“Oh Canada”! Uma passagem de 4 dias por este gigantesco país
Texto & Fotos de Mário Menezes
“Oh Canada”, assim começa o hino nacional desta enorme nação que tive oportunidade de visitar.
Aproveitando a minha viagem pela América do Norte em 2016, onde comemorei o meu 41º aniversário, de Nova Iorque, dei um salto ao Canadá, aceitando um convite de uma pessoa que fiz amizade dois anos antes quando estive em Copenhaga. Outro Mário, cujos pais vivem em Portugal e os filhos no Canadá. Um tipo que viaja pelo Mundo fora em trabalho pois é comissário da Air Canada. Entretanto tornou-se avô e o pai muito recentemente partiu. Enfim, a vida é mesmo isto…
O Canadá é um país gigantesco, maior só mesmo a Rússia. A população, em número igual ao Estado da Califórnia, concentra-se praticamente a sul, em 1/3 do território, junto à Fronteira dos EUA. Um povo multiétnico e multicultural, extremamente hospitaleiro, educado, afável e civilizado. Isto pode ser constatado por exemplo na condução, onde não se vêem buzinadelas a protestar com outros condutores.
Durante estes dias convivi com habitantes cujas origens são de diversos países do Mundo: Portugal, Suécia, Eslovénia, Arménia, Itália, Índia, por exemplo.
Um país moderno, seguro e limpo. Com auto estradas a perder de vista, com várias faixas de trânsito e sem portagens.
Jamais irei esquecer a forma como aquelas pessoas me receberam e me trataram e as minhas experiências de viagens que com eles partilhei. Posso viajar sozinho pelo Mundo fora, mas por incrível que pareça, nestas viagens faço grandes amizades e já convivi de perto com várias famílias. Na Rússia e no Canadá!
Os quatro dias que passei no Canadá, foram circunscritos à província do Ontário. Uma província cuja área supera a soma do território da França com a Espanha, e a parte dos lagos supera a área de Portugal Continental.
Niagara on the lake, Niagara falls, Toronto e Barrie foram os locais que conheci.
O Canadá foi um dos países que melhor me acolheu, e escrevo este texto como forma de eternizar a minha gratidão aos meus amigos que ali tenho e que tão bem me receberam e tão bem me trataram. À família do Mário, da Pina e da Jayne!
Niagara on the lake
Esta pequena cidade plantada à beira do Rio Niágara e do Lago Ontário salta para as bocas do Mundo todos os anos no mês de Janeiro devido ao “Ice wine fest”. Um festival dedicado ao vinho “ice wine”, que ali é produzido, sendo obtido através das uvas geladas. Um vinho doce, com pouca graduação alcoólica (cerca de 11%) e que é normalmente servido para acompanhamento de sobremesas ou mesmo dos famosos “marshmallow” assados numa fogueira.
Para o festival toda a cidade está engalanada e as adegas, com destaque para a Peller Estates, são o ponto de visita, tendo a possibilidade do visitante provar em cada uma a sua especialidade vinícola.
À noite não esqueço a jantarada que me foi oferecida por uma família Canadense. A Jayne, uma moça com origens na Eslovénia, um país que quero muito visitar, e tal como o filho mais velho, falava Português corretamente! “Jambalaya” foi o menu e tão bem me soube recordar o filme do saudoso Robin Williams, que se vestia de avozinha, a hilariante cena do restaurante! Desde que vi esse filme que estava desejoso de provar esta iguaria!
Nos anos seguintes, com aquela família Canadiana anfitriã deste jantar e patrocinadora deste dia por aqui passado, temos feito sempre por esta altura, um “brinde à distância”. Eles desde o festival “Ice wine fest”, que visitam todos os anos,e eu, nos últimos anos, desde a China, Índia, Japão e Argentina, locais onde estive nesta altura, brindando com eles, mesmo com os efeitos da diferença horária!
