ por este prato, tive muitas saudades de uns rabos de bacalhau à minhota, que me serviram em Alcântara num restaurante de um amigo de um colega meu!
O tradicional cocido à la madrilena foi a última iguaria que experimentei. Esperei mais de 20 anos por esse momento! Se estiverem num dia de Inverno por Madrid, num Domingo, o local ideal é a “Taberna La bola” em pleno centro histórico. É necessária a marcação, pois o local tem imensa procura, sendo conhecido por servir o melhor cocido à la Madrilena do Mundo. Semelhante ao nosso cozido à Portuguesa, é cozinhado num pote em brasas, leva enchidos, vegetais e grão. É servido primeiramente a sopa, portanto o caldo da cozedura e posteriormente as carnes com molhos e pickles. Recomendo, mas sem entrarem em comparações nacionalistas do género “o nosso é que é bom”! Tudo tem o seu tempo e o seu lugar.
O torrão de Alicante é provavelmente o doce mais famoso, assim como o merengue madrileno e as tortas de Santiago de Compostela. Torrão consome-se sobretudo no Natal, sendo nos dias seguintes ao mesmo, a melhor altura para o adquirir nos supermercados, pois encontra-se a preço de saldo! Existem várias variedades de torrão, além do tradicional em amêndoa, há por exemplo o de amendoim, de chocolate ou mesmo com pistachio, e também bolos recheados com torrão.
Churros, um género de farturas, mas mais fininhas, que se molham em chocolate quente são tradicionais em toda a Espanha. Fazer uma pausa numa churreria é obrigatório!
Os vinhos espanhóis são considerados dos melhores do Mundo, podendo ser encontrados à venda em muitos países. Quando vou a Espanha de carro, além de encher o depósito, trago sempre um belo carregamento de vinhos sobretudo das regiões da Rioja e da Catalunha!!! E de cerveja também, pois prefiro as marcas espanholas às nossas! No Mundo inteiro o vinho Jerez é provavelmente o vinho espanhol mais conhecido, chamado pelos britânicos de “cherry”. Trata-se de um vinho licoroso, produzido na região de Jerez de La Frontera, possuindo uma história com mais de 3 mil anos! O sabor que o caracteriza é muito diferente do nosso docinho vinho do Porto…
BÉLGICA
A Bélgica este pequeno país onde o Neerlandês é falado a norte e o Francês a sul, sendo falado também o Alemão, é um paraíso de cerveja! Há mais de 3 mil marcas diferentes. Cerveja, wafle, chocolate, mexilhão e batata frita é provavelmente o que os estrangeiros conhecem da gastronomia deste país. Pouco mais relevante deve existir…
Julga-se que a batata frita foi ali inventada. Batatas Belgas, conhecidas em todo o Mundo, as friet (ou frites) são consumidas também na rua como fast food, vendidas em quiosques especializados chamados de fritkot (ou frituur). Secas, crocantes por fora e macias por dentro, são um regalo. O segredo é o tipo de batata, a “bintje” que possui alta quantidade de amido e permite uma boa resistência ao cozimento, sem absorver muito óleo. São lavadas em água fria e depois secas num pano antes da fritura. E quanto à fritura aqui vai o verdadeiro segredo. É feita em gordura bovina e não em óleo vegetal, e em duas etapas: num primeiro banho, mais demorado, a uma temperatura de 130ºc, a operação que se chama bringir. Depois disso, a batata descansa, arrefece e na hora de servir é frita novamente a 180ºc até dourar. Esta é a razão porque muitas fritadeiras das cozinhas industriais são duplas. Uma parte para bringir e a outra para fritar! Quando compramos no supermercado batata frita congelada, ela é também chamada de batata pré frita, pois após a primeira fritura ela foi congelada. A importância da batata frita é tão grande neste país que existe um museu a ela dedicado, o Frietmuseum em Bruges.
O prato Nacional são os mosselen-friet chamados assim em grande parte do país que fala a língua a língua Neerlandesa, mas são também chamados de moules-frites no lado Francófono. Tal como em França são mexilhões confecionados numa panela com azeite, temperos e salsa, acompanhados de batatas fritas, Belgas pois claro!
Em relação aos doces, os wafles, por cá conhecidos por gaufres, e assim também chamada pelos Francófonos, são um regalo. Esta iguaria mundialmente famosa é um género de panqueca de massa doce, podendo ser recheada por cima com gelado, chocolate ou qualquer outro sabor. O chocolate Belga deu-se a conhecer ao Mundo no século XVII, e desde aí que é imperdoável um turista não o comprar. É inclusive vendido a peso em diversas lojas especializadas, nomeadamente em Bruxelas junto à Grand Place. Quanto à cerveja aconselho uma ida ao Delirium a dois passos da Grand Place, o bar que vende a maior variedade de cervejas do Mundo e é isso mesmo, faz jus ao nome, um verdadeiro delírio!
PAÍSES BAIXOS
A gastronomia não é o seu forte. Muito à base de fritos onde as batatas Belgas, as tais batatas que são fritas duas vezes, abundam. O Dutch snack é o mais popular, um conjunto de snacks fritos que se temperam em molhos, entre os quais o croquete, que é tipicamente Neerlandês e entrou há muitos anos na nossa alimentação! Os muitos restaurantes de gastronomia Indonésia são a melhor parte, ou não fosse a Indonésia uma antiga colónia Neerlandesa. Em Amesterdão podemos provar o verdadeiro nasi goreng, estando bem longe da Ásia! As cervejas de inúmeras marcas sabem sempre bem para acompanhar qualquer refeição ou mesmo numa esplanada, dos muitos cafés que existem na cidade. Tomar café também é tradicional, sendo normalmente, nos países de Benelux, servido com uma bolacha.
ITÁLIA E SAN MARINO
ITÁLIA e SAN MARINO
Adorei o país, e desde 2007 que o tenho visitado por diversas vezes. É um museu a céu aberto. San Marino e o Vaticano, os dois enclaves, também são locais soberbos, cada um à sua maneira, mas em relação ao último duvido que alguém prove a gastronomia local, se é que ela existe, ou se esse conceito é ali aplicável…aliás, já li algures que “comer no Vaticano é assunto polémico que varia de Papa para Papa. Alguns, comeram como reis, outros condenaram a gula, e fizeram da fome uma penitência ou forma de contato com a espiritualidade“.
Duas coisas me desiludiram inicialmente: a antipatia dos Milaneses, o que ao longo dos anos parece ter desaparecido, e a gastronomia sobretudo porque neste aspeto as minhas expectativas eram altíssimas! As últimas vezes que visitei Itália “fiz as pazes” com ambas! A Itália é conhecida como o país da “pizza” e da “pasta”. Sobretudo esta última, explicaram-me num restaurante que dá muito trabalho a confecionar. Não é como nós fazemos cá, ao comprar molhos enlatados no supermercado e aquecê-los no micro-ondas. Confecionar um molho “pesto”, um “carbonara”, ou lá o que for, demora algum tempo!
A pizza, considerado o maior embaixador gastronómico do país, em muitos locais parecia ser tratado como um prato de terceira categoria! A pizza é uma especialidade napolitana, que tradicionalmente é redonda e de massa fina e estaladiça. Em Nápoles existem outros géneros de pizzas, por exemplo, o ripieno conhecido por cá como calzone e a pizza frita, como o nome indica é frita, ao invés de ir ao forno, tal como um pastel! Ainda por Nápoles, provar o spaghetti alla puttanesca é obrigatório, um prato inventado por aqueles lados, em meados do século passado, a pasta é feita com tomate, azeite, azeitonas, anchovas, pimenta, alcaparras e alho. A palavra “puttanesca” deriva da palavra “puttana” que significa prostituta, pelo que se julga que o prato pode ter sido inventado num dos muitos bordéis que existiam no Quartieri Spagnoli, famoso bairro com ruas estreitas, onde existem muitos restaurantes, mas também muitas lambretas em alta velocidade…
A pinse, é uma especialidade romana, que é algo muito semelhante à pizza, mas com a massa mais fofa, com um tempo de cozedura maior e com formas diferentes, sendo muitas vezes vendida à fatia. Além das tais fatias de pizza ou pinse que se podem comer pedido ao balcão, conheço a piadina romagnola, típica especialidade da região de Emilia-Romagna e da República de San Marino, um “wrap”, portanto uma massa fina de pão branco, que era tradicionalmente cozida num prato de terracota, chamado “teggia” ou “testo” na língua local, atualmente é utilizado o grelhador elétrico, sendo servido fechado e recheado com queijo, vegetais, presunto, por exemplo. Também na onda o “take away”, se estiverem por Milão, nomeadamente no Navigli, não deixem de provar a arancina, especialidade siciliana, um pastel de arroz frito, com um diâmetro com cerca de 10 cm, recheado com carne picada de tomate, queijo mozzarella, ervilhas ou outros ingredientes. Visitar a Sicília está nos meus planos, pelo que na devida altura farei as devidas considerações. Itália é um país com uma enorme linha de costa, o peixe também é parte da gastronomia. Se estiverem em Peschiera del Garda, próximo do Lago di Garda, poderão saborear uma fritada de peixe no Frittodivino, serão certamente bem atendidos pelos proprietários, naturais de Verona. Servida num copo de papel, contém várias variedades de peixe frito, como por exemplo sardinhas, lulas, polvo, camarão ou bacalhau. Itália tem uma enorme linha de costa pelo que peixe não falta nas bancas e nos mercados em cidades próximas do mar!
