Uma semana pelo Chile: Da Patagónia, por Valparaíso até Santiago
Texto & Fotos de Mário Menezes
A minha última grande viagem teve como destino o fim do Mundo. A Argentina foi o foco principal, porém, dada a proximidade geográfica e a implicância de viajar tantas horas de avião desde Portugal, decidi acrescentar mais uma semana ao meu programa e visitar o Chile. O facto de ser tido como um lindo país, estar ali ao lado, e poder através dele regressar ao ponto de partida, a Buenos Aires, foram fatores determinantes na decisão tomada.
Terminei a visita de duas semanas à Argentina na Patagónia, mais concretamente em El Calafate, consciente que muitas coisas importantes ficaram por visitar neste país. Não obstante ter sido aconselhado, em detrimento do Chile, incluir no meu roteiro, Bariloche (a “Suiça da Argentina”) e a Península de Valdez, o custo das viagens aéreas de El Calafate para estes destinos e também entre os mesmos e o posterior regresso a Buenos Aires, de um deles, para daí regressar a casa, levaram-me a desistir desta hipótese.
Visitar o Chile, permitiu-me colocar a 50ª. bandeira no meu palmarés de nações (Portugal incluído) que pisei. Apesar da passagem ser curta dada a dimensão deste país, eu adorei visita-lo. O Chile é uma linda nação e com um povo muitíssimo acolhedor.
Assim, para essa última semana, ficou decidido viajar de El Calafate para Puerto Natales de autocarro. Daqui, também de autocarro para Punta Arenas e deste modo conhecer um pouco da Patagónia Chilena, pois já tinha visitado a Patagónia Argentina. Seguidamente voar de Punta Arenas para Santiago e dividir essas 3 noites entre Santiago e Viña del Mar e gozar um pouco a praia. Afinal eram férias de Verão e ainda não o tinha feito! No final, voar de Santiago para Montevideu (Uruguai). Dormir uma noite em Montevideu e regressar à base (Buenos Aires) de barco pelo Rio “La Plata”. No dia seguinte regressar a casa.
Assim, o Chile que conheci teve o seguinte programa de seis noites:
PATAGÓNIA CHILENA
PUERTO NATALES (2 noites)
Aqui cheguei de noite, numa viagem de cerca de 5 horas de autocarro desde El Calafate. O percurso é maioritariamente pelo Deserto da Patagónia. Paisagem vazia e sempre igual, nem a rede dos telemóveis existe. É a cidade de onde os visitantes partem à descoberta dos Fiordes Chilenos, em cruzeiros, ou do Parque Nacional Torres del Paine, que “de grosso modo” pode ser considerado a parte Chilena do Parque dos Glaciares, do lado da Argentina, é onde se situam os enormes bancos de gelo e o Glaciar Perito Moreno.
Esta zona do Mundo teve várias guerras e disputas territoriais entre estes dois países, pelo que a linha de fronteira entre os mesmos tem várias mudanças de direção.
É uma cidade pequena que a pé se percorre o mais importante. Era Verão mas a temperatura não ia além dos 16ºc de dia e de noite baixava dos 5ºc, períodos de chuva e o vento constante também são parte do quadro meteorológico. Faz parte da Região de ” Magalhães e Antártica Chilena” devido a Fernão de Magalhães, navegador Português ter cruzado aqueles mares.
Um aglomerado de casas coloridas de madeira, com alguns monumentos e estátuas interessantes. Acabei por ter de ficar aqui um dia inteiro, contrariamente ao inicialmente planeado, devido à falha que a agência para o tour às Torres del Paine, que contratei ter falhado. Acabei nessa manhã por marcar com outra agência para o dia seguinte, desta vez sem falhas.
Acabei por fazer amizade com um conjunto de turistas, muito simpáticas. Duas Russas de Moscovo e uma Chilena de Santiago. Depois de nos encontrarmos junto ao Monumento ao Vento, conversamos imenso sobre viagens e acabamos por ir a um bar tomar um “pisco sour” Chileno, um cocktail que leva limão, açúcar, pisco (aguardente), clara de ovo e cubos de gelo. Esta é mesmo a melhor recordação que trago de Puerto Natales. Interessante que com a turista Chilena, já nos tínhamos cruzado na noite anterior quando a horas tardias fui jantar pizza provavelmente no único local aberto para matar a fome! Viajar também é fazer amizades pelo Mundo fora!
Parque Nacional Torres del Paine (tour de 1 dia)
Um tour de um dia a um local de sonho e com um guia muito competente, apaixonado pela profissão e bom conhecedor dos locais.
Um local cheio de lagos de côr azul intensa, cataratas, riachos e o relevo agreste, onde se destacam os 3 penhascos assim chamados de Torres del Paine. A fauna e a flora também marca presença, podendo mesmo observar-se bandos de avestruzes, condores andinos, flamingos, pica-pau de Magalhães, rebanhos de guanacos, uma espécie de camelo andino, e se tivermos sorte, um felino, no entanto estes animais são “noturnos”, de dia dormem e de noite saem para caçar.
