San Marino, micro mas surpreendente encantador!
Texto & Fotos de Mário Menezes
Confesso que foi com um objetivo caprichoso que me propus visitar San Marino, o de contar com 60 países visitados, incluindo Portugal, até final do ano de 2023.
A lista já contava com Liechtenstein, Mónaco, Luxemburgo, Malta, Andorra e Vaticano, os chamados de microestados da Europa. Todos merecem uma visita.
À semelhança do Vaticano, San Marino é um dos enclaves dentro da Itália. O Vaticano, o outro enclave, embora mais pequeno, é certamente bem mais visitado, sobretudo pelos seus museus e monumentos, mas San Marino, é também um local encantador que superou largamente as minhas expectativas.
O nome de San Marino, na minha geração, é associado aos Jogos Sem Fronteiras, que nos saudosos anos 80, víamos passar na RTP. Eram tempos em que só existiam dois canais e ter uma televisão a cores era um luxo. Muitos de nós pensávamos tratar-se de cidade italiana qualquer…
A República de San Marino localiza-se no Monte Titano, a cerca de 15 km da Costa Adriática, possuindo uma área com cerca de 61 km² e uma população com pouco mais de 30 mil habitantes. Aparece em muitos compêndios de história ou geografia como o país mais antigo da Europa, até mesmo como o país mais antigo do Mundo. O conceito de antiguidade de um país é um pouco ambíguo. A data da fundação desta República, que o Guiness book of records considera como a mais antiga do Mundo, é 3 de setembro de 301. O seu nome é derivado de São Marinho, San Marino em Italiano, como era conhecido antes da sua santificação, tinha origem romana e foi canteiro, quer isso dizer, dedicava-se à construção em blocos de rocha. Num período da sua vida, decidiu abandonar as suas atividades tornando-se eremita, tendo-se isolado no Monte Titano, onde nesse mesmo ano construiu a capela e o mosteiro, expandindo o país ao seu redor. Durante esse período, havia muitos rumores sobre feitos milagrosos realizados por ele, motivo que levou à sua santificação.
Algumas fontes indicam que a ida de Marino até o Monte Titano foi solitária, enquanto outras descrevem que Marino e outros cristãos foram perseguidos pelos Romanos e se refugiaram naquele local. Os primeiros registos a respeito de San Marino e da sua construção apareceram entre os séculos IX e XIII. Graças à sua localização geográfica, no Monte Titano, formou-se uma comuna relativamente isolada, por isso conseguiu manter a sua independência, apesar das tentativas de domínio de outros povos, e mesmo durante os períodos mais turbulentos da história da Itália e da Europa. A área também contava com a proteção da família Montefeltro, que governava as comunas de Gubbio e Urbino, na vizinha Itália. Foi no século XV que San Marino se tornou uma República e passou a ser governado por um Grande Conselho. A neutralidade durante as Guerras Mundiais não poupou San Marino da ocupação pelos alemães e pelos Aliados, que os derrotaram numa batalha no ano de 1944, ano em que ocorreu um bombardeamento no país pela Força Aérea Real (Britânica), consequência dessa ocupação alemã. Em 1988 San Marino passou a integrar o Conselho da Europa e, quatro anos mais tarde, tornou-se oficialmente parte da Organização das Nações Unidas.
Passar um dia em San Marino, da forma que o fiz, ou seja, viajando em transportes públicos, foi sobretudo visitar a sua capital, a Cidade de San Marino, no alto do Monte Titano, onde se acede normalmente desde Rimini, a mais conhecida estância balnear italiana. Lá ao alto, o seu o centro histórico, onde junto a uma das entradas, a Porta de São Francisco, termina a marcha do autocarro que nos transporta desde essa cidade italiana. De teleférico, desde Piazzale Campo della Fiera, localizado junto da estrada de acesso pela montanha, a Via Eugippo, no “Funivia di San Marino“, subimos até Il Cantoni, junto do Monumento a Bartolomeo Borghesi, um historiador Italiano que muito contribuiu para o avanço da Numismática, tendo vivido em San Marino, onde morreu em 1860 e estando por isso nas moedas de 2€, do ano 2004 do país (se conseguirem encontrar alguma, vale bem mais que isso…)
A Cidade de San Marino, uma cidade amuralhada, contém três fortificações localizadas cada uma num cume: a Torre Guaita, a mais antiga, a Torre Cesta, localizada no cume mais alto e a Torre Montale, localizada no cume mais baixo. São os principais símbolos do país estando inclusivamente desenhados na sua bandeira nacional. Caminhando desde o centro histórico, através de passadiços e trilhos acedemos a ambas, de onde desfrutamos de vistas soberbas sobre os territórios destes dois países, Costa Adriática incluída. O centro histórico é composto por diversas ruas íngremes, empedradas onde quase não circulam automóveis, e contêm o principal que este pequeno microestado tem para oferecer. Caminhando por aquelas ruas facilmente encontramos a Cassa di Risparmio que sobressai no nosso passeio. Trata-se da instituição de crédito mais antiga de San Marino, obviamente o setor bancário, ao qual associamos os paraísos fiscais, é impossível não referirmos quando falamos nestes microestados. Em San Marino, além desses capitais, a Religião Católica também tem forte presença, sendo a Basílica de São Marino a principal igreja, e a Igreja de São Pedro que é adjacente à mesma serem locais de visita obrigatória, ali nas proximidades do Jardim Panorâmico.