Quem visita Itália irá certamente tentar distinguir as denominações dadas aos estabelecimentos de restauração: Ristorante, trattoria, tavola calda, tavola fredda, rosticceria, pizzaria ou osteria são apenas algumas. Sentar à mesa, sobretudo no Norte, sai caro, então em locais como Veneza, nem é bom pensar! É cobrado “coperto”, ou seja, uma taxa por utilizar os talheres (deve rondar os 3€). Além disso, é também cobrada uma taxa de serviço (pode passar de 10%) sobre o valor total. O que se come, e a forma como se come, nos restaurantes em Itália difere dos restaurantes Italianos fora do país! A pasta e a carne ou o peixe são servidos separadamente, ou seja, pagam-se dois pratos. Eles comem primeiro um e depois o outro e não um a acompanhar outro. Existe também o “antipasti” que pode ser por exemplo uma salada (caprese ou panzanella por exemplo) ou um queijo “mozzarella bufallina” que é consumido antes do primeiro prato. Normalmente a pasta é isso mesmo, massa e molho. O segundo prato são uns pedacitos de carne enfeitados! As bebidas alcoólicas são caríssimas! O primeiro prato pode custar por exemplo 15€ e o segundo 25€, é fazer as contas. Em Portugal os restaurantes nos últimos tempos têm aumentado brutalmente os preços, pelo que quem atualmente visita Itália já não nota assim uma diferença tão grande, como eu notei em 2007, tempos em que por 5€ em Portugal se comia uma refeição completa…
No dia do meu 33º aniversário almocei num restaurante americano, o Road house na Estação Roma Termini, um grande bife e a foto está guardada para a posteridade! Repeti a experiência mais vezes noutras paragens, de comemorar o aniversário estrangeiro a banquetear-me com um grande bife! Nada a ver com comida italiana, em que os nós os dois andávamos de costas voltadas, pelos motivos que expus…
Os gelados foram dos melhores que comi na vida! E no inverno eram muito baratos! Em países onde a influência histórica da Itália é sentida, os gelados também são excelentes. O torroncino (semelhante ao torrão de Alicante) e os chocolates é algo que devemos comprar para trazer para casa e deste modo recordar umas férias maravilhosas. O vinho italiano também é famoso, sendo o Chianti que é produzido na região da Toscana, o mais conhecido pelo Mundo fora.
O Limoncello, um licor de limão produzido no sul do país, nomeadamente nas regiões de Campânia e da Sicília, é uma das bebidas mais famosas. Mas é Sorrento que afirma que fabrica o melhor de todos, sobretudo pela qualidade dos limões da região. Em Sorrento existem inúmeras lojas onde poderão provar esta maravilhosa bebida. Se viajarem de avião com bagagem de mão, e dada a limitação de líquidos a transportar, poderão adquirir bebidas no aeroporto antes de embarcarem, no entanto se viajarem de automóvel, não foi o meu caso, poderão atestá-lo com umas belíssimas garrafas. Recomendo a cadeia de lojas Tesori di Sorrento e Signorvino paraísos de garrafas, onde amavelmente me ofereceram algumas provas. Tanto vinho italiano como cerveja italiana já provei, dentro e fora de Itália, nomeadamente o Chianti! A cerveja italiana mais famosa é provavelmente a Birra Moretti, mas há outras excelentes marcas que dificilmente encontramos fora de Itália, inclusivamente oriundas das ilhas.
É impossível não referir o café expresso. Ao que parece foram os Italianos que inventaram esta forma de produzir café. Já tive em casa uma máquina dessas da marca “Minimoka”. A dita cuja chegou a tirar mais de dez cafés num dia só para mim. Já desde os 11 anos de idade que tenho o hábito de ir a um café e pedir uma bica, sem açúcar. Uma “italiana” é uma bica mais curta, e de facto em Itália é mesmo assim que servem o café!
ALEMANHA
Ao contrário de Franceses, Espanhóis ou Italianos, os Alemães são uns alarves a comer! Ao contrário das minhas expetativas em relação à comida na Itália, na Alemanha eram baixas. Nada mais errado! Na Alemanha come-se muito bem! Tal como em qualquer país do Centro e Leste Europeu, incluindo os países Bálticos. Um dos países onde o porco é rei! A cerveja é rainha! Por lá existem mais de mil marcas diferentes! Cada cidade tem a sua cerveja tradicional! Munique é a capital Mundial da cerveja! Cervejas servidas em canecas, algumas com 1 litro, chamadas de “mass”! A dunkle (escura), a helles (amarela) e a weiss, uma cerveja de trigo de cor de gema de ovo.
Tanto na Alemanha como em muitos países Europeus, a salsicha é uma das iguarias mais consumidas, não só mas também como fast food. Por exemplo em Berlim a currywurst faz parte da história da cidade. Uma salsicha de porco cortada às rodelas e temperada com ketchup e caril que tem conquistado há décadas o gosto dos Alemães e de quem visita a Alemanha. Sempre que aterrei na Alemanha, comer uma currywurst tornou-se um hábito, uma tradição! Além da currywurst, as salsichas Frankfurter würstchen, Nürnberger rostbratwurst, bratwurst, bockwurst ou weisswurst (branca) têm grande saída.
Jantar numa cervejaria típica Alemã é algo tradicional e imperdível! Recomendo vivamente uma ida à Berliner Republik. O eisbein (joelho de porco) é um dos pratos mais solicitados! Também o schnitzel (panado de porco). O sauerkraut (repolho fermentado), as batatas assadas e a mostarda, são acompanhamentos tradicionais. Doses bem aviadas e bem regadas são ali servidas. E os clientes, locais e estrangeiros, sempre animados e sempre a levantar canecas! Os Alemães são muito divertidos e afáveis, ao contrário dos Italianos de Milão. E por falar em cervejaria, o que dizer da Hofbräuhaus que é de longe a mais famosa! Por lá o bretzel (pão em forma de nó) é um símbolo, e ótimo para acompanhar a cerveja, assim como o obatzda (creme de queijos picante). O haxen (pernil de porco assado), acompanhado por kartoffelpüree (puré de batata), kartoffelknödel (pastel de batata) ou rotkohl (repolho roxo) é outro dos pratos com enorme saída.
Dada a enorme Comunidade Turca residente no país, a Alemanha também é um paraíso de comida Turca, com diversos restaurantes típicos, muitas vezes concentrados em ruas e bairros, que servem pratos deliciosos e económicos.
Caso queiram banquetear-se com um grande bife, não esqueçam a cadeia de restaurantes Block House.
A berliner não poderia ser esquecida. Ela é guarnecida com doce de frutos vermelhos. Foi a berliner que deu origem às nossas bolas de Berlim. A receita foi trazida para o nosso país durante a II Guerra Mundial por refugiados Judeus, tendo sido adaptada ao gosto Lusitano.
ÁUSTRIA
A gastronomia Austríaca é semelhante à Germânica, ou não se trate de países com a mesma língua, vizinhos e com uma História que se cruzou…Hitler, por exemplo, nasceu na Áustria. Essa foi a ideia que fiquei deste país, onde passei apenas 3 dias em Viena, portanto muito menos do que na Alemanha onde percorri várias cidades como por exemplo Munique, Berlim, Hamburgo, Colónia e Frankfurt.
Viena é famosa pelas suas salsichas chamadas de Wiener würstchen, tradicionalmente consumidas em quiosques na rua, os chamados Würstelstand. O Wiener schnitzel, um panado de porco que originalmente é frito em banha uma das iguarias prediletas do Imperador Francisco José que era um “bom garfo”. Já a sua mulher, a Sisi tinha demasiadas preocupações com o peso e com as calorias que consumia. Essa encaixava mais em maruca…
Quanto à doçaria, a sachertorte é a especialidade mais famosa, pois desde 1832 que é fabricada! Um bolo de chocolate famoso, servido num café “fino” pertencente ao luxuoso Hotel Sacher. Ir a Viena é obrigatório provar uma sachertorte assim como para quem visita Lisboa, provar um Pastel de Belém!
