Budapeste: 3 dias de encanto com nevões
Texto & Fotos de Mário Menezes
A saga do Centro e Leste Europeu, continuava a escrever capítulos de sonho nas minhas memórias. Praga no ano anterior, Viena e Bratislava uns dias antes e agora era a vez de Budapeste. A Polónia nos anos seguinte.
Das que conheci, afirmo categoricamente que Budapeste é a Capital banhada pelo Rio Danúbio mais bonita, mais alegre e mais pitoresca. Com um custo de vida mais acessível que Viena, o que se reflete na sua oferta turística e cultural, transportes, alimentação e alojamento.
Budapeste, palavra composta por aglutinação de “Buda” com “Peste”. Ambas as “cidades” separadas pelo Rio Danúbio. Buda e Peste, em tempos se “uniram” e formaram apenas uma, Budapeste.
A parte da cidade que corresponde a “Buda”, possui colinas. Uma, onde se situa o Castelo de Buda. Em tempos funcionava como um Palácio Real. Budapeste e Viena foram as cidades mais importantes do antigo Império Austro Húngaro. E do alto dessas colinas, a vista para a cidade é encantadora. É com as imagens desde Buda sobre Peste que justifico a minha opinião pessoal: prefiro Budapeste a Viena. Este é um dos “postais turísticos” mais belos da Europa. Em grande plano, a Ponte das Correntes (Széchenyi Lánchíd) que é uma das que cruza o rio, talvez a mais famosa. Ao contrário da Chéquia, a Hungria foi um dos países fortemente afetados pelas destruições causadas pela II Guerra Mundial. Por exemplo, pontes sobre o Rio Danúbio foram todas destruídas, sendo reconstruídas no período pós guerra.
A colina do Castelo é acessível de funicular, que faz parte da rede de transportes públicos que servem a cidade. Além deste funicular, as carreiras de elétricos (trams) com destaque para a carreira número 2, considerada a viagem mais cénica na Europa neste meio de transporte, pois percorre as margens do rio Danúbio. Por cá, em Lisboa temos o “Elétrico nº15”, que também está entre as viagens de elétrico mais cénicas da Europa. O metropolitano de Budapeste é um dos mais importantes do Mundo. Depois de Londres é o mais antigo. A famosa linha amarela, a primeira a entrar em funcionamento, em 1896, na altura que visitei Budapeste, ainda conservava as carruagens de cor amarela e as estações com estilo “retro”.
A outra colina, a “Gellert”, é mais alta e onde no topo existe a Citadella, uma fortaleza que permite vistas sobre o Danúbio ainda mais panorâmicas. Não me foi possível subir aqui devido à neve.
A parte da cidade correspondente a “Peste” é a maior. Normalmente é neste lado que os visitantes ficam alojados.
Na frente ribeirinha destaca-se o edifício do Parlamento Húngaro. Ostenta o título de maior edifício do país. A sua arquitetura faz lembrar o Parlamento Londrino, ou não tivesse sido a fonte de inspiração à sua construção. Na altura os cidadãos da União Europeia podiam visitar o seu interior gratuitamente. Uma visita guiada com cerca de uma hora de duração que passava pela Escadaria, pela Sala da Cúpula onde são expostas diversas estátuas dos antigos reis da Hungria e pela Antiga Câmara Alta. Atualmente na ala sul, localiza-se a sala do Conselho dos Deputados que não é visitável. A Hungria é um país ligeiramente maior que Portugal, e o seu Parlamento possui 199 deputados, menos 31 que o do nosso país!
Na zona ribeirinha, a curta distância do edifício do Parlamento, encontramos o monumento que homenageia os judeus Húngaros mortos por membros da Milícia da Cruz de Ferro, partido com ideais Nazistas de Hitler. O memorial dos sapatos, que é composto por esculturas de sapatos de vários tipos, simbolizando a época na qual adultos e crianças, eram obrigados a tirar o calçado antes de serem mortos a tiro e lançados ao rio.