Niagara Falls
As Cataratas do Niagara não podem faltar a quem visita o Estado de Ontário do Canadá. “Niagara falls” é o nome da cidade em que as mesmas podem ser observadas do lado Canadiano. A melhor e a maior vista é mesmo deste lado. A chamada “Cidade dos namorados”, dada a quantidade de entretenimento aqui existente e por ser um dos locais escolhidos pelos recém-casados, pois por ali situam-se vários hotéis com vista para as Cataratas.
Uma curta passagem ao final do dia serviu para conhecer aquela força da natureza, aquela maravilha da natureza.
Janeiro não é propriamente um mês alto para o turismo de massas, e desfrutar daquele local com poucas pessoas é ainda melhor. O som das quedas de água chega a ser ensurdecedor.
O local inspirou o poeta Cubano, José María Heredia, a escrever o famoso poema “Oda al Niágara”. No local está feita referência a este poeta e ao poema.
A visita às Cataratas do Niágara é um dos momentos mais importantes das minhas histórias de viajante.
Por capricho do destino, visitei este ano as Cataratas de Iguazu, exatamente quatro anos depois de ter estado nas do Niágara!
Toronto
A maior cidade do Canadá. Um local ultra moderno. Limpo, seguro e acolhedor. É a cidade com maior diversidade étnica do Mundo. Não faltam inúmeros Portugueses e luso descendentes que por ali vivem.
Uma cidade tão moderna, que me fez lembrar o filme que vi há cerca de 30 anos, e que poderia muito bem ser ali passado, “Total Recall” com Arnold Schwarzenegger como personagem principal.
A cidade é grande, mas em um dia conseguimos conhecer as ruas mais importantes que ficam concentradas na zona central. Fora da zona central existem várias zonas de moradias e edifícios mais baixos.
A zona central, onde predominam os arranha-céus, é dominada pela “CN Tower”, a imagem de marca da cidade. Os seus 553 metros de altura tornam-na na atual 3ª torre de comunicações mais alta do Mundo. Lá de cima a vista, para um dos lados sobre a área metropolitana e para o outro, a imensidão do Lago Ontário é a perder de vista.
A zona circundante da CN Tower com o seu ultra moderno complexo desportivo Rogers Center, um estádio multifuncional onde se disputam mormente jogos de basebol, mas que já recebeu outras modalidades como o futebol Americano e o Soccer, pois ele converte-se facilmente com a mudança de posicionamento das bancadas, assim como o teto que abre e fecha.
A zona da CN Tower é apenas uma parte das infra estruturas ultramodernas e futuristas de Toronto que é bem visível de longe. A “PATH” está debaixo do chão. Os cerca de 30 Km de túneis que constituem a passagem pedestre entre vários pontos da cidade para que no Inverno seja possível percorrê-la sem sofrer as consequências das baixas temperaturas que muitas vezes rondam dos -30ºc. Uma cidade por baixo de outra cidade que funciona também como galeria comercial. A “PATH” de Toronto está no livro do Guinness como o maior complexo comercial subterrâneo do Mundo.
A cidade é servida por modernos meios de transporte, com destaque para o metropolitano que chega aos principais locais.
A Câmara Municipal de Toronto é outro dos edifícios famosos. Ali no coração da cidade fica a “Yonge-Dundas Square” comparada à Times square de Nova Iorque.
A sala de concertos Roy Thomson com a sua arquitetura futurista também foi um dos pontos de passagem.
Toronto é uma cidade que enche de orgulho os Canadianos. A sua modernidade, limpeza, segurança, qualidade de vida e baixa taxa de criminalidade, contrasta com muitas das cidades do seu país rival, os EUA.
Barrie
A cidade onde fiquei alojado no Canadá. A cerca de 100 Km de Toronto, percorridos sempre em auto-estrada sem portagem. Um local onde se respira ar puro e se está em contacto com a natureza, com uma qualidade de vida ao nível do melhor do Mundo. Com imensas moradias que parecem baixas, mas com vários pisos, em que os moradores nem precisam de fechar a porta da rua à chave, dado o nível de segurança existente.