CHÉQUIA e ESLOVÁQUIA
A gastronomia nesta zona da Europa (Centro e Leste) é excelente e os preços são económicos. Mas desenganem-se, apesar do nível salarial ser inferior, ir a restaurantes por estes lados não sai mais barato que em Portugal! Pelo contrário, bem mais caro!
A gastronomia destes países que há pouco mais de 30 anos formavam um único, a Checoslováquia, julgo que é quase igual, tal como as línguas o são. Países dos quais só conheci as capitais: Praga onde fiquei 3 noites, e Bratislava apenas uma.
A carne de porco é consumida em grande escala, o pečené vepřové koleno, assim chamado na Chéquia, e na Eslováquia pečené bravčové koleno, que é um joelho de porco assado, é um dos pratos nacionais. Se forem para esses lados, peçam um por mim que não se arrependerão…a menos que sejam apreciadores de maruca cozida! Peças com mais de 1Kg, servidas com legumes, mostarda e molho picante, acompanhado com fatias de pão escuro. A cerveja Checa é um regalo. Sempre servida em canecas de 1/2 litro em diante! Das melhores do Mundo, para mim é a melhor! Inúmeras variedades. Mesmo quem não é apreciador de cerveja, delicia-se com a cerveja Checa quando visita o país. Dado tratar-se de um país montanhoso, o lúpulo que ali se produz torna este néctar super aromático. Marcas internacionais, como a Guinness, importam o lúpulo deste país. Além da cerveja, os vinhos Checos e Eslovacos também são deliciosos.
Nas bancas de comida de rua na Praça Venceslau de Praga as salsichas destacam-se pelos seus vários tamanhos e diversos sabores.
No Centro e Leste da Europa é típico o tatarák (bife tártaro) assim se chama nestes dois países. Composto por carne de vaca crua, finamente picada com uma faca, misturada com vários condimentos e servida com uma gema de ovo crua. Não arrisquei experimentar longe de casa comer isto, com muita pena minha…
POLÓNIA
À semelhança dos vários países da Europa central na Polónia, porco também é rei. E à semelhança dessa zona geográfica do Velho Continente, na Polónia também comi muito bem.
Żurek é a sopa nacional. Ótima para enfrentar o frio Invernal. O seu caldo é feito à base de levedura de centeio e de pão de centeio, complementado com salsichas, pedacinhos de toucinho frito, ovo cozido ou batatas cozidas. O pierogi (género de ravioli) é provavelmente o prato mais famoso do país, pois qualquer Polaco nos pergunta se já experimentamos. Também zrazy (bifes enrolados), kotlet schabowy (similar ao schnitzel), golonka (joelho de porco guisado), Żeberka w miodzie (entrecosto com mel) e diversos pratos de borrego, acompanhados com batata assada e bigos (género de sauerkraut) ou mesmo com kasha (cereais cozidos) e czerwona kapusta (repolho roxo) foram algumas das especialidades que experimentei.
Na doçaria existem as pączek, um género de bola de Berlim, ótimas para acompanharmos com um café e fazermos uma pausa numa tarde de longo trabalho turístico!
Vodka é a bebida Nacional, sendo reclamado pelos Polacos como a melhor vodka do Mundo. Bebida, cujo nome deriva da palavra russa “voda”, que significa “água” pois tradicionalmente é inodora, incolor e insípida. Bebe-se gelada de um trago e é um excelente aperitivo e não abusando, ajuda-nos a suportar as temperaturas invernais. A Polónia não é famosa pelos seus vinhos, eles têm pouca expressão. Quanto à cerveja existem diversas marcas famosas como por exemplo a Tyskie.
HUNGRIA
Em Budapeste além da cidade, a gastronomia também me encantou. Neste país, é a carne de vaca que ocupa grande destaque, ao contrário de outros países Europeus onde o porco é rei. Além do bife strogonoff que pode ser comido por lá, o goulash é um dos pratos nacionais. Um guisado com carne de vaca e paprika. Na Hungria cozinha-se com “imensaaa paprika” e de vários tipos, mais ou menos picantes. Sempre acompanhado por um bom vinho ou por uma cerveja, bebidas que na Hungria abundam em quantidade e qualidade.
Na doçaria destaca-se o kürtőskalács, o doce mais antigo deste país. Um pastel em forma cilíndrica que é obtido através de massa enrolada, cozido no forno, e muitas vezes sobre brasas. É sempre motivo para fazermos uma pausa e entrar numa “pastelaria fina” ou “menos fina”, e para provar esta iguaria, recomendo a “Molnár’s kürtőskalács”.
Visitando o Mercado Central de Budapeste, que fica num dos extremos da Rua Váci, constatamos tratar-se de um mercado “sui generis” para os nossos padrões Lusitanos, pois o peixe fresco não figura. Ali abundam carnes e enchidos, especiarias, vegetais frescos e peixe congelado. Já expliquei a pessoas Húngaras o significado da nossa expressão Lusitana “peixeirada”!
A palinka, bebida destilada de frutas, é a bebida nacional, que não convém abusar e deve tomar-se sempre antes das refeições.
RÚSSIA
Nos dias de hoje falar da Rússia é politicamente incorreto. O país foi (esperemos que volte a ser) um excelente destino de viagens, talvez o mais importante da Europa, pelo menos a nível cultural (museus, monumentos e o ballet) é certamente.
A gastronomia Russa também é um encanto. Viajando pelo Centro e Leste da Europa e também pelos Países Bálticos, já é possível provar algo típico Russo, como por exemplo as suas sopas borsh e solyanka coisa que fiquei fã desde a primeira vez que experimentei. Sobretudo no Inverno são ideais para aconchegar o estômago. Solianka é uma sopa tradicional baseada em picles de pepinos, com carne, peixe ou cogumelos, e outros vegetais. A caraterística principal desta sopa é ser salgada, devido aos picles, e daí derivar o seu nome pois “sal” em língua Russa diz-se “sol”. Ao contrário das nossas sopas Mediterrânicas, na generalidade leves e à base de legumes, nestas zonas da Europa as sopas são mais pesadas, como se fosse a sopa da pedra… Borsh tem reminiscências na Ucrânia, sendo confecionada com beterraba que lhe dá um forte coloração vermelha, repolho, cenoura, pepino, batata, cebola, tomate, cogumelos e carne, vinagre (ou limão) e até mesmo feijão. Antes de a consumir, coloca-se uma colher de sopa de nata e bebe-se um shot de vodka gelado, de um trago.
O meu prato preferido é o shashlik. São espetadas de carne de porco que foram colocadas a marinar durante várias horas com diversos temperos que somente naqueles países sabem fazer…existem inclusivamente espetos próprios e grelhadores próprios para este tipo de assado. Originário do Cáucaso, este prato nos seus primórdios era confecionado com borrego. Na Rússia a batata (kartoshka) é acompanhamento de eleição sendo base de diversos pratos como por exemplo o vareniki (massa recheada com batata) ou o draniki (panqueca de batata e cebola). A kasha também é um dos acompanhamentos prediletos. A salada Russa existe mesmo e sobretudo a população Russa do sexo feminino é enorme consumidora de saladas, como por exemplo a vinegret composta de beterraba, batata, cenoura, picles e ervilha! As mulheres Russas estão entre as mais belas do Mundo, são muito vaidosas e cuidam muitíssimo da sua imagem e da sua linha. Já os homens são mais shashlik… Os pelmeni (género de ravioli) são deliciosos, têm origens Siberianas e são consumidos em larga escala.
O povo Russo é muito hospitaleiro e se um dia tiverem a sorte de tomar uma refeição em casa de uma família tradicional, irão provar muitas das iguarias típicas, sobretudo as de conservas que vos irão colocar na mesa como por exemplo o holodets (gelatina de carne) e também diversos peixes fumados.