Pela zona ribeirinha encontramos várias pontes que cruzam o Danúbio. Uma delas, a Ponte “Árpád “. A mesma atravessa-o passando pela Ilha Margarita. Uma ilha que constitui uma das zonas verdes da cidade, esta muito concorrida no Verão.
Outras pontes famosas são a Ponte Elisabete (Erzsébet) e a Ponte da Liberdade (Szabadság). Entre estas duas pontes, no lado interior, temos a rua mais importante de Budapeste. Uma rua pedonal, a Rua Váci. Possui shoppings, lojas de moda e de souvenirs, hotéis, bares, restaurantes e pastelarias “finas” à boa maneira Francesa.
O Mercado Central fica num dos extremos da rua Váci. Um mercado “sui generis” para os nossos padrões Lusitanos pois o peixe fresco não figura. Ali abundam carnes e enchidos, especiarias, vegetais frescos e peixe congelado, mas mesmo assim não deixa de ser um local a visitar. A lusitana e popular expressão de “peixeirada”, seu significado e a sua origem, que expliquei a uma Húngara, ali não faz sentido aplicar…
Ali perto fica o Museu Nacional da Hungria, o museu público mais antigo do país, que abriga a mais importante coleção de artefactos históricos da nação.
A avenida mais importante de Budapeste é a Avenida Andrássy, os “Champs Elysées de Budapeste”. Com 2,5 Km de comprimento, é carregada de palacetes, lojas de moda e alta-costura. Termina na Praça dos Heróis (Hősök tere), um dos locais mais emblemáticos da cidade, sendo conhecida pelo Monumento do Milénio e pelas estátuas dos líderes das sete tribos Magiares que fundaram a Hungria e outras personalidades da História desta nação. Nesta praça situa-se o Museu de Belas Artes de Budapeste, o edifício mais famoso da mesma. Neste museu estão expostas obras de Picasso, Tiepolo, Cézanne ou El Greco.
A Avenida Andrássy possui vários edifícios importantes, entre os quais o da Ópera Estatal Húngara.
Um dos locais a visitar na Avenida Andrássy é a Casa de Terror, um museu cujo tema são os principais regimes opressores da Hungria, o fascismo, o comunismo e suas vítimas. Passear pelo Centro e Leste Europeu é reviver os factos Históricos da II Guerra Mundial, do Holocausto, do Domínio Soviético sobre grande parte da Europa, e da Guerra fria e mesmo sem contacto com livros, aprendemos imenso sobre estes temas.
Na Avenida Andrássy guardo para a posteridade uma das fotos mais importantes da minha vida de viajante, com tudo coberto de neve! Nestes dias pela primeira vez na vida convivi com estes fenómenos da natureza. Um enorme nevão fustigou a Europa Central e paralisou o tráfego aéreo e com muita sorte não me impediu de efetuar os voos marcados!
Pela Rua Váci e pela Avenida Andrássy se vê o alto nível dos habitantes e transeuntes do centro da cidade de Budapeste. Durante o dia circulam pessoas de classe alta, bem apresentadas, por aquelas ruas de lojas chiques, cafés, restaurantes e pastelarias “finas” que nos fazem crer estarmos perante uma capital Europeia de alto nível. De noite o ambiente muda radicalmente. Existem pedintes e pessoas sem-abrigo pelas ruas. A Hungria não é de todo um país rico. Os ordenados são dos mais baixos da Europa, grande parte do que consome importa, devido às regras de mercado impostas pela União Europeia e sofre os efeitos da desindustrialização, pois há outras paragens no Mundo onde a mão-de-obra é bem mais barata e os trabalhadores quase não têm direitos. Muitas famílias de pedintes vindos dos países dos Balcãs vivem na Hungria, o que causa revoltas sociais e a ascensão de políticas com cariz de Extrema Direita.
