Nantes, a cidade de Júlio Verne com “cheirinho” a Vale do Loire
Texto & Fotos de Mário Menezes
É caso para dizer “Vive la France”!
Depois de Marselha em 2016, Lyon e a Côte d´Azur em 2017, Toulouse e Bordéus em 2018, finalmente voltaram à minha rotina as pequenas escapadelas “à grande e à Francesa”. Faço votos que tenham voltado para ficar! Assim a minha saúde física, mental e financeira me permitam usufruir destes momentos maravilhosos que viajar proporciona. Seja para França ou para outros países onde as companhias aéreas “low cost” nos transportem ao preço da “uva mijona”!
Uma viagem marcada na antevéspera do Natal de 2019 quando a Pandemia que ainda vivemos era quase uma utopia. Pelo preço “simbólico” de 30,29€, ida e volta na Easyjet, seria uma escapadela de dois dias a Nantes, para Junho de 2020. Foi por duas vezes adiada, ficando com data final o fim de semana prolongado do Dia de Todos os Santos de 2021. Tal como a viagem que fiz para Malta no início do mês de Outubro de 2021, as alterações forçadas pelo mesmo motivo da Pandemia, foram um “mal que acabou por vir por bem”. Assim na última remarcação, pude escolher regressar dois dias mais tarde e assim pude incluir Rennes e o Monte Saint Michel no roteiro. Nantes deixou de ser somente o destino final, tornou-se também o inicial.
Nantes é a capital da região do “País do Loire”, região que por si só necessita de muitos mais dias para ser explorada. Em excursão ou alugando um automóvel, é a forma de conhecer todos os seus encantos. É um desejo futuro. A cidade em si é pequena, e em um dia e meio, o tempo que lá passei, facilmente se percorrem os seus pontos principais, praticamente caminhando. Para explorar Nantes, existe uma linha verde, circular, marcada no solo ao longo de cerca de 16Km. A mesma percorre todos os principais pontos da cidade. Eu não a percorri a pé na totalidade, mas fui seguindo vários troços da mesma.
A cidade que trouxe ao Mundo Júlio Verne era por esse motivo um dos locais que há muito ansiava visitar.
Júlio Verne nascido em Nantes em 1828, e por lá viveu a sua juventude, foi um escritor cujos romances são lidos em todo o Mundo, traduzidos para várias línguas, e até já foram trazidos para o “Grande ecrã”, adaptados a grandes produções cinematográficas, para séries de televisão, para o teatro e também para mundo da animação. “As 20.000 léguas submarinas” é a sua obra mais famosa. “Michel Strogoff, o correio do Czar”, ambientado à Rússia Czarista, que nos leva até Irkutsk, no coração da Sibéria, é a sua obra mais adaptada ao cinema. Mas qualquer amante de viagens não esquece “A volta ao Mundo em 80 dias”, que, para tristeza e estupefação nossa, nem sequer figura entre as suas obras mais importantes.
Júlio Verne é considerado o inventor da ficção científica. Os seus livros relatam o aparecimento de novos avanços da ciência e da tecnologia, como os submarinos, as máquinas voadoras e as viagens ao Espaço. Coisas inimagináveis à data! Júlio Verne era isso mesmo, um visionário, mas também um grande viajante, porém as viagens que as suas obras relatam, existiam apenas na sua imaginação, apesar de ainda em criança, ser um rebelde, ter fugido de casa e ter tentado viajar para Índia como aprendiz de marinheiro, sendo intercetado pelo seu pai ainda em território Francês. O objetivo do “Julinho” era encontrar sua prima e entregar-lhe um colar de diamantes.
Filho de um conceituado advogado, nunca seguiu as pisadas do pai, apesar de se ter formado em Direito. O Mundo perdeu mais um advogado, mas ganhou um escritor que se “libertou da lei da morte”. Contemporâneo de Alexandre Dumas e Victor Hugo com quem conviveu e foi nessa altura que se catapultou em definitivo para o mundo literário e também para a “alta sociedade” Francesa. E foi a escrita que lhe trouxe os seus altos rendimentos, pois o pai cortou-lhe o financiamento, dado nunca ter aceite a sua escolha pela carreira de artista. Nem sempre os pais têm razão quanto ao destino dos filhos…
Júlio Verne, já com a carreira de escritor consolidada, a bordo dos iates que adquiriu, fruto da fama e fortuna que a carreira artística lhe proporcionou, viajou para Inglaterra, para a Escócia, para a Escandinávia e para os Estados Unidos, tendo no regresso desta última viagem, escrito “As 20.000 léguas submarinas”.
