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5 Jun

UM GRANDE FIM DE SEMANA PELA PAMPILHOSA DA SERRA

 

Pampilhosa da Serra, Walking weekend 2022, um grande fim de semana

Texto & Fotos de Mário Menezes

 

Devo estar destinado a conhecer o meu país à entrada dos meses de Junho. Depois do ciclo das viagens de aniversário que iniciei em 2005 e interrompi em 2021, ter entrado na “era” das pequenas escapadelas a cidades Europeias em 2010, e das viagens no Outono “à maneira Maltesa” e “também profundamente Maltesa”, em 2021, é com enorme satisfação que dedico também crónicas de viagens profundamente Portuguesas a todos os amantes de viagens.

 

Já visitei mais de 50 países estrangeiros e em Portugal há tantos recantos que não conheço. O concelho de Pampilhosa da Serra que pela primeira vez visitei no último fim de semana de Maio de 2022, é um desses recantos (leia-se, encantos) do nosso Portugal profundo e maravilhoso. Exatamente há um ano atrás, dizia o mesmo de Trás os Montes. Em 2009 por esta altura fui passar 4 dias na Ilha da Madeira, por recantos onde regressei quase 22 anos depois.

A pequena vila de Pampilhosa da Serra é uma das 8 freguesias do Município, que possui uma área de 396,46 Km2, portanto cerca de 4 vezes a área da cidade de Lisboa. A vila possui pouco mais de mil habitantes, pertence ao distrito de Coimbra, encontrando-se já na província da Beira Baixa. É banhada pelo Rio Unhais, um dos afluentes do Rio Zêzere (que é afluente do Rio Tejo), possuindo nas suas margens, desde 2010 uma praia fluvial com utilização sazonal condicionada pelo fecho de um açude, o que ocorre em Junho. O concelho é sobretudo rural e montanhoso, sendo as suas áreas florestais utilizadas para instalação de torres eólicas para produção de energia elétrica, que em conjunto com as barragens (centrais hidroelétricas) contribuem para que a eletricidade consumida seja oriunda apenas de energias renováveis, tornando a Pampilhosa da Serra um “concelho verde”.

A Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra encontra-se entre as que apresentam melhor saúde financeira, pagando em poucos dias aos fornecedores, e também é considerada como das que melhores condições de trabalho proporcionam aos seus funcionários. O seu departamento de turismo, possui colaboradores de excelência e são uns enormes embaixadores da vila e da região. Foi um enorme prazer ter convivido com eles.

 

O concelho da Pampilhosa da Serra encontra-se na rota das Aldeias do Xisto, contribuindo com duas para a lista: A Aldeia do Xisto de Fajão e Aldeia do Xisto de Janeiro de Baixo.

 

Pampilhosa da Serra e Pedrógão Grande são concelhos vizinhos, pelo que recordar os incêndios de 2017 que causaram inúmeros danos, materiais e humanos, nunca é demais. Sobretudo para que coisas dessas não se repitam!

 

Pampilhosa da Serra

 

Pampilhosa da Serra, Monumento aos Bombeiros

 

Pampilhosa da Serra, Monumento ao Emigrante

 

Pampilhosa da Serra, Igreja Matriz

 

Pampilhosa da Serra , Câmara Municipal

 

Pampilhosa da Serra

 

Pampilhosa da Serra

 

O turismo obviamente é uma aposta fortíssima do Município, levando a cabo anualmente a “Walking weekend”, um festival de caminhadas, tido como o melhor a nível nacional, que oferece passeios pedestres por vários pontos do concelho, diversas atividades lúdicas e desportivas e o melhor da gastronomia (leram bem, o melhor!!!). Condicionado pelas festividades clubísticas que nos últimos anos me têm ocupado o mês de Maio, pois sou um ferrenho adepto do Benfica, tradicionalmente o mês dos jogos do título e as romarias ao Marquês de Pombal, e também devido à pandemia, a visita à Pampilhosa da Serra na altura da “Walking weekend” foi sendo adiada. Não me recordo ao certo como tive conhecimento deste festival, julgo que pela internet pois além dos “Amantes de viagens” sigo outro blog, “O nosso olhar do Mundo”, do meu amigo Vítor Martins, um grande viajante, ainda maior que eu, proprietário da Ótica Maxivisão em Vila Nova de Poiares, empresa muito vocacionado para causas sociais em vários países do Mundo. Também visito anualmente a BTL-Bolsa de Turismo de Lisboa onde o Município da Pampilhosa da Serra se faz representar fortemente. Foi a primeira vez que participei em caminhadas e posso afirmar que fiquei a gostar!

 

Cartaz do evento Walking weekend 2022

 

Deslocarmo-nos à Pampilhosa da Serra para participar na “Walking Weekend” é garantia de um fim de semana inesquecível e memorável, de pura diversão, cultura, atividade física, passeios e boa comida.

