PRAGA
Praga foi o paraíso que encontrei em vida. Senti logo isso quando por lá apareci como turista, em 2005. Voltei a Portugal mas já tinha lá ficado. Ficou o coração, a alma. Foram precisos dois anos para me completar, para regressar com o título de residente. Voltei para viver na casa onde antes tinha sido tão bem recebido. Um quartinho na melhor localização da cidade, junto ao Teatro Nacional, a cinquenta metros do rio, à distância de um pequeno passeio a pé de qualquer dos pontos centrais de Praga.
Existe aquela expressão, que já vai ficando gasta… “fui muito feliz aqui”. Mas poderia ter sido criada por mim, ali, com um chocolate quente e um livro nas mãos, no barco-café que flutua no Vltava, num dia de Inverno com muita neve.
Fui apenas para viver. E foram três anos em que de facto vivi. Num par de semanas fiz mais amigos por lá do que os que consegui reunir em quinze anos na região de Portugal onde estou baseado. Amigos de verdade, que ainda hoje, já cinco anos volvidos, se mantêm em contacto, que vejo com a frequência possível.
De repente, estava no mundo diferente. Acordava de manhã e em vez de pensar na rotina do costume só tinha que escolher o que desejava para aquele dia. De uma lista sem fim. Ir ao cinema ver um filme bem fora do mainstream? Passar o dia em casa a descansar da loucura da véspera? Caminhar pelas ruas mágicas da velha cidade? Trabalhar um pouco num café romântico onde antes de mim se tinham sentado Einstein e Kafka? A imaginação era o limite.
Aos fins-de-semana as horas eram ainda mais preenchidas. Se não fosse para fora da cidade, para dois dias de caminhada nas montanhas ou para uma visita à casa de família de um amigo na provincia, havia um sem número de festas e actividades à minha espera. O telefone não parava de tocar. Que diferença perante os dias de modorra de Portugal, dias que nasciam e morriam sem que nada sucedesse para além de uma sensação renovada de vida desperdiçada.
Praga ofereceu-me uma crise de meia-idade diferente: em vez de arriscar o pescoço com desportos radicais, com correrias de moto ou com tentativas inócuas de aproximação a garotas que me pudessem transportar de volta aos meus vinte anos, rodeei-me de gente interessante e de programas interessantes, senti-me vivo de novo e marquei os pontos necessários para fazer as passes com aquela fase complicada da vida.
Ficaram as memórias. Que te dão doces que são se tornam amargas, doem, aqui dentro, dando um novo alento ao poema cantado de António Mourão:
Oh tempo, volta pra trás,
Trás-me tudo o que eu perdi.
Tem pena e dá-me a vida,
A vida que eu já vivi.
Oh tempo, volta pra trás.
Mata as minhas esperanças vâs.
Vê que até o próprio sol,
Volta todas as manhãs.
Vê que até o próprio sol,
Volta todas as manhãs.
Quero de novo o tempo das cavalgadas ébrias às tantas da noite em eléctricos vermelhos dos anos sessenta. Quero voltar a partilhar canecas de cerveja com amigos de peito, e sentir a neve a estalar debaixo dos pés numa Praça Antiga deserta de turistas com -20 graus de Dezembro, e passar tardes ao sol estendido na relva dos parques, apreciar a energia positiva que emana de uma cidade que desperta de um longo Inverno dando as boas-vindas à desejada Primavera.
Como eu amo Praga, talvez nem tanto a que os turistas efémeros conhecem, embelezada, artificial, mas uma outra, a real, a dos habitantes de lá, com os seus bares de esquina onde os clientes são os mesmos há dezenas de anos, a das colinas verdes e parques e beer gardens onde não se ouvem outras línguas para além do checo.
A Praga das dezenas de clubes de Jazz, a Praga onde as pessoas lêem como se não houvesse amanhã, a Praga de cultura, dinâmica, viva.
As boas notícias? Volto. Tenho voltado e continuarei a voltar. Já não é bem viver lá, mas o prazer é concentrado. Afinal, vivemos cada diz de uma vez, e durante duas ou três semanas por ano volto a iver em Praga. Refazer passos, rever caras conhecidas, trazer memórias de volta à vida… Praga, para sempre!
–Texto de Ricardo Ribeiro–
Escritor de Viagens. Webdesigner.
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