O chá é uma tradição Russa, o país é um dos maiores consumidores a nível Mundial. Tradicionalmente feito num samovar que além das matrioskas, é um souvenir de eleição. Na Rússia, Tula é a cidade do samovar e há um ditado Russo que menciona “não tragas o teu samovar para Tula”, quer dizer, se fores a uma festa onde vão estar muitas mulheres bonitas, não tragas a tua mulher…
O caviar beluga (o preto) feito com ovas de esturjão do Mar Cáspio, é um artigo de luxo que custa umas centenas de Euros mas existe o caviar amarelo que é feito com ovas de salmão ou de outros peixes mais económicos. Normalmente é servido em blini (tortilhas de farinha de trigo) acompanhadas por vodka! Em São Petersburgo, eles chamam de pankekas ao que nós chamamos de crepes, não os de trigo sarraceno originais, crêpes de França, mas cuja massa de trigo branco é recheada interiormente de carne, legumes ou cogumelos, feitos no momento.
Vodka é naturalmente a bebida nacional. O vinho Russo até existe, tendo pouca expressão, mas o espumante Russo é famoso! A cerveja Baltika é muito conhecida e por cá facilmente pode ser encontrada. Muitos Russos não consomem bebidas alcoólicas, inclusivamente muitos restaurantes não as possuem na carta. Há muitos sucos deliciosos de bagas como por exemplo o mirtilo, ideais para acompanhar muitas refeições, sobretudo em cantinas tradicionais. Doces, chocolates e até gelados são tradicionais, sobretudo os primeiros, que existem em grande escala sendo recorrentemente usados para ofertar, e até são facilmente encontrados por cá, em supermercados de produtos de artigos dos países do Leste Europeu, como por exemplo o Mix Markt.
UCRÂNIA
A gastronomia da Ucrânia e da Rússia são praticamente a mesma coisa. As razões Históricas explicam tudo. Os apreciadores de comida Russa têm na Ucrânia a sua “praia”!
A kotleta po-kiyevs’ki (frango à Kiev) é o prato Nacional Ucraniano, apesar da sua autoria ser reivindicada pelos Russos. Uma especialidade com influência Ocidental, supostamente Francesa, já com alguns séculos de existência. A receita atravessou fronteiras e oceanos, sendo por exemplo no Brasil muito apreciada. Trata-se de peito de frango desossado e recheado, sendo depois panado e então frito. Normalmente é recheado com manteiga de alho e ervas, apesar de também se utilizar entre outros ingredientes, o presunto, o salmão ou o queijo.
Existem outros pratos de carne, bem apresentados e saborosos, cujos nomes não consegui descobrir. E claro, a cerveja Baltika também existe!
MOLDÁVIA
Mais um país que pertenceu ao grande império da URSS e também à Roménia. A sua cozinha tem obviamente influências Soviéticas como também Romenas ou no país não sejam faladas essas duas línguas! Pode ser considerado o país mais pobre da Europa, no entanto, na minha curta estada em Chisinau vi restaurantes, cafés e bares com bastante requinte.
A mamaliga, o acompanhamento típico de inúmeros pratos de guisados de carne, feito de uma papa sólida, amarelada, de farinha de milho, já consumida pelos camponeses, muito antes de ser inventado o pão, e a zeama, um género de canja de frango, dois pratos nacionais que os seus habitantes têm muito orgulho de possuir na sua rica gastronomia.
A Moldávia é um país pequeno, visto do ar é verde, sendo sobretudo agrícola e vinícola, possuindo a maior adega do Mundo, as Minas de Cricova. Vinhos Moldavos são muito apreciados, de grande qualidade e facilmente podem ser encontrados em Portugal nas lojas de artigos dos países do Leste Europeu, como por exemplo o Mix Markt.
ROMÉNIA
A gastronomia Romena tem influências Gregas, Italianas, Turcas e dos países dos Balcãs Na minha curta estada em Bucareste reencontrei-me com uma amiga Romena que me convidou para jantar sarmale. O prato predileto das famílias Romenas na noite de Natal. É um prato que existe com diversos nomes pela Europa fora e preparado de diversas formas consoante os gostos que variam com a geografia. Por exemplo, na Sérvia chama-se sarma, na Bulgária, sarmi e por cá são as salsichas frescas enroladas em couve. A palavra “sarma” tem origem na palavra turca “sarmak”, que significa embrulhar. Na Roménia o prato é composto de repolho enrolado em carne picada, podendo levar temperos como orégãos ou manjericão, arroz ou legumes, sendo depois assado no forno. Normalmente é acompanhado por mamaliga, batata ou pão.
A sopa típica é a ciorbă de burtă que por acaso provei! Sim, é feita com tripas, coisa que evito, mas ofereceram-me e sou bem-educado! Afinal nunca digas que “desta água não beberei”! As miudezas dos animais têm grande destaque na alimentação destes povos, pois no tempo do Comunismo foram privados de muitos bens e recursos, a carne, por exemplo. A “chicha” era para os “capatazes” do Comité Central como foi o caso de Ceausescu… A ciorbă de burtă é uma sopa que demora várias horas a confecionar, o caldo é esbranquiçado, onde cozem tripas de carneiro ou de vitela cortadas em pedaços grandes, sendo depois engrossado com mujdei (molho picante), vinagre e pimenta. Covrigi são especialidades de pão redondo semelhantes aos bretzel Alemães, podendo encontrar-se na rua à venda sendo consumidos como fast food, por vezes até recheados.
A Roménia também é famosa pelos seus vinhos, mas a bebida Nacional é a palinka, à semelhança da Hungria. Razões históricas provavelmente…o Império Austro Hungaro ocupou parte da Roménia.
Não gosto de me referir a países como Leste pois isso é depreciativo, aliás nos meus artigos já expliquei isso. A Roménia fechou um ciclo de países do Centro e Leste Europeu que visitei. Não esquecer que Europa vai até ao Cazaquistão, albergando uma parte deste, e os Romenos fazem questão que o seu país seja considerado como central no velho Continente! O meu ritual de despedida, digamos, desse “Leste Europeu” foi banquetear-me com um grande bife! A esse Centro e Leste Europeu, acabei por voltar em Outubro de 2022, só não o fiz antes devido à maldita pandemia…
BULGÁRIA
Um dos países que menos tempo passei, conheci um pouco da capital, Sófia e tive oportunidade de provar uma especialidade, o shashlik. Um nome de um prato bastante é universal nesta zona da Europa. Uma espetada de carnes, em espeto de madeira, contendo também especiarias e pimentos vermelhos, cozinhada nas brasas.
A Bulgária é um país grande, obviamente para conhecer melhor a sua gastronomia seriam precisos mais dias. A gastronomia Búlgara tem influências dos Balcãs e do antigo império Otomano. A influência deste último pode observar-se por exemplo nos doces, semelhantes às delícias Turcas como por exemplo o baclava.
Muitos pratos têm como base os cereais (principalmente trigo e milho) plantados no vale do Rio Danúbio e também o arroz.
Após a minha curta passagem por Sófia e ter achado os Búlgaros pouco simpáticos (contrariamente aos Sérvios) fiquei com desejo de um dia conhecer melhor a Bulgária e as estâncias Balneares do Mar Negro e quem sabe, também as estâncias de Ski! Aproveitarei para conhecer melhor a sua gastronomia, do que vi, já deu para ter ideia que por aqueles lados se come muito bem…
ANTIGA JUGOSLÁVIA (SÉRVIA, MONTENEGRO, ESLOVÉNIA, CROÁCIA…)
A Jugoslávia foi uma grande nação, que ocupava a maior parte da Península Balcânica, e começou a desmoronar-se no início da última década do século passado. Hoje são vários os países que se formaram com esse desmoronamento. Todos de menor tamanho que Portugal continental, apesar disso não deixam de possuir as suas semelhanças e diferenças. As gastronomias desses países terão certamente influências e julgo serem indissociáveis. Tendo já visitado alguns desses países, sou “forçado” a referir especialidades gastronómicas dos outros que ainda não visitei…
Por Belgrado, em 2014 tive uma curta passagem, tendo a cidade marcado o meu último aniversário de trintão. Capital Sérvia, país de bastantes influências Muçulmanas, pelo que a carne de borrego é muito usada nos seus pratos. Foi um dos pratos de borrego que tive oportunidade de provar. Mas foi na minha mais recente viagem a esta parte do Mundo que me fez aumentar sobremaneira o meu portfólio gastronómico dos Balcãs.
Ao longo da História, os Impérios Otomano e Austro Hungaro também trouxeram influências. Talvez por isso, os kürtőskalács sejam um dos doces prediletos e a sachertorte (ou qualquer imitação) também consegue ser encontrada, assim como as delícias Turcas, como o baklava ou lokum, ou o pão do tipo pita, por lá chamado de somun, que é colocado na mesa!