Junto à Praça dos Heróis, existe o Castelo de Vajdahunyad e o Parque Városigled. É neste parque que existe a estátua do Escritor Anónimo. A estátua representa “Gesta Hungarorun”, autor do primeiro relato escrito da história do povo húngaro, cujo nome é desconhecido. O filme, baseado no livro homónimo de Chico Buarque, “Budapeste”, realizado em 2009, mas que por cá estreou em 2011, uma produção luso-húngaro-brasileiro com o saudoso Nicolau Breyner, em uma das cenas junto desta estátua explicava que tocar no lápis da estátua dava sorte! Não deixei de o fazer, tal como a Camelia, uma turista da Roménia que me acompanhou durante estes dias.
O filme “Budapeste” também afirma que a “cidade é amarela” e posso confirmar que é mesmo verdade! O filme também se refere à Língua Húngara como a “única língua do Mundo que, segundo as más-línguas, o diabo respeita”, e de facto, o Magiar, é tido como das línguas mais difíceis de aprender.
Dois locais religiosos de visita obrigatória: a Basílica de Santo Estêvão que é a maior igreja da Hungria e um dos dois edifícios mais altos da cidade medindo 96 metros, e a Igreja de Matias tendo ao lado o Bastião dos Pescadores, uma fortaleza cujos terraços proporcionam bonitas vistas sobre a zona ribeirinha.
Budapeste é um destino termal, pelas suas características geotérmicas e muito devido à influência histórica dos Turcos. Por lá se diz, que fazendo um buraco no chão encontra-se água a ferver. De Verão ou de Inverno os banhos públicos estão permanentemente a funcionar. As piscinas termais de água quente são muito concorridas, sejam elas exteriores ou interiores. É muito divertido estarmos no exterior com -10ºc dentro de uma piscina de água quente a vaporizar.
As Termas de Széchenyi são as mais concorridas e até James Bond em um dos filmes “007” por lá passou. Ficam localizadas muito perto da Praça dos Heróis.
Para turistas que pretendam mais exclusividade e com maior orçamento, na parte da cidade correspondente a Buda, as termas “Gellert” integradas no Luxuoso “Danibius Hotel Gellert” são uma excelente escolha.
A Hungria também é pátria de grandes artistas, no entanto eles são muito menos famosos que os Austríacos. O isolamento provocado pela “Cortina de Ferro” contribuiu para isso e caricatamente qualquer um de nós, só lhe vem à cabeça o nome de “lona Anna Staller ” que vingou na Itália como deputada e atriz de filmes pornográficos com o cognome de “Cicciolina”. A Cicciolina serve de inspiração a muitas jovens, que pretendem ganhar dinheiro fácil nesta indústria cinematográfica, que aqui recorrentemente recruta. Os baixos salários e a beleza das habitantes ajuda. Também muitas jovens Húngaras emigram para o Norte de Itália aliciadas a tentar a sua sorte como modelos no mundo da Moda Milanesa. As coisas muitas vezes não correm bem e acabam por cair nas malhas do Tráfico Humano…
Os amantes de futebol saberão quem foi “Ferenc Puskás Biró”. Ao serviço da Espanha brilhou no futebol com a camisola do Real Madrid. Budapeste será uma das sedes do próximo Campeonato da Europa de futebol, sendo a “Puskás Aréna”, o novíssimo estádio construído no lugar do anterior, também assim chamado em homenagem a Ferenc Puskás, um dos palcos.
Franz Liszt, Béla Bartók ou György Ligeti são alguns nomes de compositores Húngaros que podemos pesquisar online. Johannes Brahms compositor nascido na Alemanha, que viveu em Viena, entre as suas obras compôs as “Danças Húngaras”, um conjunto de 21 melodias de dança animadas e baseadas em motivos temáticos da Hungria, sendo a nº 5 a mais famosa.