Uma enorme zona protegida, que só é possível visitar em tour, ou alugando um automóvel, sendo esta a solução mais económica para grupos. A entrada no local é paga e os estrangeiros pagam muitíssimo mais, o único contra- cerca de 33 Dólares.
Cueva del Milodón (incluído no tour anterior)
De regresso a Puerto Natales, ao final da tarde, uma paragem nesta atração turística. Um monumento natural constituído por cavernas habitadas em tempos por milodontes, mamíferos com 200Kg de peso e 3 metros de altura, que existiam naquela região do Mundo há mais de 10.000 anos. O percurso por trilhos pelo seu interior e a vista desde a entrada para os fiordes Chilenos só por si justificam a visita.
Links
Hotel: Escolhi este local » Ver AQUI . Trata-se de uma casa familiar, pessoas muito agradáveis. Quarto muito confortável, apesar de ter WC e duche fora. O alojamento em Puerto Natales não é barato e tratava-se de época alta. Gostei muito.
Autocarros de carreira, El Calafate(Argentina)- Puerto Natales (Chile) e Puerto Natales-Punta Arenas. O serviço de autocarro é excelente, no entanto não aconselho marcar tours pelos links deste site, pois comigo falharam.
PUNTA ARENAS (1 noite)
A minha última paragem na zona mais Austral do Mundo.
Tendo chegado depois da meia noite, e o meu voo para Satiago ser ao início da tarde, não tive mais de 2 horas para (re)conhecer Punta Areas. Um passeio até ao Cerro de la Cruz de onde, do alto, temos uma panorâmica da cidade e do Estreito de Magalhães, a passagem pela Plaza Armas onde se encontra a estátua do navegador Português e depois até à Avenida Costanera, uma marginal. Daqui, em frente ao Estreito Fernão de Magalhães me despedi da Patagónia e destes últimos dias de Verão Austral, leia-se invernal.
Links
Hotel: Escolhi este local » Ver AQUI. Satisfatório. Localizado perto do terminal rodoviário. O alojamento em Punta Arenas não é barato e tratava-se de época alta.
Aeroporto de Punta Areas, só é possível aceder de táxi.
Companhia aérea low cost Chilena. » Ver AQUI.
VALPARAÍSO E VIÑA DEL MAR (2 noites)
Um voo de 3 horas até Santiago, onde tive a possibilidade de lá do alto vislumbrar a zona dos Lagos quando sobrevoava a mesma. Depois de aterrar, ir para o centro da cidade, e mais 1h30 de autocarro até Viña del Mar, o local onde escolhi ficar alojado. Uma tarde inteira a cruzar meio país. E finalmente o Verão dava mostras de ser. Tempo de praia e ao cair da noite o Oceano Pacífico mesmo ali ao lado. Naquela zona, de Pacífico só mesmo o nome. Perigosíssimo e gelado.
Viña del mar é uma das estâncias de praia prediletas dos Chilenos. Muitos prédios modernos, hotéis, restaurantes, um famoso casino e uma vida noturna animada com vários bares e discotecas.
O dia seguinte de manhã o programa foi para visitar Valparaíso, que dista cerca de 30 minutos de autocarro ou de metropolitano. Cidade portuária, sede do Congresso Nacional do Chile e terra natal de muitos Chilenos famosos entre os quais o antigo ditador Augusto Pinochet. A cidade é encantadora, com muitas colinas íngremes cheias de casas coloridas, acessíveis por várias carreiras de funicular. A terra onde o poeta Pablo Neruda escolheu viver e dizem mesmo os leitores das suas obras, que o mesmo descreve Valparaíso na perfeição.
A tarde foi dedicada à praia. Reñaca, a mais famosa da zona. Pela primeira vez tomei banho no Oceano Pacífico e o momento fica registado para a posteridade. Veremos se conseguirei nos próximos tempos acrescentar mais um Oceano ao meu palmarés.
E para terminar o dia, o ponto escolhido foi o alto, nas dunas de Concón onde a vista sobre o Oceano Pacífico encanta.
Links:
Hotel: Escolhi ficar neste hostel » Ver AQUI. Económico, central e pessoal atencioso. Não esperem um luxo, mas podem contar com a gentileza do staff. Sem as dicas deles seria difícil eu ter feito um roteiro tão completo.
Restaurante: Recomendo o restaurante “Cholos” de gastronomia Peruana, caso queiram provar ceviche, uma especialidade Peruana mas muito apreciada também no Chile.
Transporte entre Santiago e Viña del mar ou Valparaíso: Existem imensos transportes diários desde a Estação Alameda ou Estação Pajaritos em Santiago do Chile para Valparaíso ou Viña del mar. Existem também autocarros com saída do aeroporto de Santiago, no entanto a frequência é menor. O preço é barato e os autocarros são extremamente confortáveis!» Ver AQUI.