 

Das diversas caminhadas que nos é possível inscrever, escolhi uma com cerca de 10 Km para o primeiro dia (Sábado), o Caminho do Xisto da Barragem de Santa Luzia, e outra com cerca de 5Km, para o segundo dia. Caminhadas que são acompanhadas por guias, experientes e conhecedores da natureza, pertencentes aos quadros do Departamento de turismo da Câmara Municipal e também à empresa organizadora de eventos “Epic land”, um dos patrocinadores.

 

Caminho do Xisto da Barragem de Santa Luzia, Vidual de cima

 

Caminho do Xisto da Barragem de Santa Luzia, Vidual de cima

 

O Sábado teve início pela manhã junto ao Mercado Municipal, onde na noite anterior nos foi servido um cocktail de boas vindas pela organização, e daí seguimos de autocarro em direção à Barragem de Santa Luzia. A mesma foi inaugurada em 1942, mas a sua construção demorou 11 anos, sendo a obra levada a cabo pela Companhia Eléctrica das Beiras. Localizada na freguesia de Fajão-Vidual, no Rio Unhais, sendo muitíssimo mais pequena do que as que visitei em outras paragens, em 2020 no Paraguai e mais recentemente no Alqueva mas não deixa de ser interessante, sobretudo pelas atividades que proporciona e pela sua envolvente natural. A sua bacia hidrográfica tem superfície de 50 km2, recebendo também água da Barragem do Alto Ceira, canalizada através de um túnel de derivação com cerca de 7 km de comprimento. Com a abertura da época balnear, a sua praia fluvial é certamente um regalo!

 

Caminho do Xisto da Barragem de Santa Luzia, paisagens

 

Caminho do Xisto da Barragem de Santa Luzia, paisagens

 

Saímos da Praia fluvial de Santa Luzia, localizada em Casal da Lapa, atravessando o paredão da barragem, para a outra margem, é possível ver bem ao fundo a Serra da Estrela. A caminhada seguiu durante cerca de 4 horas, por trilhos e mato, com paisagens deslumbrantes. Destaca-se no percurso a passagem, após subirmos, pelo Vidual de Cima, local que nos proporciona vistas panorâmicas maravilhosas. Descendo, encontramos as ruínas de um antigo lagar de azeite e o Poço do Caldeirão, com as suas águas cristalinas, uma pequena cascata onde nos podemos banhar.  Regressamos novamente para junto das margens da albufeira, caminhando junto à água, atravessamos o paredão e chegamos ao ponto de partida para um almoço fausto e reconfortante!

 

Caminho do Xisto da Barragem de Santa Luzia, Poço do Caldeirão

 

Caminho do Xisto da Barragem de Santa Luzia, paisagens

 

A tarde foi passada próximo da Barragem do Cabril, em Vilar da Amoreira, na sua praia fluvial nas margens do Rio Zêzere. A Barragem do Cabril é uma das maiores barragens Portuguesas, originando por isso uma das maiores reservas de água doce do nosso país. O local é muito procurado para atividades náuticas, e obviamente para relaxar e respirar ar puro, pois a envolvente é rodeada de pinheiros bravos, eucaliptos, acácias e oliveiras, constituindo a maior mancha florestal da Europa. Após fazer a digestão do fausto almoço não resisti a banhar-me naquelas águas, agora com muito menos profundidade devido à seca que este ano tem assolado o nosso país e que inclusivamente fez aparecer uma aldeia submersa há mais de 60 anos, a Aldeia do Vilar. Após um lanche reconfortante no bar da praia, com porco no espeto, caia a noite, e a hora do jantar. Servido mesmo ali ao lado! Ainda a tempo de ver a 2ª parte da final da Champions (este ano começou com atraso de 30 minutos…) no bar da praia. A noite terminou quase de madrugada, com uma subida de balão de ar quente, deu para sentir as emoções do que poderá ser um voo numa máquina voadora deste género, para um dia que regresse à Turquia visitar a região da Capadócia, famosa pelos voos em balão.

 

Vilar da Amoreira, jantar

 

Vilar da Amoreira, subida em balão de ar quente

 

Vilar da Amoreira, subida em balão de ar quente

 