Čevapčiči é um nome a fixar para quem vier para estes lados. Na Bósnia e Herzegovina é o prato nacional, mas é consumido em larga escala pelos Balcãs. Nos locais turísticos deve ser dos pratos mais pedidos, sendo também dos mais baratos das cartas dos restaurantes! Trata-se de rolinhos de carne moída, moldada em pequenas salsichas com cerca de 2,5 cm de diâmetro e 5 cm de comprimento, tradicionalmente de carne de vaca e borrego, misturada com cebola e alho salteados, clara de ovos, sal e paprika. Depois de moldados e deixados por várias horas no frigorífico, são colocados em espetos, os “kabobs” de forma transversal e podem ser cozinhados grelhados no carvão, num grelhador elétrico, no forno, ou ainda fritos num tabuleiro com gordura, até ficarem escuros. São normalmente servidos dentro de um somun (pita) acompanhados de cebola picada, malaguetas frescas e ajvar relish, um condimento à base de pimentos vermelhos assados, berinjela grelhada e alho. A sudzukica, uma salsicha fabricada com carne bovina e diversos condimentos, também é uma especialidade muito apreciada, podendo ser consumida justamente com čevapčiči, fazendo deste modo um prato misto de carnes.
As sopas tradicionais Bósnias, os “goulash Bósnios” são muitíssimo saborosos e ricos. É o caso da bosanaki ionec que há centenas de anos está nas mesas de ricos e pobres. Enquanto os ricos preparavam o prato com mais carne e outros ingredientes caros, os pobres usavam o que estava disponível. Os ingredientes típicos são carne bovina, cordeiro, repolho, batatas, tomates, cenouras, salsa, alho e grãos de pimenta. Muitos vegetais ou carnes diferentes podem ser usados. Trata-se de um guisado que é preparado por camadas de carne e legumes alternando-as até que a panela esteja cheia. Originalmente eram utilizados potes de cerâmica colocados numa lareira ou em uma cova no chão. A begova čorba, é uma sopa de legumes com frango também muito popular, levando ingredientes como ovo, arroz e natas. As sopas Bósnias são bem mais ricas que as suas congéneres Croatas. Pelo território Croata, constando nos menus dos restaurantes, sopas de peixe, de galinha ou de carne, é só praticamente o caldo que é servido…mas mesmo assim não deixam de ser saborosas e aconchegantes. A influência marítima (Adriático) ao invés da continental, a Bósnia é um país montanhoso, influenciam naturalmente na diferença gastronómica!
Pleskavica é um tipo de hamburger, muito popular pelos Balcãs, sendo um dos pratos nacionais da Sérvia. Um grelhado que consiste em uma mistura de carne picada de porco, vaca e cordeiro. É servido com cebola, kajmak (natas fervidas), e urnebes, uma mistura de queijo branco, kajmak, malagueta, sal e outras especiarias. Se passarem por Liubliana, capital Eslovena, recomendo vivamente o restaurante Sarajevo ́84 onde as especialidades Bósnias fazem furor. Além de serem bem servidos, a decoração irá transportar-vos no tempo até à antiga Jugoslávia! E quando pedirem o café, serão surpreendidos por algo típico e ancestral, o café Bósnio, que é tradicionalmente servido derramando-o de uma pequena caneca de bronze numa pequena xícara chamada fildzan. O café também é acompanhado por uma tigela de açúcar com cubos e alguns doces turcos, tradicionais.
Na Eslovénia e na Croácia as influências Austríacas e Italianas são notórias. As pizzas, por exemplo, são divinais! Pastas, escalopes de vitela e de porco (schnitzel) também se encontram nas cartas dos restaurantes. A carne de porco é consumida em grande escala, pois aqui é a religião Católica que prevalece, logo o porco não é impuro! A kranjska klobasa é a salsicha nacional, já com mais de 100 anos de existência! Em Liubliana, onde é considerada como a especialidade local, não pude deixar de provar, numa das famosas lojas, a Klobasarna! A salsicha é feita com carne de porco, bacon incluído, condimentada com sal marinho, tradicionalmente oriundo das salinas de Sečovlje, alho, salitre e pimenta preta. Além da salsicha, a sopa “ričet” lá servida, completou o meu cardápio gastronómico Esloveno nesse dia. Uma sopa grossa, contendo cevada,feijão, batata, cenoura, salsa, aipo, alho francês, tomate, cebola e alho. Na Croácia também se serve ričet, o que em tempos era uma das rações servidas aos prisioneiros! Outra sopa que pode lá ser encontrada é a jota, popular na Península da Ístria, tanto na parte Eslovena como na Croata. É feita de feijão, repolho fermentado (chucrute) e nabo, batatas, bacon e entrecosto.
No dia seguinte, junto ao Lago Bled, provei os famosos bolos Kremna rezina. A maioria dos locais chamam-lhe de kremšnita, derivado da palavra alemã “cremeschnitte”, traduzindo significa “fatia de creme”. O bolo é associado à antiga monarquia Austro Húngara, no entanto, sua origem exata é desconhecida. É muito popular em toda a Europa Central e nos Balcãs em várias formas, todas incluindo uma base de massa folhada e creme de nata. A receita deste bolo foi trazida para o Hotel Park, localizado na margem do Lago Bled, em 1953 por Ištvan Lukačević, chefe da confeitaria do hotel. Lukačević, era originário da Sérvia, onde um bolo semelhante já era conhecido.
Estando numa onda de comida rápida não podemos esquecer o burek. Originário da Turquia mas é pelos Balcãs que reina. Trata-se de um folhado tradicional de massa enrolada, fina, recheado com carne, legumes ou queijo. É tradicional ser consumido ao pequeno almoço tal como ovos e omeletes.
Na Croácia, peka é o prato nacional. Trata-se de um assado, de carne (borrego ou vitela), peixe ou polvo, misturado com legumes e azeite, tradicionalmente feito em brasas sob uma cúpula em forma de sino. Este método de cozimento antigo resulta em comida leve, tenra e deliciosa. Leva cerca de 4 horas para ficar pronto, pelo que os restaurantes apenas fazem por encomenda e no mínimo para 4 pessoas. Infelizmente não pude provar…
Kuhani buncek, é por lá chamado ao pernil de porco, muito semelhante ao comido em outras paragens na Europa central, assim como os acompanhamentos, que eles acrescentam feijão guisado. Também há o porco no espeto, chamado de odojak na ražnju, o entrecosto preparado à maneira Americana, chamado de marinirana svinjska rebra na žaru, as bifanas de porco grelhadas, num espeto, chamadas de raznici que podem vir com o acompanhamento blitvita sa krumpirom ou seja couve com batata. No Montenegro, o porco também dita as suas ordens. Njeguski stek é um dos pratos nacionais. A receita foi inventada na cidade de Njegus, famosa pelo seu presunto. Assim surgiu a ideia de rechear um schnitzel frito com queijo duro, picles e presunto. Presunto e queijo também se podem adquirir por estas paragens. Foi nisso que gastei as minhas últimas Kunas, a moeda atual em circulação na Croácia, em Janeiro de 2023, o Euro já circulará também por este país!
A Croácia também inclui na sua gastronomia pratos de peixe, nas cartas dos restaurantes facilmente encontramos marisco, calamares, e até mesmo sardinha, por lá chamadas de srdela!
Não poderia deixar de referir os gelados! A influência Italiana faz-se sentir em grande escala e a qualidade assim o comprova. Em Dubrovnik há uma famosa gelataria, a “Sladoledarna Dubrovnik”, mesmo no início da Stradun, em frente ao convento e igreja Franciscana! A casa está na mão da mesma família há várias gerações, sendo famosa pela forma como os gelados são servidos, com malabarismos, porém o Sena, o tal funcionário malabarista, precisava de descansar, pois passou o Verão a fazer malabarismos com bolas de gelado! Mas a simpatia e qualidade e boa disposição, continua por lá e até algumas palavras em língua Portuguesa poderemos trocar com os funcionários!
Vinhos e cervejas pelos Balcãs, existem diversas marcas, e provar é obrigatório. Na Eslovénia a marca de cerveja líder é a Union. A rakija, é semelhante à palinka, e convém não abusar! Rakija é uma bebida consumida em larga escala por esses países. Além da rakia existem outras bebidas espirituosas de alta graduação alcoólica (40%) inclusivamente feitas com pimenta, pelo que duvido que haja valentões que abusem destas últimas!!
LITUÂNIA
O Norte da Europa, sobretudo nesta zona dos Países Bálticos possui muitos encantos, a começar pelo Inverno.