O Museu “Jules Verne” é um local de visita obrigatório. Localizado numa casa construída no final do século XIX perto de uma residência de campo que era propriedade do seu pai, alberga um conjunto de objetos pessoais do escritor, como por exemplo a secretária onde ele escreveu grande parte dos livros. Também podem ser vistos manuscritos, livros e vários cartazes de obras cinematográficas e de peças de teatro levadas a cena em famosos locais, como o Teatro Châtelet de Paris, baseadas nas suas obras, assim como vários modelos de máquinas voadoras e submarinas que tão bem as mesmas descrevem. A visita termina numa varanda com vista para o Rio Loire que banha Nantes e para a Ilha de Nantes, outrora o centro portuário da cidade. Foi de Nantes que partiram os navios Franceses que conquistaram o Mundo, pois a França também foi um país colonizador. Aquela paisagem foi a fonte de inspiração para Júlio Verne escrever tantas coisas que mudaram o Mundo!!!
Visitando a Ilha de Nantes, onde existiam os antigos estaleiros da cidade, desativados desde os anos 80, podemos encontrar o Parque temático “Les Machines de l’Île”. Um conjunto de máquinas que resultam da união das obras de Júlio Verne com as invenções de Leonardo da Vinci, projetadas e adaptadas ao nosso mundo atual. Criaturas que ganham vida de forma artificial, através de diversos sistemas elétricos, mecânicos, pneumáticos e hidráulicos, que podem ser vistas no parque a passear, como por exemplo um elefante. O “Elefante dos Sonhos” um ex-libris de Nantes, é um famoso elefante mecânico com 12m de altura e 40 ton. de peso, feito de madeira e de aço, que se move e pode transportar até 50 pessoas nas suas costas fazendo passeios pelo parque. O elefante desloca-se movimentando as pernas, mexe a cabeça e as orelhas e até emite sons, espirrando água pela tromba.
Destaque também para o “Carrossel do Mundo Marinho” com cerca de 25m de altura e 22m de diâmetro, com 35 criaturas em três níveis, “saídas” das obras de Júlio Verne.
Numa galeria interior, existem outras máquinas também grandiosas, apesar da sua grandeza dimensional ser bem menor, como por exemplo uma aranha mecânica gigante, colocadas a funcionar pelos colaboradores do local e também com a ajuda do público.
À chegada, saindo da estação de comboio mais central, a “Gare Sud”, caminhando paralelamente ao rio em direção ao Museu Júlio Verne, a primeira paragem é o Castelo dos Duques da Bretanha. Nantes é a porta de entrada para explorar a região do Vale do Loire conhecida como o “Jardim de França”, famosa pelos seus inúmeros castelos, sendo este o que se localiza mais próximo do mar. Construído no século XV e classificado edifício histórico desde 1840. É cercado por muralhas, que contrastam com a sua arquitetura exuberante com fachadas em calcário. Das suas muralhas desfruta-se de bonitas vistas, para o interior, sobre o mesmo, e para o exterior, sobre a cidade e sobre o Rio Loire. Pertenceu inicialmente a Francis II da Bretanha, sendo na época residência do duque e sua duquesa Anne. Posteriormente tornou-se uma fortaleza real, passou a ser a sede do governador de Nantes, mais tarde prisão real e, a partir do século XVIII, um quartel. Foi renovado durante 17 anos para restaurar sua estrutura e poder abrigar o museu dedicado à História da cidade.
Percorrendo o caminho até ao Museu Júlio Verne, junto ao rio Loire, encontramos um local bastante sensível. A História da França, como país colonialista, teve a sua face negra: a Escravatura. Nantes foi um dos locais mais importantes da Europa nas rotas marítimas, onde os seres humanos eram transacionados como de qualquer outra mercadoria se tratasse. De África para a Europa, e depois da Europa para o Novo Mundo (América). Dedicar alguns minutos ao “Memorial da Abolição da Escravatura” é um ato que engrandece qualquer viajante. Estas coisas existem para que a História não se repita, mas a Escravatura, não daquela forma legalizada, infelizmente, ainda existe nos tempos que correm!
Continuando a caminhada podemos passar pelo Maillé-Brézé um navio de guerra, um antigo contratorpedeiro fundeado, que não passa despercebido nas margens do Rio Loire.
