Duas semanas pela Índia e muitos sentimentos contraditórios
Texto & Fotos de Mário Menezes
Dos 50 países estrangeiros que visitei, afirmo categoricamente que à Índia, sobretudo à parte “Incredible”, é sítio a não voltar, mas esta não deixou de ser uma viagem marcante, onde comemorei o meu 43° aniversário. Um país que tinha em mente visitar, dadas as minhas ascendências paternas Goesas. Tinha ideia que na generalidade não fazia o meu género de turismo. Gosto de andar à minha vontade pelas cidades, nos transportes e a pé, em longas caminhadas, e na Índia, naquela parte em que é chamada de “Incredible Índia” isso não é possível. Tanto pelo facto da mobilidade ser muito condicionada, pois o trânsito é caótico, desordenado e os transportes públicos não são eficientes, sendo fundamental recorrer a serviços de tuk-tuks, onde temos de regatear o preço e estamos sujeitos ao que nos querem impor, muitas vezes com visitas a lojas, onde não estamos interessados em perder tempo – Jaipur, por exemplo. Como pelo facto de estarmos permanentemente a ser abordados com intuito de nos enganaram, Varanasi junto ao Ganges e Delhi em muitas situações. Confirmou-se tudo. Não faz o meu género. Não é esse o meu espírito!
A discriminação de preços entre nacionais e estrangeiros, em muitas atrações turísticas faz com que a Índia, se converta num destino bem mais caro do que o expectável. Muitos preços cobrados são excessivos, sendo inclusivamente mais caros que em muitos monumentos e museus de topo na Europa.
Passei dias muito felizes na Índia, mas houve coisas que não gostei mesmo nada porque não me fizeram sentir bem nas minhas férias.
País com uma faceta triste e obscura, de extrema pobreza, maus hábitos de higiene, sujo, de noite muito escuro, poluído, superpovoado, trânsito sem regras onde impera a lei da buzina, com infra estruturas das cidades degradadas, gente esquisita nas ruas e sobretudo nas estações de comboio desde o anoitecer, carregado de pedintes sem abrigo, gorjeta é sempre presente e solicitada e os enganos aos turistas abundam com Nova Delhi à cabeça. Cães e vacas sagradas, muitas famintas e a comer no lixo. O rio Ganges de onde eles bebem água e alguns turistas chá(!!!), é difícil perceber como é considerado sagrado, dado o nível de poluição e excrementos que lá desaguam e se mantêm.
Nada que não estivesse à espera, mas ver e viver isto é muito mais sentido, desconfortante e sofrível…
Por outro lado, adorei as praias paradisíacas de Goa, cheias de lindas turistas russas, templos e paisagens sublimes e cidades caóticas com destaque para os comboios suburbanos de Mumbai, que transportam mais de 9.000.000 de passageiros por dia, constituindo a linha suburbana mais utilizada no mundo, onde as carruagens circulam apinhadas e sempre com as portas abertas. Também há muito património deixado por Portugueses. Nós estivemos em todo o Mundo!!!! A gastronomia, mesmo que seja vegetariana, é maravilhosa, picante e com inúmeras especiarias, saborosa e exótica, mas o nosso organismo não está preparado e uma ida ao WC nos 30 minutos após a refeição é garantido! Mesmo que a comida seja de avião, e aí prepare-se, pois se for à “toilette” antes da luz avisadora de apertar o cinto acender, é uma pessoa com sorte!
O álcool é caro, há dias que é proibido vender e consumir (por exemplo 26/1, meu aniversário, que é o dia Nacional da Índia) e até em muitas das ruas não se pode fumar!
Um Mundo à parte que merece ser visto. E onde o turista é bem tratado e bem recebido, pois os Indianos são muito humildes. Hotéis e restaurantes somos sempre bem tratados que nos faz sentir em casa. E até muitos transeuntes e muitas famílias não resistem a tirar sefies connosco! Muitas jovens Indianas de sari, mas muitas também com “american style” de jeans mas quase sempre na companhia dos maridos, namorados ou do irmão mais velho.
Tenho a ideia que fui aos locais mais visitados e mais célebres da Índia. Goa, Mumbai e o Taj Mahal, para mim é o que justifica viajar para este país. O resto que visitei (Nova Delhi, Varanasi e Jaipur) veio por acréscimo, é em parte sofrível e só por si não merece viajar para tão longe!
Ao fim de duas semanas na Índia, e depois de ter passado metade desse período na “Incredible India”, eu estava saturado e exausto e desejoso de sair dali. Ainda me restavam 4 dias em Istanbul (Turquia) no regresso a casa, o que se revelou como o melhor destas férias. Assim quando no Aeroporto de Nova Delhi vi o meu passaporte ser carimbado a vermelho com “DEPARTURE”, tive uma enorme sensação de alívio!
