Quatro dias pela Ucrânia em tempos de revolução
Texto & Fotos de Mário Menezes
A Ucrânia é o maior país da Europa cujo território fica totalmente dentro desta. Um país com muitos encantos a começar pelas suas nativas. Dos 50 países estrangeiros que visitei, foi aqui que vi as mulheres mais bonitas. Difícil de acreditar no que se vê. A população aparenta uma média de idades muito jovem. Descer ou subir as longas e íngremes escadas rolantes das estações de metropolitano, é um exercício que provoca muitos torcicolos a qualquer viajante do sexo masculino. Autênticas bonecas, muito bem arranjadas e muito vaidosas, como a generalidade das mulheres eslavas. Alguém um dia proferiu a frase, “a Ucrânia é o último país do Mundo que qualquer homem casado, de facto ou de direito não deve visitar, pois quando regressar dificilmente olhará para a sua companheira da mesma forma”.
Terra natal de muitos que escolheram Portugal como a sua segunda pátria, e até muitos Ucranianos já nasceram por cá. Curiosamente nos dias que lá passei, não encontrei ninguém que falasse Português.
Um país com História, ligada às revoluções, às Guerras, ao Genocídio dos ditadores Hitler e Stalin e mais recentemente ao fim da URSS. Foi na Ucrânia que a sua queda começou. Em Chernobyl, não muito distante de Kiev, a capital.
Os últimos anos com as revoluções que tiveram o epicentro na Maidan, a “Praça da Independência”, o centro da capital, que se estenderam a todo o país, com lutas separatistas e resultaram no retorno de uma parte do seu território, a Crimeia, à Rússia.
E quis o destino que numa altura de revolução e na eminência de uma guerra civil eu visitasse a Ucrânia. Foi em finais de Janeiro de 2014, numa “tournée” de duas semanas pelo “Velho Continente” durante o qual comemorei os 39 anos. A minha última grande viagem pela Europa, planeada com vários meses de antecedência e onde esta passagem por este país esteve para não acontecer, devido aos motivos de ordem social. No frio Ucrâniano “bati” o meu “record” de temperaturas baixas, -23ºc, o que vai ser muito difícil de ultrapassar.
A Ucrânia é pois, um país muito acolhedor, onde a cultura é barata, de enorme qualidade, onde os espetáculos de Opera e Ballet têm preços escandalosamente baixos para os padrões Ocidentais, assim como os museus. A rede ferroviária é gigantesca e muito bem servida, o que permite viajar pelo país, de forma confortável, sem gastar muito dinheiro. Na capital, a rede de metropolitano de conceção soviética leva-nos rapidamente a qualquer local. A gastronomia é excelente. O frango à Kiev (kotleta po-kiyevs’ki) é o prato Nacional. Uma especialidade com influência Ocidental. A gastronomia Russa também influencia o roteiro gastronómico, como seu o shashlick (espetadas de carne), as sopas bosrh e solianka, que são o ideal para aconchegar do frio, e claro sempre precedidas de um shot de vodka gelado. E claro, a cerveja “Baltika” para acompanhar.
Kiev e Odessa foram as cidades que visitei, porém o desejo de regressar a este país e conhecer outros locais (Lviv, por exemplo) é enorme.
Kiev
Kiev, a capital, era a terceira cidade da antiga URSS, é hoje um local totalmente “Europeizado”. O povo muitíssimo afável, grande parte fala Inglês, as cadeias de fast food Americano abundam, as viaturas de marcas Alemãs que circulam nas ruas também e o modo de vida consumista é uma constante.
A cidade nada tem de parecença com as outras duas grandes cidades Russas (Moscovo e São Petersburgo), além de ser muito mais pequena que estas.
Visitar a Ucrânia em plena revolução trouxe algumas desvantagens. Algumas atrações turísticas fechadas e locais de romaria centrais, ocupados por manifestantes. Assim foi o caso da Maidan, a Praça da Independência que na altura era o centro do Mundo. A estação de metropolitano de onde saiam muitos manifestantes, munidos com tacos de baseball e correntes, diziam eles para se protegerem da polícia “Eles aqui não brincam, pegam em ti e levam-te para a floresta e ficas lá amarrado a uma árvore ao frio”. A Ucrânia é um país verde, Kiev era tido como a cidade mais verde do Mundo, tal a quantidade de árvores que existem. Note-se que antes da Revolução Bolchevique, as trocas comerciais de vinho e de madeira entre os Soviéticos e Gregos, da qual as pipas eram construídas.
A Catedral de Santa Sofia e o Mosteiro de São Miguel das Cúpulas Douradas são muito provavelmente os maiores símbolos da cidade. Uma zona da cidade que é acessível de funicular subindo a Colina Volodymyrska. Daqui a vista para o Rio Dniepre tem o seu encanto. Gelado que se encontrava. Funicular este, que está integrado na rede de transportes, onde o metropolitano é rei! O meio de transporte mais utilizado e mais fácil de utilizar. Construído ao estilo Soviético com estações a enorme profundidade, com destaque para a “Arsenalna”, com mais de 100 metros abaixo do solo, sendo considerada a estação de metropolitano mais profunda do Mundo. Longe da beleza das suas congéneres Moscovitas, as estações não deixavam de ter o seu toque “Bolchevique”, podendo ser encontrados em algumas bustos de Lenine ou outros símbolos do antigo regime como a estrela na sua decoração.
A Ópera de Kiev, uma das mais importantes do Mundo, com Historial ligado à Revolução Bolchevique. Ali foi assassinado Piotr Stolípin, Presidente do Conselho de Ministros (equivalente a primeiro-ministro da Rússia) do reinado do último Czar Nicolau II, conforme nos relata a série “Os Últimos Czares” da Netflix.