O Castelo dos Duques da Bretanha é um ponto de partida para explorar as ruas e praças do centro da cidade, charmosas à boa maneira Francesa. Curiosamente, até por lá existe uma Praça do Comércio! Destaca-se a Igreja Notre Dame de Nantes, que recentemente sofreu um incêndio estando de momento em recuperação. O edifício da Câmara Municipal, o Jardim St. Pierre e o Jardim das Flores. A Torre Bretanha, um ex-libris de Nantes, que foi recentemente encerrada para uma reforma profunda por um período estimado de dez anos, mas que ainda há pouco proporcionava belíssimas vistas do seu topo. A Praça Real e as ruas circundantes, que é uma zona de animação noturna, e nos levam até à Praça Graslin onde sobressai o edifício da ópera, o Teatro Graslin mesmo juntinho aos Jardins Cambronne. Nesta zona não esquecer as pomposas galerias comerciais, a “Passage Pommeraye” que desde 1976 são classificadas como monumento histórico.
Nantes também é uma cidade que respira futebol!
O “Football Club de Nantes” é o maior clube da cidade. Os “Canários”, como são chamados, são um clube com pergaminhos, pois contam com oito títulos do Campeonato Francês, sendo em conjunto com o AS Mónaco, o terceiro clube Francês mais vezes campeão nacional. Claude Makélélé, Henri Michel, Maxime Bossis (o tal que falhou o penalty decisivo no Mundial de 1982), Mickaël Landreau foram alguns dos jogadores que por lá brilharam. Mário Silva, Sérgio Oliveira como jogadores e Sérgio Conceição como treinador, foram alguns Portugueses que por lá passaram.
O Estádio de la Beaujoire é a sua casa. Situado na Beaujoire, uma zona verde já na periferia da cidade. Palco de jogos do Euro´84 e do Mundial ́98, com destaque para o enormíssimo jogo do 1/4 final, Brasil-Dinamarca onde a celebração de golo de Brian Laudrup ficou famosa!
Infelizmente neste estádio, não passei da porta e não pude juntá-lo ao rol dos muitos que visitei pelo mundo fora. Aliás, a França é um país onde na maior parte dos estádios de futebol não consigo entrar.
Em relação à gastronomia, a França é o país da alta cozinha, no entanto os preços praticados nos restaurantes afastam os turistas para o fast food! Os “burritos” apesar de serem de origem Mexicana, por Nantes abundam, sendo um dos produtos de fast food de eleição por estas paragens!
Aconselho a provar dois doces locais, o “Gâteau Nantais” que é semelhante ao nosso pão de ló, mas humedecido com rum e limão, e o “Fondant baulois” que é um delicioso bolo de chocolate.
Voos:
A EasyJet tem voos diretos de Lisboa para Nantes. A viagem dura cerca de 1h40.
Hotel:
O “Ibis Styles Nantes Centre Place Graslin” oferece tarifas bastante atrativas. Com a qualidade “IBIS”, prima pelos pequenos almoços excelentes. A localização é central, tanto para passear pela cidade como para usufruir da sua vida noturna.
Transportes públicos na cidade:
Nantes é bem servido por linhas de elétricos rápidos e também por autocarros. Os preços dos transportes públicos são acessíveis, e ao fim de semana são gratuitos. Para os outros dias, é possível adquirir bilhetes instalando a aplicação “tan” no smartphone e comprar online através da mesma. Bilhetes de uma hora (1,7€) ou de 24 horas (5,8€).
Para viajar entre o Aeroporto Nantes Atlantique e o centro da cidade, existe uma linha de autocarro direto (9,5€) que termina na paragem “Commerce”, passando na “Gare Sud”. “Gare Sud” é uma das principais estações ferroviárias de Nantes e por ser a mais central é um ponto de referência. Existem carreiras que fazem ligação do aeroporto a zonas da cidade servidas pela rede de elétricos rápidos, por exemplo à paragem “8 Mai”. A viagem é mais longa, mas bem mais económica (1,7€).
Viagens de autocarro (Nantes – Rennes)
A Flixbus é uma forma excelente de viajar entre cidades, conseguindo-se preços bem mais económicos que por exemplo de comboio. É necessário instalar a aplicação no smartphone e através dela adquirir online os bilhetes. A paragem de autocarros Flixbus em Nantes (pesquisem no Google maps por “Flixbus Nantes”) é fora do centro da cidade, porém fica a poucos metros da paragem de elétrico rápido “Haluchère-Batignolles”. Esta ida a França marcou a minha estreia nesta forma “low cost” de viajar de autocarro!
Links:
Brasil Dinamarca, 1/4 final, Mundial 1998 – resumo
Brasil Dinamarca, 1/4 final, Mundial 1998- golo e celebração de Brian Laudrup
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