Os 3 países, têm muito para ver, descobrir e degustar. A Lituânia é o maior de todos. A sua gastronomia obviamente devido a razões históricas e geográficas tem influência de países como a Polónia, Alemanha e Rússia. Por exemplo, a versão Lituana do pierogi e do pączki é muito semelhante à Polaca. A base da alimentação é a batata e daí advém o prato nacional, o cepelinai. Tratam-se de bolinhos grandes feitos com uma mistura de massa cozida e crua de batata recheada com carne, sendo apresentados com bacon e molho de creme azedo. É um prato que demora bastante tempo a elaborar. Típica refeição de dias invernais. Este prato foi concebido para alimentar famintos trabalhadores e fornecer sustento durante essa altura do ano, onde até a água do mar congela!
Quem visitar o Trakai, deve provar o kibinai, um tradicional pastel recheado de carne de carneiro e cebola. Não tive tempo de provar pois a minha visita ao Trakai foi muito condicionada pelos horários dos autocarros de regresso a Vilnius. Era o dia do meu 37º aniversário, teria de almoçar em Vilnius e seguir para Riga. Nesse dia pedi bolo de sobremesa, pelo menos de nascença era Lituano…
Pratos de carnes, de borrego também, são tradicionais por estes lados, assim como sopas, de peixe incluídas.
LETÓNIA
Riga, onde passei 3 dias, sendo considerada a mais cara das 3 capitais Bálticas, não é uma cidade cara comparativamente a outras paragens do Norte da Europa, no entanto a alimentação, a vida noturna e os souvenirs têm preços ao nível da Europa dos altos salários! Em termos de alimentação, vemos nos restaurantes do centro da cidade, pessoas muitíssimo bem aperaltadas, e também lindas mulheres Letãs, ostentando smartphones de última geração e poderíamos dizer que estamos em Cascais! A diferença eram os -17ºc no exterior…A quantidade de turistas estrangeiros que fazem de Riga a “meca da vida noturna” e a “Banguecoque da Europa” (infelizmente) faz aumentar o preço destes bens e serviços!
Os restaurantes self services, dos quais destaco o Lido que não fica muito distante do centro Histórico, são uma excelente alternativa tornando as refeições mais económicas. Leia-se mais económicas, não são baratas! Ali abundam os pratos Russos como por exemplo o pelmeni, o shashlik e as sopas borch e solyanka. O prato nacional é chamado pelēkie zirņi ar speķi sendo composto por ervilhas cinzentas e bacon, que por acaso provei nesse self service.
A grande quantidade de Russos que compõem a população deste país influencia na escolha gastronómica. A gastronomia Letã além de influências Russas tem influências dos países limítrofes. A carne e os produtos agrícolas são a base da alimentação, estando presentes em quase todos os pratos, embora o peixe, como é óbvio, também existe, inclusivamente fumado. Não esquecer que no Inverno o mar congela! Uma visita ao Mercado Central faz parte do roteiro turístico de Riga pois é considerado o maior mercado e bazar da Europa! Os preços por lá dos alimentos são tudo menos baratos.
ESTÓNIA
A gastronomia deste país, que é um enorme arquipélago, banhado pelo Mar Báltico, tem influências da sua História milenar e das várias invasões que sofreu durante vários anos. A culinária Nórdica, da Rússia e da Alemanha teve ali grande influência. Russos por aqueles lados não são bem-vindos, sendo mesmo escorraçados quando se sentam à mesa dos restaurantes…pratos Russos não devem ser fáceis de encontrar por lá, ao contrário da Letónia! A gastronomia da Estónia é baseada na carne, no peixe e nas batatas, mas também existem diversas saladas.
Várias cervejarias famosas, ao estilo Germânico, existem pelo centro Histórico de Tallinn onde é um enorme prazer comer uma faustosa refeição sobretudo no Inverno. O joelho de porco na frigideira é rei! Acompanhado com batata, obviamente, o meu vinha acompanhado por uma espécie de farinheira recheada de batata, e mulgikapsad (género de sauerkraut) e claro, bem regado por uma cerveja artesanal!
Ao contrário da cerveja, o vinho não é uma bebida comum nos Países Bálticos. Há, contudo, o “vinho quente” em vários pontos da Europa, até em Portugal já encontramos nos mercados de Natal. Na Estónia chama-se glögi, uma bebida quente, mistura de vários licores e especiarias. O licor Vana Tallinn de sabor parecido, mas cremoso, e que se bebe frio e pode ter uma graduação alcoólica até 50%.
NORUEGA
A Noruega é dos países mais caros do mundo, pelo que ir a restaurantes é garantido sair depauperado! O fast food e street food são os recursos mais comuns, mesmo assim é tudo menos barato. Por exemplo, uma refeição com um menu no Burger King ronda os 20 Euros. Donner kebab, pizzas e os cachorros do 7-Eleven (uma cadeia de lojas de conveniência) foram o meu manjar quase diário. Estes últimos começam nos 5€! Mesmo ir ao supermercado temos garantida uma conta grande na caixa, por exemplo, por uma garrafa de água de 1,5l paguei cerca de 3,5€. O custo da alimentação é o maior entrave de uma viagem ao país dos fiordes representando uma enormíssima fatia do nosso orçamento!
À Noruega todos associamos o bacalhau que é rei nas nossas mesas. Bacalhau é o nome comum de cerca de 60 espécies migratórias do género “Gadus”, pertencente à família “Gadidae”. O bacalhau original, o tal que conhecemos, é da espécie “Gadus morhua” sendo encontrado por aqueles mares frios do norte da Europa. É geralmente de tamanho pequeno, embora alguns exemplares possam atingir os 100 kg de peso e quase dois metros de comprimento.
No país do bacalhau, o mesmo atinge preços exorbitantes, um simples rabo de bacalhau na peixaria custa cerca de 10€! O salmão também não foge à regra, a Noruega é o maior seu maior produtor mundial, sendo este peixe ali criado, apreciado nos quatro cantos do mundo, no Japão por exemplo, nos restaurantes de sushi! Além de bacalhau, salmão, arenque, os peixes daquelas águas mais conhecidas, é possível também encontrar outros bem familiares, como o rodovalho, um peixe que os Portuenses completam facilmente a rima!
Carne de baleia, é um dos manjares mais conhecidos. A Noruega é o único país do mundo em que o seu consumo é permitido. O mercado de peixe de Bergen é um paraíso gastronómico, do género “street food”, de peixe e marisco, mas também de outras iguarias como por exemplo hamburgers de alce ou mesmo paella! Além da carne de baleia, ali provei uma sopa de peixe e um bolo de bacalhau, que em nada tem a ver com os nossos pastéis de bacalhau. Foi um local onde tirei muitas fotos, e tive oportunidade de falar com muitos dos seus vendedores das bancas de comida, arrisco-me a dizer que nenhum é noruguês, mas a simpatia para com os visitantes, mesmo os que mais fotografam e menos consomem, é extraordinária!
Por falar em cachorros, as salsichas por estes lados abundam. Destaco a elgpølse, as chamadas salsichas de alce pois contêm esta carne na sua composição. Salsichas com carne de porco existem também em abundância, sendo tradicional no verão, muitas famílias fazerem churrascos nas praias, nas ilhas e nos jardins.
Fritert fisk med fries é assim que se chama ao peixe frito, o bacalhau, com batata frita.
Quanto à doçaria, o rømmegrøt é tido como um dos pratos tradicionais. “Rømme” significa azedo. É feito com creme azedo, leite integral, farinha de trigo, manteiga e sal, sendo assim uma papa que depois é polvilhada de canela, com consistência grossa e sabor adocicado. Aprendi o nome, provei, mas não fiquei apreciador!
Por ter tido oportunidade de visitar a Noruega e poder ter provado algumas das suas tradicionais iguarias, posso dar-me por duplamente feliz! Destaco naturalmente um bife de baleia. Confecionado na chapa, grelhado, servido depois com manteiga, alho e especiarias, foi um verdadeiro regalo, daquelas coisas que merecem ser experimentadas pelo menos uma vez na vida. O tombo foi de 40 €!