Apesar do texto ser um pouco contraditório, é isto que sinto depois desta experiência de vida. Muito enriquecedora por sinal como qualquer viagem que fiz. A Índia vale a pena, mas preparem-se!
Não é minha intenção ferir suscetibilidades, nem ofender quem quer que seja, mas espero que as pessoas compreendam que estou a relatar o que vivi e senti nestes dias.
Aqui vai um resumo rápido do que fiz na Índia:
MUMBAI (3 noites)
A maior cidade e a capital económica da Índia. Sede da Bollywood, a maior indústria cinematográfica do planeta. Cenários de muitos filmes Indianos. Uma megalópole com mais de 20 milhões. Não faz parte da chamada “Incredible Índia” que os guias turísticos referem, daí que muitos pacotes turísticos não a incluam. Cidade de conceção Europeia onde a arquitetura do Velho Continente predomina. Fácil de explorar de transportes e a pé. Segura. Foi a minha porta de entrada neste país e apesar do choque inicial, adaptei-me rapidamente. Come-se muito bem. Além de pratos Indianos, de carne e vegetarianos, há também comida Iraniana. Encheu-me as medidas.
Em 3 dias visitei:
Porta da Índia – Símbolo da cidade. Local de romaria.
Grutas de Elephanta – Passeio muito interessante de barco. Partida do terminal junto à Porta da Índia » AQUI
Dobhi Ghat – o maior lavador de roupa do Mundo. Acessível de comboio.
Grutas de Kanheri – Integradas num Parque Nacional. A vista sobre a cidade é muito interessante. Acessível de comboio. » AQUI
Forte de Bandra- Local construído por Portugueses. Mumbai já foi território Português. Acessível de autocarro ou tuk-tuk. Em Mumbai há muitos tuk-tuks com taxímetro.
Hotel Taj Mahal Plaza – Visitei o seu interior, as áreas comuns. Um luxo! Famoso pelos atentados de 2008.» AQUI
Leopold cafe – O local onde jantei no dia do meu aniversário. Famoso restaurante que ficou marcado pelos atentados de 2008. Ainda estão presentes nas paredes as marcas das balas. Também famoso pelo livro “Shantaram”, um romance de Gregory David Roberts inspirado em acontecimentos biográficos que em breve dará origem a uma série.
Estação de comboio Chhatrapati Chivaji – Edifício de estilo Vitoriano, famoso em todo o Mundo.
Marine lines –A zona marginal da cidade, nas imediações de ruas de apartamentos de luxo.
Links Úteis:
- Hotel : escolhi este local, económico e bem localizado. Atente-se para o custo elevado dos hoteis em Mumbai.
- Do Aeroporto de Mumbai, à estação de comboio suburbano mais perto é “Vile Parle”. Acessível de autocarro. Daí há comboios suburbanos para as duas estações principais: Church gate ou Chhatrapati Chivaji. Ao sair do aeroporto e apanhar esse autocarro temos o primeiro “choque” de culturas. Vale a pena.
- Café Universal – Para provar comida Iraniana, e Indiana também. A proprietária é Iraniana. » AQUI
Goa (4 noites)
Uma emoção imensa visitar Goa. Como costumo dizer na brincadeira, o local onde vivi, muitos anos antes de vir ao Mundo. Praias de sonho e vida noturna animadíssima, cheia de turistas oriundos da Rússia. Comida deliciosa e preços acessíveis. O património Português lá permanece. Muito interessante. Adorei. Pena ter sido tão curta a minha estada.
Fiquei alojado na zona da praia de Baga (Calangutee). Fiz dois tours, cada um de um dia completo: Um para conhecer a zona antiga de Goa (sul) e outra para conhecer a zona de praias (norte). Os programas podem ser consultados » AQUI
Goa tem muito pouco a ver com o resto da Índia. Sobretudo da “Incredible India” .Os Goeses inclusivamente dizem que não são Indianos! A Goa espero um dia voltar e passar umas férias maiores E conhecer melhor as minhas origens paternas. Talvez quando me reformar. Se lá chegar e se houver reformas na altura…
Links Úteis:
Companhia aérea nacional » AQUI
Hotel:escolhi este local. Aparthotel económico com habitações grandes. Qualidade medíocre. » AQUI
Transfer aeroporto-hotel-aeroporto » AQUI
Tours – muito económicos e bem organizados » AQUI
Varanasi (2 noites)
A minha porta de entrada na “Incredible India”. É a cidade mais antiga do Mundo. Onde os Indus desejam morrer, cremados a céu aberto e com as cinzas jogadas no Rio Ganges. Quem aprecia o tema das Religiões, talvez se sinta ali no paraíso. Para mim também não foi de todo o Inferno, mas ali não me senti bem.