Para a manhã do dia seguinte tinha planeado fazer a caminhada dos 18 Km, a Rota do Rio Unhais. Esta rota, também se inicia na Praia fluvial de Santa Luzia, depois desenvolve-se junto ao leito do Rio Unhais, terminando na vila de Pampilhosa da Serra, proporcionando paisagens sublimes ao longo do percurso. Acabei por desistir dessa ideia e optar por algo mais leve. Foi pena quando me inscrevi, e fi-lo com bastante antecedência, não ter optado por uma das caminhadas aquáticas, aquela que se iniciava no Poço do Caldeirão e incluía saltos para a água, passagens por tobogãs e rappel. Acabei por fazer o percurso interpretativo “Aldeia das Cabras, do Mel e do Medronho” com 4km mas muitíssimo interessante. A manhã, desta vez começou fresca e nebulosa, teve o mesmo ponto de partida, junto ao Mercado Municipal, de onde seguimos de autocarro até perto do Soeirinho, no início da CM1416, de onde iniciamos a caminhada até Moradias. O nevoeiro foi nossa companhia no início da caminhada, junto das torres eólicas que só eram visíveis ao perto. Alguns quilómetros mais à frente, o nevoeiro ia levantando e a temperatura ia subindo, e já se avistava ao longe a vila da Pampilhosa da Serra. A caminhada contou com a participação de um apicultor experiente, mas a minha fobia de abelhas impediu-me de visitar um apiário, pelo que fiquei só pelas plantações dos medronheiros e pelas cabras. Também não houve muitos corajosos a visitar o apiário, mas nas cabras estávamos lá todos! À semelhança de paragens mais longínquas, na Índia onde tirei selfies com vacas, e com cervos no Japão onde incluo uma das suas ilhas, que é sagrada, em Moradias, não resisti a fazer o mesmo com as cabras! Estes animais, em comum têm uma coisa, são dóceis e inofensivos, mas mesmo assim não tenciono tornar-me veggie! A Aldeia das Cabras, onde terminamos a caminhada, é um projeto que nasceu após os fogos de outubro de 2017, que reativa a caprinocultura, numa lógica comunitária, garantindo a sua valorização económica e a valia ambiental pela manutenção florestal em contexto de pastoreio. Fomos por lá muito bem recebidos, tivemos a honra de provar algumas iguarias típicas da região, as filhós acabadinhas de fritar, o mel de urze e o medronho! E daqui, seguimos diretos no autocarro até à Praia Fluvial da Pampilhosa da Serra, onde com um belo churrasco serrano demos por encerrado este excelente fim de semana.

 

percurso interpretativo “Aldeia das Cabras, do Mel e do Medronho”, pastagem de cabras e ovelhas

 

percurso interpretativo “Aldeia das Cabras, do Mel e do Medronho”, pastagem de cabras e ovelhas

 

percurso interpretativo “Aldeia das Cabras, do Mel e do Medronho”, Aldeia das cabras

 

percurso interpretativo “Aldeia das Cabras, do Mel e do Medronho”, Aldeia das cabras

 

percurso interpretativo “Aldeia das Cabras, do Mel e do Medronho”, Aldeia das cabras

 

percurso interpretativo “Aldeia das Cabras, do Mel e do Medronho”, Aldeia das cabras

 

Nesta região, de todas as deliciosas iguarias que provei, e que referi anteriormente, destaca-se a chanfana, os maranhos e a tigelada.

 

Praia fluvial de Santa Luzia

 

Praia fluvial de Santa Luzia

 

Pampilhosa da Serra, praia fluvial, churrasco serrano

 

Pampilhosa da Serra, praia fluvial, churrasco serrano

 

Porco no espeto

 

A chanfana é um prato de origem popular tradicional, feita à base de carne de cabra, já velha, assada dentro de caçarolas de barro preto em fornos a lenha, mergulhada em vinho tinto, alho, folhas de louro, pimenta, colorau e sal.

 

Chanfana

 

Os maranhos consistem em pequenos sacos feitos de bucho de cabra, recheados com carne de cabra, presunto e arroz, temperados com hortelã, colorau e salsa, entre outros temperos, tudo regado em vinho branco. Depois de cosidos (atenção que é com “s”) os saquinhos são cozidos (com ” z”) em água.

 

Maranhos

 

A tigelada é um doce tradicional, feito num tacho de barro vidrado, onde são bem batidos ovos, açúcar e casca de limão, juntando-se depois o leite. Retira-se a casca de limão e o tacho vai para o forno de lenha bem quente. Retirado do forno, o tacho é colocado na mesa, sendo a tigelada cortada em fatias diretamente para os pratos. Não leva canela.

 

Tigelada

 

Filhós

 

Na Pampilhosa da Serra passei um fim de semana para sempre recordar. Não sei se pelas caminhadas, pelas paisagens ou pela comida. E eu que sou um grande comilão só posso dizer: mas que bem se come por lá! Até mesmo o churrasco serrano, ao contrário de muitos churrascos que tenho ido, a carne era suculenta e deliciosa e o arroz de feijão era ao nível do que servem no Zé dos Cornos em Lisboa.

 

Também comi, pela primeira vez, punheta (de bacalhau..) e no caminho, passei com o meu carro, pela Picha e pela Venda da Gaita!

 

Pampilhosa da Serra, praia fluvial, churrasco serrano, carne grelhada e batata frita

 

Pampilhosa da Serra, praia fluvial, churrasco serrano, arroz de feijão

 

Punheta de bacalhau e bacalhau com broa

 

Viajantes, já sabem, para o ano ponham na vossa agenda, Walking weekend na Pampilhosa da Serra!

 

Medronho (aguardente) e licor de medronho

 

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