SANTIAGO (1 noite)
À gigantesca capital do Chile, moderna cidade, onde vivem cerca 7 milhões de habitantes, cheguei ao início da tarde. No dia seguinte à noite viajaria para Montevideu (Uruguai).
Uma cidade com elevados níveis de poluição. Cercada pelas altas montanhas da Cordilheira dos Andes, que a colocam num verdadeiro “poço” onde sofre o efeito da poluição produzida pelos veículos que circulam nas suas ruas e também quando há incêndios nas florestas circundantes. Ali dentro acumulam-se todos os gases. Quando sobrevoamos a cidade e nos preparamos para aterrar, os efeitos da poluição e o nevoeiro causado por estes gases é bem visível. Santiago, apesar de tudo, tem uma localização privilegiada. De um lado as estâncias de ski das montanhas, a cerca de 40Km, do outro as praias de Viña del mar, a cerca de 130Km.
Um dia e meio foi o tempo que sobrou para visitar Santiago. Julgo ter visto a maioria dos pontos principais.
A primeira paragem foi o Estádio Nacional, um estádio antigo, casa da Seleção Nacional Chilena de futebol e também o clube de futebol “Universidade do Chile”. Foi palco do Campeonato do Mundo de 1962 ganho pelo Brasil. Mas o mais importante deste recinto é a sua História ligada ao regime ditatorial. Ali funcionou um centro de detenção, tortura, sequestro e extermínio. Uma parte da bancada de um dos topos é vedada e os esses lugares nunca são vendidos, tornando esse local um memorial às vítimas que ali sofreram. Um local obrigatório visitar mesmo que não sejamos adeptos de futebol.
Seguiu-se o Palácio de La Moneda, sede da Presidência da República. Ali ocorreu a morte, por assassinato ou por suicídio conforme as várias versões da História, do antigo Presidente Salvador Allende, durante o golpe de estado de 11 de setembro de 1973, que permitiu a Augusto Pinochet tomar conta do poder. O momento fotográfico da minha visita ficou registado com um casal Brasileiro que conheci anteriormente no Estádio Nacional.
Ele, adepto do Santos e com muita admiração pelo Benfica e por Eusébio.
O dia terminou lá no alto da Torre Sky Costanera, o edifício mais alto da América do sul, de onde a vista sobre a cidade e sobre as montanhas da Cordilheira dos Andes nos deixa perplexos com tamanha imensidão.
O dia seguinte começou no Cerro San Cristóbal, lá no alto um santuário dedicado à Virgem da imaculada Conceição. O acesso por teleférico permite-nos observar a vista sobre a cidade à medida enquanto subimos, inclusivamente sobre as favelas, o lado mais oculto. Lá no alto a vista impressiona. O regresso pode ser feito de funicular. Para mim foi o local mais importante que visitei em Santiago. A versão feminina do Corcovado do Rio de Janeiro.
Durante a tarde visitei a Plaza de Armas, o coração da cidade, e o Museu Histórico Nacional onde podemos descobrir as origens daquele povo e perceber de facto aquilo que na Europa chamam de Descobrimentos, como é visto e sentido pelos Sul Americanos. Antes de ir embora fiz questão de passar pelo Museu da Memória e dos Direitos Humanos e refletir um pouco sobre o sofrimento daquele povo em anos tão recentes e que ainda hoje é sentido. Um povo de “sangue quente” que se revolta e luta pelos seus direitos. Um país em que as revoluções estão bem presentes e a política está em cada canto, seja murais de rua ou conversas de café.
E termino citando uma pequena passagem do hino do Chile, que passou a ser corrente ouvir nos jogos da Copa América, que subscrevo na íntegra! Um país lindíssimo!
Puro, Chile, es tu cielo azulado,
puras brisas te cruzan también,
y tu campo de flores bordado
es la copia feliz del Edén
Majestuosa es la blanca montaña
que te dio por baluarte el Señor,
y ese mar que tranquilo te baña
te promete futuro esplendor.
Links Úteis:
Hotel: Dado a situação de instabilidade no Chile, com diversos confrontos e manifestações, após contactar a embaixada de Portugal fui aconselhado a marcar hotel longe do centro da cidade, portanto para cima de Tobalada, bairro Los Condes. Assim, escolhi o apharthotel “monarca las condes” localizado junto à Escola Militar, perto do metro. Confortável e económico. Tem piscina no terraço.
Transporte do Aeroporto de Santiago para a cidade; há autocarros diretos, imensas carreiras diárias, por exemplo da Turbus ou da Centropuerto para a Estação Alameda que podem passar na Estação Pajaritos. Ambas as estações são servidas por metro nas proximidades.
Hino do Chile » Ver AQUI
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