A Índia é um país em que o total de habitantes sem eletricidade é igual ao total da população dos EUA. Quando cai a noite, a cidade fica escura, com ruas labirínticas vazias, sujas e mal cheirosas. Os transeuntes são estranhos, paupérrimos, sem abrigo e a mendigar.
Muito assédio ao turista que circula junto ao Ganges. E muitas “máfias” com esquemas para extorquir dinheiro junto ao crematório principal, no ghat Manikarnika. Ali vi uma situação desagradável. Estava a ver que ia chegar a “vias do facto” com um tipo. Ele não me largava. Depois da tradicional abordagem inicial “Where are you from? Oh Portugal. Cristiano Ronaldo”, tentou primeiro com falinhas mansas encaminhar-me para o local onde as “máfias” tentam extorquir dinheiro aos turistas, depois veio com a história se queria um guia privado pois sozinho não conseguia conhecer aquilo, depois enganar-me com pedidos de doações para a fundação para comprar madeira para as cremações, e quando viu que eu não estava para aí virado e que conhecia essas ladainhas todas, começou a partir para a agressividade, “tu não podes ficar aqui parado, ali à frente está a família, etc, etc”. Tive de levantar a voz para ele “Who do you think you are? Are you police? Go away!” E ele a discutir e pouco convencido, lá se pôs a andar. Falei disto no hotel e informaram-me que Varanasi está a tornar-se perigoso por causa destas coisas…
A cerimónia de adoração ao Ganges também tem o seu interesse no ponto de vista do enquadramento cénico. Ganges esse, rio poluído, onde desaguam esgotos e detritos de fábricas, ver pessoas a banharem-se e a beber água do mesmo, não consigo conceber. As Religiões atrasam o desenvolvimento dos povos. Está ali a prova!
O nascer do sol do Ganges também fui ver. É caro. Fui de barco num tour marcado desde o hotel. Era único turista. Só eu o barqueiro. Desembarquei no local da cerimónia e regressei no fim desta.
Varanasi foi uma experiência de vida da qual não me arrependo mas jamais repetirei, sobretudo porque caminhar por ali não estamos à nossa vontade. Somos permanecente abordados e importunados. A terra supostamente sagrada é hoje um local de mendicidade comercial e profissional, onde o turista estrangeiro que não está ali por motivos religiosos é o alvo!
Links Úteis:
Do Aeroporto de Varanasi para um hotel que se encontre em um dos Ghats, terá de apanhar um taxi. Mas o problema é que os taxis não conseguem aceder aquelas ruas labirínticas. Aí é preciso contratar alguém que lhe indique o caminho até ao hotel. O taxista arranja sempre alguém na rua para isso. Eu não me senti bem com isso. Andar com a minha bagagem por aquelas ruas estranhas com um desconhecido e com aspeto estanho e sempre a tentar impingir serviços turísticos clandestinos.
Hotel: Sem luxos. Localizado na zona antiga, nos ghats, com vista para o Rio Ganges. Económico e funcional. Possibilidade de marcar tours. Engraçado que tem macacos nas instalações. Muito divertido. » AQUI
Restaurante com aparentes condições de higiene. A comida é veggie, mas muito saborosa. Varanasi é uma região veggie.» AQUI
Nova Delhi (2 noites)
Não gostei. Cidade carregada de aldrabões. Esquemas montados com as autoridades, taxistas e hotéis logo no aeroporto. Fui vítima e saí ileso. O que eles pretendem é levar o turista a agências de viagens para venderem tours a preços elevados e depois a pernoitar em outros hotéis diferentes dos que marcamos. Eu ia preparado, pois estudei todas essas situações com meses de antecedência, mas com o atraso de 3 horas no voo desde Varanasi, ao chegar ao aeroporto à 1h da manhã não tive alternativa de recorrer ao táxi. E ainda por cima da pré pago da Polícia!!!!
Povo preguiçoso. Vi muita gente permanentemente em posição de cócoras, deitados, ou com os pés em cima dos bancos dos autocarros e a trabalharem assim!
Tirando o percalço da noite anterior com o transfer, na cidade facilmente nos deslocamos de metropolitano. Já os tuk-tuks, não aconselho. Não têm taxímetro. É necessário regatear e corremos o risco de ir parar onde não queremos…
Atenção à estação de comboio Delhi DLI quando viajarem em longo curso. Há esquemas para enganar turistas e depois leva-los para essas tais agências de viagens.
Recomendo que façam uma pesquisa no Google e no YouTube, “Delhi scams” antes de viajarem para esta cidade.
Visitei:
Connaught Place – a grande praça onde se situa a enorme bandeira da Índia. Local onde os turistas são abordados com vista a serem levados para agências de viagens.