Adquirindo o “San Marino Musei Pass” podemos durante todo o dia explorar os mais importantes locais, por um preço extremamente acessível para tamanha dose cultural! Além das torres, existindo no interior da Torre Guaita uma exposição de artefatos militares, destaca-se a visita ao “Palazzo Pubblico“, o edifício oficial do Governo. A sua arquitetura é semelhante ao Palazzo Vecchio de Florença. No interior destacam-se, além de diversas salas de atos oficiais, a sala do “Consiglio Grande e Generale”, ou seja, o Parlamento. Na mesma, pode ser observada a pintura de Emilio Retrosi onde São Marinho aparece ao seu povo…afinal aparições não são só em Fátima! O Palazzo Pubblico encontra-se numa praça, a Piazza della Libertà, com a Estátua de São Marinho no seu centro, e na proximidade de diversos edifícios governamentais. Ali encontramos também o Museu Nacional de San Marino que é obrigatório visitar. Inaugurado em 1899, possui um acervo com quase 5 mil peças, muitas delas provenientes de doações de muitas partes do Mundo. Pinturas e objetos relacionados com a história deste microestado, e achados arqueológicos desde o período Neolítico ao início da Idade Média. O Museu de Selos e Moedas é um outro museu que incluímos na visita. Trata-se de um museu dedicado à Filatelia e à Numismática, como vimos é uma área das ciências que teve forte relação com San Marino. Por último, a Igreja de São Francisco com a sua galeria de arte.
Condicionado pelo horário do autocarro de regresso a Rimini, onde fiquei alojado dei por concluída a minha visita, ainda com tempo para provar uma especialidade local: a piadina romagnola, oriunda também da região fronteiriça Italiana de Emilia-Romagna, um “wrap”, portanto uma massa fina de pão branco, que era tradicionalmente cozida num prato de terracota, chamado “teggia” ou “testo” na língua local, atualmente é utilizado o grelhador elétrico, servido fechado e recheado com queijo, vegetais, presunto, por exemplo. Poderão ir ao Giulietti Km0, junto da Porta de São Francisco.
Viajar desde Portugal
Visitei Rimini numa escapadela de 4 dias a Itália, que incluiu também Milão, Peschiera del Garda, Verona e Rimini. Foi desta última que visitei num bate volta San Marino, de autocarro.
San Marino não possui aeroporto internacional, sendo necessário voar para Bolonha, o mais próximo, servido pela Ryanair, Milão Malpensa servido pela Easyjet ou Milão Bergamo servido pela Ryanair, ambos com voos diretos desde Lisboa.
Desde o centro de Milão ou do de Bolonha é possível aceder a Rimini de comboio, através da Trenitalia, existindo o Frecciarossa, um serviço de alta velocidade. Com antecedência é possível adquirir bilhetes com preços muito interessantes. O sistema de bilhética está bastante desenvolvido, instalando a app no smartphone adquirem-se bilhetes para todos os tipos de comboios.
Transporte entre Rimini e San Marino
A empresa Bonelli bus efetua este serviço. O motorista não vende bilhetes, o serviço de venda online não funcionou, pelo que tive de adquirir o bilhete (ida e volta com horário marcado) numa tabacaria próxima da paragem de partida.
Alojamento
Rimini é um dos locais de grande afluxo turístico mais próximos de San Marino. Trata-se de um local de enorme romaria no Verão, pelo que em época baixa (viajei no início de novembro de 2023) o número de visitantes decresce consideravelmente, logo conseguem-se preços de alojamento muito em conta.
Posso recomendar o Hotel Europa. Possui quartos razoáveis, boa localização, pequeno-almoço tipo buffet e staff muito atencioso nomeadamente quem gere esta parte das refeições, sobretudo por facilitarem a vida a quem tem de viajar cedo.
Para alojamento em San Marino, consulte aqui.
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