Embora não seja um grande apreciador e conhecedor desse tipo de espetáculos, a minha cultura geral não chega a esse nível, não perdi a oportunidade de ver ao vivo um espetáculo de ballet (O lago dos Cisnes) e uma ópera (Baile de Máscaras). Os preços são ridiculamente baixos para os nossos padrões. Quando viajo é meu objetivo fazer coisas que não faço na minha vida corrente, e nos países do Centro e Leste Europeu, ver Opera e Ballet entrou na minha rotina de férias.
O Museu Nacional de Chernobyl é um local obrigatório. Uma homenagem a tamanha tragédia, que recentemente nos foi contada pela HBO na série “Chernobyl”. A visita é acompanhada por audio guia e explica como tudo aconteceu. Podemos ver inúmeros objetos provenientes daquelas localidades que para sempre desapareceram do mapa e o modelo de uma central nuclear, o mesmo que foi utilizado nas filmagens dessa série. O engenheiro projetista daquela central, afirmara, antes da tragédia, que mesma era de um nível de modernidade, o supra sumo da tecnologia, e com uma segurança absoluta e que a colocaria sem problemas em funcionamento na Praça Vermelha em Moscovo!
Chernobyl fica a cerca de 150 Km de Kiev. As visitas ao local cresceram exponencialmente. Não tive tempo nem disposição para pagar o que pedem por isso e sobretudo duvido que não tenha malefícios para a saúde essa experiência.
A visita ao estádio Olímpico de Kiev não poderia faltar. Afinal o meu hostel ficava a dois passos. Um estádio com História já do tempo dos Jogos Olímpicos de 1980 em que ali foi realizado o torneio de futebol. A final da Champions League de 2018 e a do Euro 2012 foram ali jogadas. A casa do Dínamo de Kiev onde na altura Miguel Veloso jogava. Na visita completa não deixei de ver os balneários, o túnel de acesso ou mesmo de me sentar nas bancadas e no banco de suplentes. Um estádio de futebol que muito engrandece o meu palmarés nestas atrações turísticas.
Além da visita ao museu onde podemos ver referências a Valeriy Lobanovskiy, grande figura do futebol Ucrâniano, que era a base da Seleção da URSS, altos, encorpados, temíveis e frios jogadores de futebol. O Dínamo de kiev foi uma equipa que já reinou na Europa. Oleg Blokhin outra grande estrela ali presente. Também a maior estrela do futebol Ucraniano dos tempos recentes, Andriy Shevchenko, que agora se dedicou à política está ali presente. Se procurarmos nas fotos ainda encontramos antigas estrelas como Chanov, Bezsonov, Baltacha, Kuznetsov, Demyanenko, Yaremchuck, Yakovenko, Zavarov, Rats, Blokhin ou Belanov. Até mesmo Sergey Yuran que brilhou em Portugal nos anos 90, tanto no relvado como calor da noite no Maxime da Praça da Alegria. A vida de deboche que o dinheiro que nunca ganhara antes lhe deu, pois foi um dos primeiros jogadores da URSS a jogar futebol no estrangeiro.
Sim, o Mini Hostel Kiev, foi mesmo uma trágica comédia! Uma longa história! O dono, era Alemão, andava sempre “alegre”. De manhã dormia na cozinha com a roupa do dia anterior, e o que ele queria era turistas para os copos! Ainda cheguei a sair com um grupinho e com ele na última noite. Segundo o Google, já fechou…também o que seria de esperar?
Odessa
Uma curta passagem por esta lindíssima cidade do mar negro que na altura estava branco. Aqui cheguei numa noite fria após uma viagem de comboio de mais de 8 horas desde Kiev um percurso por meio de florestas. No dia seguinte a meio da tarde segui para Chisinau (Moldávia) de autocarro.
Aqui a influência Soviética é notória. Os habitantes são na generalidade sisudos, frios, alguns bastante rudes e o Inglês é pouco falado.
As mulheres aqui são lindas. Tidas como das mais bonitas do Mundo. Uma cidade que está na rota das redes de tráfico humano, um dos crimes mais horrendos dos nossos dias.
A pé consegue percorrer-se os pontos principais. Ruas com edifícios baixos e muito bonitos de onde sobressai o edifício da Opera tem grande destaque, sendo inclusivamente considerada a sala com melhor reportório e qualidade acústica do país.
A Escadaria de Potemkin é o local mais famoso da cidade. Lá em baixo fica o mar negro que na altura era branco. Uma das escadarias mais famosas do Mundo. Ficou famosa pelo filme “Bronenosets Potyomkin” (Couraçado Potemkin) do longínquo ano de 1925. Uma escadaria que aparenta ser bem maior do que é na realidade é. Uma mera ilusão de ótica, devido ao facto dos degraus serem cada vez mais largos, à medida que descemos, medindo 12,5 metros lá em cima, e 21,5 metros lá em baixo. De lá de baixo não se conseguem ver os passadiços e lá de cima não se conseguem ver os degraus. E foi lá de cima que me despedi da Ucrânia. Um país que nunca pensei tão cedo visitar e que transcendeu as minhas expectativas.
Segui então para Chisinau (Moldávia) de autocarro.
Links
- Companhia aérea low cost com voos para Kiev recentemente diretos desde Lisboa.
- Hotel Odessa
Muito perto da estação de comboio, este local é o ideal para uma curta passagem. Interessante o tamanho dos quartos que inclusivamente possuem WC e banho. Económico sobretudo.
- Companhia nacional ferroviária Ucraniana
- Autocarros Odessa-Chisinau.
- Filme “O Couraçado Potemkin” – legendado (Português do Brasil)
- Maidan (2014)Trailer
- Maidan Massacre – documentário
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