Museu Nacional da Índia – preço exorbitante, não vale a pena » AQUI
Imediações da Rajpath e zona envolvente ao Parlamento. Nesta Avenida foi filmada a cena do funeral, na abertura do filme “Ghandi” com cerca de 300.000 figurantes.
Ainda consegui ver o Templo de Lótus mas apenas por fora, pois já se encontrava encerrado. » AQUI
O tempo foi curto e não cheguei a conhecer muitas coisas da cidade. Há inclusivamente o Museu internacional da toilettee que recentemente soube da sua existência. Na Índia milhões de pessoas não têm casa de banho nas habitações. E o museu de certo modo homenageia as casas de banho. Quem viaja pela Ásia fica com interesse neste tema…
Links Úteis:
Bilhetes de comboio de longo curso. Preparem-se para o choque que terão quando saírem do comboio de noite ao chegarem ao destino. Estações com muitas plataformas, carregadas de pedintes, ambiente escuro, degradado e sujo. Sobretudo porque transportamos a nossa bagagem temos receio…
Atenção também aos enganos aos turistas nesta estação central “DLI”. » AQUI
Taxis – OLA- Uma “Uber” Indiana. É aconselhável ao chegar à Índia comprar um cartão SIM Indiano, instalar a aplicação e marcar aqui taxis. » AQUI
Cena do funeral no filme “Ghandi” » AQUI
Jaipur (2 noites)
A “Cidade rosa”, capital do Rajastão, o coração da chamada “Incredible India”. O ponto de partida de quem viaja por esse enorme Estado. É interessante. É necessário recorrer ao serviço de tuk-tuk para explorar a cidade. Trânsito caótico. Apesar de ter uma pequena linha de metropolitano, este não serve os pontos turísticos.
Paga-se entrada em muitos locais e sendo turista, mais ainda!
Foi uma curta passagem. Monumentos muito interessantes e paisagens sublimes, mas julgo que explorar o resto do Estado do Rajastão seria mais do mesmo. Aqui ficou uma amostra do que poderá ser.
Visitei:
Palácio da Cidade » AQUI
Jantar Mantar » AQUI
Gaitor Ki Chhatriyan » AQUI
Jal Mahal, o tal templo no meio do lago. Vi ao longe, desde a margem.
Forte de Amber, para mim o ponto mais interessante de Jaipur. Fica fora da cidade.
Hawa Mahal, o célebre Palácio dos ventos. Famoso edifício com muitas janelas. » AQUI
Links Úteis:
Hotel – Fiquei aqui instalado. Muitíssimo barato, mas não esperem um luxo. Tem mesmo o básico. Servem boas refeições, veggies, pois Jaipur é numa zona veggie. Possibilidade de marcar tours através do mesmo. Solicitem atempadamente o transporte da estação de comboio. Ao chegarem à estação serão abordados por inúmeras pessoas, muitos com aspeto duvidoso, a oferecer serviços de transporte. Exijam que lhe mostrem o papel com o vosso nome. » AQUI
Serviço de tuk-tuk. Escolhi este, marcado no hotel. Correu tudo bem. Aliás, até ofereci a ele uma toalha com o galo de Barcelos. » AQUI
Agra (2 noites)
A cidade do Taj Mahal » AQUI
Além deste monumento nada mais tem para ver. Sujidade, poluição, trânsito caótico e escuridão. Sim tem um forte com vista para o Taj Mahal. Não tive tempo de visitar. E paga-se. Menos que no Taj Mahal, mas não é barato. E para aceder ao mesmo, só de taxi.
A visita ao Taj Mahal dispensa apresentações. Apesar do seu interior, onde curiosamente não deixam fotografar, nada ter além do mausoléu, a decoração não tem interesse e o espólio inexistente.
Ao nascer do sol, e ao ver pela primeira vez, o Taj Mahal senti que perante tamanha beleza todos os “sacrifícios” para ali chegar valeram a pena. Ver o Taj Mahal pela primeira vez ao nascer do sol é uma experiência que marca a vida de qualquer viajante. Imagino o que sentiria se o visitasse numa noite de lua cheia!
Aqui fiz amizade com uma Americana que vive no Japão e, um ano depois nos encontramos em Sapporo. Afinal viajar é isto mesmo, fazer amizades pelo Mundo fora!
Links Úteis:
Hotel: Fiquei aqui alojado. Económico, confortável, a cerca de 500 metros do monumento, staff atencioso e um excelente restaurante no topo com vista para o Taj Mahal. Aconselho a marcar transporte da estação de comboio. Mesmo conselho dado em relação a Jaipur. » AQUI
Para alojamento na Índia, consulte aqui.
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