No tocante à oferta cultural, Budapeste não possui os museus e palácios do nível da capital Austríaca, mas no tocante a espetáculos musicais, como por exemplo de Ópera é uma excelente alternativa e com preços muitíssimo mais baratos. A Ópera Estatal Húngara é um dos mais emblemáticos edifícios da cidade. Construída durante o reinado de Francisco José, rivalizava com a sua congénere de Viena, sendo uma das principais casas de Opera da Europa. Ali assisti por menos de 5€ à ópera “Eugene Onegin” de Tchaikovsky logo na 1ª noite.
Também o Teatro de comédia marca presença. O teatro Vígszínház apresenta espetáculos muito divertidos, mesmo sendo falados em língua Húngara. Ali vi, por menos de 10€, “As Bodas de Fígaro”, em versão adaptada da célebre Ópera cómica de Mozart.
As salas de concerto, Müpa e Vigado também são locais a considerar.
Mesmo que não sejamos grandes apreciadores e com o gosto educado para desfrutar deste tipo de espetáculos, estando em Budapeste é uma oportunidade para nos instruirmos e fazer algo diferente nas férias. Aproveitando os preços baixos, podemos passar horas muito agradáveis. Sobretudo no Inverno, a época alta. Os bilhetes podem ser adquiridos online, e convém fazê-lo com antecedência pois a procura é alta. Os preços são reduzidos face a muitos países da Europa, incluindo Portugal.
Em relação à gastronomia, a carne de vaca ocupa grande destaque, ao contrário de outros países Europeus onde o porco é rei. O “Goulash” é um dos pratos nacionais. Um guisado com carne de vaca e “paprika”. Sim, na Hungria cozinha-se com “imensaaa paprika” e de vários tipos, mais ou menos picantes. Sempre acompanhado por um bom vinho ou por uma cerveja, bebidas que na Hungria abundam em quantidade e qualidade.
Na doçaria destaca-se o “Kürtőskalács”, o doce mais antigo deste país. Um pastel em forma cilíndrica que é obtido através de massa enrolada cozido no forno, e muitas vezes sobre brasas. É sempre motivo para fazermos uma pausa e entrar numa “pastelaria fina” ou “menos fina”, e para provar esta iguaria, recomendo a “Molnár’s kürtőskalács”.
A “palinka” é a bebida Nacional, que não convém abusar e deve tomar-se sempre antes das refeições. Uma bebida destilada de frutas.
Em suma, Budapeste é uma cidade encantadora e completa e um dos melhores destinos Europeus. Para uma rápida escapadela é, na minha opinião, a escolha mais acertada e o destino mais completo. Em Budapeste podemos passar excelentes dias fazendo muito mais coisas e gastando muito menos que em outros pontos da Europa.
Links
Aeroporto de Budapeste: Possui uma estação de comboio de nome “Ferihegy”. Daqui existem ligações diretas à estação do centro da cidade “Nyugati”
Voos: A ryanair voa atualmente diretamente de Lisboa para Budapeste
A Easyjet voa de Budapeste para diversas cidades Europeias e daí para Lisboa. Nessa altura regressei a Budapeste via Genebra.
Comboios: Budapeste possui 3 estações de comboio: Keleti, Nyugati e Déli. Daqui existem ligações diretas a várias capitais, nomeadamente Belgrado, Viena, Praga e Bratislava.
Budapeste é uma cidade segura durante o dia. De noite as imediações das estações de comboios são frequentadas por pessoas sem-abrigo, oriundos dos Balcãs.
Aeroporto de Budapeste: Possui uma estação de comboio de nome “Ferihegy”. Daqui existem ligações diretas à estação “Nyugati” do centro da cidade.
Viagem na carreira de elétrico nº2
Danças Húngaras de Johannes Brahms
Danças Húngara, nº5 de Johannes Brahms
Budapest (2009) – trailer oficial
Ópera-Eugene Onegin, abertura do 3º ato. Polonesa de Tchaikovsky
Ópera-As Bodas de Fígaro-abertura
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