DINAMARCA
Na Dinamarca imperam os alimentos provenientes de agricultura biológica. Copenhaga é uma cidade muito cara, sobretudo a alimentação posso afirmar que custa sensivelmente o dobro de países como por exemplo a Alemanha! Ao passar pelas lojas do centro de Copenhaga e observarmos o preço dos alimentos ficamos chocados! Não esquecer que na Dinamarca, em todos os produtos, sejam ou não alimentares, 25% é IVA…
Devido à emigração de origem Turca e Síria, a gastronomia destes países também está presente em muitos restaurantes de fast food, donner kebab por exemplo, e são muito procurados pelos Dinamarqueses, mesmo em take away! No Inverno deve chegar a casa frio, mas eles devem gostar na mesma, das batatas fritas também! A minha primeira refeição em Copenhaga foi uma pizza, as outras foram donner que comi num fast food na Strøget e salsichas na estação de comboios. Mas não deixei de provar o prato nacional, o smørrebrød. Um género de pequenos canapés feitos com pão de forma escuro, chamado rugbrød, cobertos com diversos tipos de recheios, tais como saladas, frango, atum, pasta de fígado, rodelas de tomate, carne de bovino, salmão ou arenque. O smørrebrød é uma das sandwiches mais célebres do Mundo, estando incluída nesta lista o donner kebab (foi inventada na Alemanha, não esqueçam) e a nossa francesinha (que por acaso tem origens Gaulesas…). Matar a fome a um tipo do meu calibre com smørrebrød na Dinamarca deve ser pior que “sustentar um burro a pão de ló”, pelo que a iguaria serve perfeitamente para fazer uma pausa a meio da tarde. Para isso, as salsichas Dinamarquesas são também típicas, sendo a rødpølse que é de côr vermelha e a medisterpølse de côr esbranquiçada, tidas como as salsichas nacionais. São compridas. Até dá a impressão que por aqueles lados no Norte da Europa, eles se orgulham do tamanho das salsichas que servem. Ainda bem que ali na Dinamarca são grandes, pois uma refeição daquelas, salsicha, pão e ristede løg (cebola frita) , acompanhado com uma cerveja, custa em Copenhaga sensivelmente o dobro do que custaria numa cidade Alemã qualquer. Quando Deus criou o Mundo foi justo, pois imagine-se se as salsichas Dinamarquesa fossem do tamanho das salsichas de Nuremberga, quanto ia custar o lanche…
E por falar em cerveja, a Carlsberg é a marca da cerveja nacional. Fundada em 1847 por J.C. Jacobsen com a intenção de homenagear seu filho Carl. A Dinamarca é um país plano, e uma pequena elevação já pode ser considerada um monte (“berg”, em Dinamarquês) logo nome “Carlsberg”, significa “Monte de Carl”.
SUÉCIA
Estocolmo não é capital mais cara da Escandinávia, Copenhaga e Helsínquia são bem mais e Oslo ainda não conheço, mas sei que ganha a todas. Na Suécia o preço da alimentação é naturalmente caro, por exemplo, um pão do tamanho de um pão alentejano tradicional, no supermercado, custava cerca de 6€, pelo que os Suecos em geral, fabricam o seu próprio pão em casa.
Na Suécia o salmão é rei no prato. Em Estocolmo é possível pescá-lo em plenos canais da cidade, sem pagar impostos ou licenças. O smörgåsbord é o manjar nacional. Composto por um buffet livre com vários pratos de peixe, onde arenque e salmão não podem faltar. Também as Köttbullars, as almôndegas Suecas de carne fazem parte da gastronomia nacional. Uma especialidade que se julga ter origem Persa, mas na realidade está espalhada por vários países. As cadeias de restaurantes Americanos, como o T.G.I Friday’s não faltam em Estocolmo, onde os pratos de carne, com grandes bifes, não podem faltar. Os Suecos são grandes consumidores de carne, muita dela provém da Argentina, mas também de café, do qual são tidos como os maiores consumidores do Mundo. O álcool na Suécia é muito caro, mas é engraçado que à mesa a cerveja é servida em garrafas de 1 litro!
Visitando as nossas lojas do IKEA é possível adquirir no seu supermercado diversos produtos alimentares de origem Sueca ou no seu restaurante consumir alguns pratos.
Obviamente que quem visita um país desta parte do Mundo não tem grandes expetativas gastronómicas, mas visitar o Bar do gelo em Estocolmo e naquele ambiente tomar uma bebida é uma experiência única. Este é mesmo um verdadeiro bar de gelo! Ali o gelo é translúcido e incolor, pois provém da natureza, do Norte da Suécia, transportado em blocos como de cimento se tratasse, e depois colocado ali como tijolos, uns por cima dos outros. Não se trata de gelo fabricado em máquinas frigoríficas industriais, pois esse é branco e opaco.
FINLÂNDIA
O país é grande e a minha estada nem 24 horas foi. Gastronomia Finlandesa tem certamente muito que se lhe diga, sobretudo as salsichas de rena que eles consomem no norte do país perto do Círculo Polar Ártico. A Helsínquia, que fica no sul, resumiu-se a minha curta passagem pela Finlândia, a cidade não justifica uma estada muito superior à que fiz, pois além de ser muito cara não nos encanta pela beleza. À chegada, já de noite, donner foi a minha refeição. Dado o Sueco também ser língua oficial em Helsínquia, por lá é possível encontrar nos restaurantes o smörgåsbord, sendo o mesmo também consumido a bordo dos ferries que fazem a travessia para Tallin.
Chamou-me atenção nas ruas, as bancas de venda de peixe, onde o salmão naturalmente sobressai. E os preços também…
O álcool na Finlândia ainda deve ser mais caro que na Suécia, uma garrafa de whisky novo, em 2012, no aeroporto, custava 45€, mas é recorrente vermos pessoas a adormecer nos bares e restaurantes com uma caneca de cerveja na frente!
TURQUIA
A gastronomia do Médio Oriente também faz parte do panorama gastronómico Europeu. Em Istambul a cidade onde a Europa encontra a Ásia, somos encantados com magia sensorial e o nosso paladar também é cúmplice neste ritual. As especiarias saltam de um bazar gigantesco, o Bazar das especiarias, para os pratos dos restaurantes. A comida Turca que provei por lá, já era sobejamente conhecida para mim, os kebabs e as espetadas de carne, chamadas de brochetas, com pita (pão turco) e arroz, é deliciosa e os baclavas chamados de delícias Turcas (Turkish delight), a que a letra da música “Istanbul not Constantinople” refere “now it’s Turkish delight on a moonlit night” acabadinhas de fazer são super doces, suculentas e tenrinhas. A comida Turca existe um pouco por toda a Europa, sobretudo na Alemanha, assim como os doces, mas ali tem de facto o seu supremo sabor. A sopa tradicional, considerada a rainha de todas as sopas, que tive oportunidade de provar, a mercimek çorbas, conhecida como sopa de lentilhas que é tradicionalmente praparada com lentilhas vermelhas, cebolas, tomates, pimentos, tomate e hortelã seca. Istambul, foi a cidade em todo o Mundo onde encontrei restaurantes mais baratos que em Lisboa, mas longe da Praça Taksim. Nessa zona a comida em regime self service, tanto para locais (business lunch) como para turistas, abunda, sendo mais caro, mesmo assim, é uma forma também de rentabilizar o tempo a caminho de outras paragens.
A romã, é um souvenir que quem visita a Turquia deve trazer. Traz felicidade e dinheiro! De acordo com a Bíblia, as romãs foram trazidas por espiões enviados à Terra Prometida, após os Judeus abandonarem o Egipto, como amostra de fertilidade. Além disso, o fruto estaria presente nos jardins do Rei Salomão e em Roma era usada em cultos e cerimónias. Os povos Árabes salientavam os poderes medicinais dos seus frutos e como alimento. Beber sumo de romã, ali acabadas de espremer, é típico nas ruas de Istanbul e nenhum turista fica indiferente.
Um dia que voltar a esta megalópole Euro Asiática terei de ir a um dos restaurantes da Ponte de Gálata, um dos locais onde o pôr do sol nos encanta como em poucos lugares, provar as famosas cavalas. Além de obviamente de provar tanta coisa que ficou por conhecer…
Na Turquia, o chá também é tradicional, servido em recipientes típicos e também feito num samovar, diferentes dos samovares Russos, sendo também um dos souvenirs deste país. É um regalo beber um chá na esplanada do balcão do Palácio Topkapi, com vista para o Bósforo e para os dois continentes (Europa e Ásia) e é uma das coisas únicas que se podem fazer no Mundo!
Ao falar da Turquia à minha cabeça vem logo a ideia do “O Expresso da meia noite”, o filme da minha vida! Uma das cenas marcantes, quando o Americano na prisão descobre através de outros presos, que lhe explicam que o que fez, traficar haxixe e ser apanhado no aeroporto em flagrante, é um crime gravíssimo e que iria passar muitos anos a comer feijão antes de voltar a comer um hamburger. Possivelmente numa prisão Turca não se deve comer bem, pois a comida Turca é deliciosa, mas certamente uma infame prisão como aquela não é o sítio indicado para viver na Turquia!!!! Outra cena, o Americano quando o pai o visita na prisão, e lhe explica que a comida Turca é ruim, que ele foi logo a correr para a casa de banho que a partir disso iria somente comer no hotel. Como eu compreendo essa ruindade! Erei explicar melhor quando escrever sobre as comidas no Continente Asiático e a sua relação direta com corridas às casas de banho…Afinal Istambul também fica na Asia, mas por acaso, só comi no lado Europeu!!!!!
GRÉCIA
Em pleno Outono de 2019, vi-me Grego por 4 dias, mas não me vi Grego para comer bem! A gastronomia deste país tem parecenças com a Italiana, a dos Balcãs e a do Médio Oriente. Obviamente razões hitóricas e geográficas. O Império Grego ocupou o espaço que atualmente pertence a esses países.
A Grécia é um paraíso vinícola e gastronómico. Jamais esquecerei os nomes de mussaka, o prato nacional, semelhante à lasanha Italiana, a massa é feita de batata, originalmente entremeada com carne de carneiro, berinjelas e tomate, sempre condimentado com azeite, cebola, ervas e fortemente temperado com pimenta ou malagueta; de souvlaki, espetadas de carne e vegetais, temperadas com diversas especiarias, podendo ser comidas enroladas no pita; de gyros, o nome significa “girar”, é semelhante ao kebab turco mas com diferentes temperos, ou de kleftiko, borrego cozinhado em papel de pergaminho. Existem também guisados com carne de búfalo e petiscos com queijo feta, o tal usado na salada Grega.
Quanto à doçaria, o que dizer do gelado de iogurte Grego com nozes e mel? Os doces são semelhantes às delícias Turcas, os baklavas por exemplo cuja origem é disputada por vários povos do Médio Oriente, Gregos incluídos. Por cá, a cadeia de supermercados LIDL, regularmente vende produtos de origem Grega, incluindo doces e gelados de iogurte com mel e nozes. Crepes Gregos, doces, também existem como sobremesa.
De todos os vinhos, destaco o vinsanto, que é feito com uvas secas, com que os padres usam nas missas, e o uzo, a bebida Nacional que não convém abusar…Trata-se de uma bebida destilada com base no anis, transparente e incolor, mas fica com aspeto leitoso quando é misturada com gelo ou água. Rakija também se bebe por lá. Normal, os Balcãs ficam local ali ao lado…
Quanto à cerveja, Mythos e Volkan foram as que provei. Vinho Grego podem provar logo na viagem para Atenas, caso optem pela Aegean, peçam uma garrafinha de vinho Grego, branco ou tinto, com a vossa refeição e desfrutem do mesmo a 10 mil metros de altitude e 900km/h de velocidade!
MALTA
A gastronomia Maltesa é excelente! Tem influências dos vários povos que ao longo dos séculos invadiram este arquipélago: Sabores Muçulmanos, Britânicos, Italianos, entre outros, fazem sentir-se no palato, muitas vezes combinados entre si, mas também é possível provar especialidades internacionais, nomeadamente Turcas, Americanas, dos Balcãs ou mesmo do Reino Unido, ao qual Malta pertenceu até 1964.
O English breakfast é uma das especialidades Britânicas além do fish and chips, fast food composto por peixe frito com batata frita, que pelas nas ruas de Londres e de outras cidades Britânicas, abunda. Desta vez iniciei-me no pequeno almoço, pela primeira vez na vida pedi um English breakfast, aproveitando o facto de ter de tomar o pequeno almoço fora, pois não estava incluído na minha tarifa de alojamento. English breakfast e continental breakfast são das primeiras frases que aprendemos na escola quando nos iniciamos nos estudos da língua de Shakespeare! English breakfast, ao despertar, já tentei e não consigo comer, mas depois de umas horas acordado e de me movimentar para outros locais mais distantes, de Pembroke para Valeta por exemplo, à chegada, já sabe muito bem e alimenta para longas horas. Quanto ao fish and chips não simpatizo…
Em Gozo as especialidades de rosticeria Siciliana abundam. Visitando a cidade de Victoria, capital desta ilha, sentimo-nos na Sicíla, mesmo que nunca lá tenhamos ido, não só, mas também devido aos inúmeros restaurantes Sicilianos lá existentes e à grande parte dos habitantes que falam Italiano!
Comida Turca consumi em abundância em Malta, deliciosos grelhados mistos de carnes com muitos temperos tradicionais. O filme da minha vida, “O Expresso da meia noite” foi rodado em Malta, apesar da ação se realizar na Turquia, e foi um regalo jantar no Mercado Central de Valeta, comida Turca, no local onde cenas do filme foram feitas, como se do Grande Bazar de Istambul se tratasse!
Em Malta, obviamente consome-se peixe, mas o fenek, assim se chama o coelho, é rei, pois consta-se existirem por lá, mais de 100 pratos! Além dos guisados de coelho, os de żiemel (carne de cavalo) também estão presentes em força. Duas carnes que não consigo comer! As tais por “motivos ideológicos” como eu costumo dizer… O pastizzi e o qassatat, dois tipos de folhados típicos, recheados com queijo ricota, legumes ou frango, são ideais para uma pausa ao lanche. Pratos tipicamente Malteses, experimentei o bragjoli, um guisado de bifes enrolados e recheados, e o polvo Maltês que por lá se chama qarnita, tal como coelho ou cavalo, são pratos cozinhados de várias formas e carregados de aromas exóticos, notando-se a influência Árabe.
A marca de cerveja mais famosa é a CISK fabricada pelo grupo Farson, e também existem vinhos Malteses.
Dos diversos países Europeus que visitei, além da Finlândia que refiro em cima, nada típico provei, na Suiça tirando os chocolates Suiços que comprei no aeroporto e no Luxemburgo. Também no Liechtenstein, nada típico provei. Suiça e Liechtenstein destacam-se pelo exorbitante preço da alimentação, onde um donner no prato custa cerca de 25€, mas fica a promessa de um dia provar o famoso fondue de queijo.
Em Andorra, no Natal de 2003, provei excelentes costoletas de novilho, na altura devido às “vacas loucas” não se vendiam em Espanha e eram “desviadas” para o Principado! Obviamente do Vaticano e do Mónaco desconheço a gastronomia (se é que existe no primeiro…) pois foram dois países onde não comi sequer!
Anseio imenso conhecer a gastronomia da Geórgia, neste momento está entre as 6 que mais quero provar “in loco”. As outras 5 são a do México, a da Namíbia, a de Moçambique, a de África do Sul e a da Coreia do Sul.
PORTUGAL
Obviamente não poderia deixar de referir a gastronomia do meu país. Para mim e para muitos, nomeadamente quem o visita, é a melhor do Mundo! Não pretendo influenciar ninguém mas visitem Portugal e tirem as vossas conclusões.
O peixe da nossa costa é sem dúvida o melhor do Mundo. Em consumo de peixe só os nipónicos nos superam! Peixe proveniente da Costa Oceânica, portanto de águas frias, o que justifica o seu sabor e a sua qualidade. Porém o nosso peixe, tirando aquele que é exportado para o Japão, o atum, é adequado ao consumo interno e não à exportação. Diferente das espécies de grande porte que vivem nas águas que banham os países nórdicos, onde o salmão e o bacalhau são reis. Bacalhau também é rei na mesa dos portugueses, os maiores consumidores do Mundo, havendo dezenas de formas de o preparar. Pratos de bacalhau há imensos. A sardinha assada, é rainha sendo consumida em grande escala no Verão. É o meu prato predileto. Também a um bom arroz de tamboril, não resisto. Com picante! Tal como o sável frito com açorda de ovas, em Vila Franca de Xira em março, ou mesmo as enguias em Alcochete todo o ano, e claro, o choco frito em Setúbal.
Em relação às carnes, o cozido à Portuguesa e a feijoada, sobretudo no Inverno são do melhor para aconchegar o estômago. Na Madeira a espetada de carne é um must, tal como a Francesinha no Porto, obrigatório para quem visita essas regiões. E tanto mais haveria para dizer…
Vinhos portugueses, também são dos melhores do mundo, verdes ou maduros, brancos ou tintos, apesar da sua fama não ser idêntica aos seus congéneres franceses, Italianos ou mesmo Espanhóis, não sendo fácil encontrá-los em lojas da especialidade pelo mundo fora. Mas o vinho do Porto é internacionalmente famoso! Um vinho licoroso tal como o Moscatel de Setúbal.
Quanto à doçaria, ela é interminável, desde o Pastel de Belém, internacionalmente famoso na sua versão de pastel de nata, os ovos moles de Aveiro ou mesmo os doces finos do Algarve. O Algarve também produz as melhores laranjas do mundo!