Um destino de vários Canadianos para fugir à confusão de Toronto. Seja no Inverno para a prática de ski ou para a pesca no Lago Simcoe que congela nesta época, seja no Verão para aqui desfrutar de belos dias de praia (lago) e de sol.
Para o ski, o Snow Valley Ski Resort é o local ideal. Mesmo quem não saiba esquiar, há sempre a possibilidade de escorregar com boias pelas pistas preparadas para este fim. Aqui é normal vermos autocarros cheios de jovens em idade escolar para aqui passarem os tempos livres que as escolas lhes proporcionam.
E nestas alturas de frio, o “poutine”, especialidade de batata frita, queijo fundido, coberto com um molho de carne, é o ideal para retemperar as forças e nos aliviar do frio.
Sem dúvida que o Canadá me encantou e um dia espero voltar para conhecer outras paragens como Ottawa, Montreal ou Vancouver.
Poema de José María Heredia, “Oda al Niágara”:
Emplad mi lira, dádmela, que siento
en mi alma estremecida y agitada
arder la inspiración. ¡Oh!! ¡cuánto tiempo
en tinieblas pasó, sin que mi frente
brillase con su luz!… ¡Niágara undoso;
tu sublime terror sólo podría
tornarme el don divino, que, ensañada,
me robó del dolor la mano impía!
Torrente prodigioso, calma, calla
tu trueno aterrador; disipa un tanto
las tinieblas que en torno te circundan;
déjame contemplar tu faz serena
y de entusiasmo ardiente mi alma llena.
Yo digno soy de contemplarte: siempre
lo común y mezquino desdeñando.
ansié por lo terrífico y sublime.
Al despeñarse el huracán furioso,
al retumbar sobre mi frente el rayo,
palpitando gocé; vi al Océano,
azotado por austro proceloso,
combatir mi bajel, y ante mis plantas
vórtice hirviente abrir, y amé el peligro.
Mas del mar la fiereza,
en mi alma no produjo
la profunda impresión que tu grandeza,
Sereno corres, majestuoso, y luego
en ásperos peñascos quebrantado,
te abalanzas violento, arrebatado,
como el destino irresistible y ciego.
¿Qué voz humana describir podría
de la Sirte rugiente
lo aterradora faz? El alma mía
en vago pensamiento se confunde
al mirar esa férvida corriente
que en vano quiere la turbada vista
en su vuelo seguir al borde obscuro
del precipicio altísimo; mil olas,
cual pensamientos rápidos pasando,
chocan y se enfurecen,
y otras mil y otras mil ya las alcanzan,
y entre espuma y fragor desaparecen.
¡Ved: llegan, saltan! El abismo horrendo
devora los torrentes despeñados;
crúzanse en él mil iris, y asordados
vuelven los bosques el fragor tremendo.
En las rígidas peñas
rómpese el agua; vaporosa nube
con elástica fuerza
llena el abismo en torbellino, sube,
gira en torno, y al éter
luminosa pirámide levanta,
y por sobre los montes que le cercan
al solitario cazador espanta.
Mas, ¿qué en ti busca mi anhelante vista
con inútil afán? ¿Por qué no miro
alrededor de tu caverna inmensa
las palmas ¡ay! las palmas deliciosas,
que en las llanuras de mi ardiente patria
nacen del sol a la sonrisa, y crecen,
y al soplo de las brisas del Océano,
bajo un cielo purísimo se mecen?
Este recuerdo a mi pesar me viene…
Nada ioh Niágara! falta a tu destino,
ni otra corona que el agreste pino
a tu terrible majestad conviene.
La palma y mirto y delicada rosa,
muelle placer inspiren y ocio blando
en frívolo jardín; a ti la suerte
guardó más digno objeto, más sublime.
E! alma libre, generosa, fuerte,
viene, te ve, se asombra,
el mezquino deleite menosprecia,
y aun se siente elevar cuando te nombra
¡Omnipotente Dios! En otros climas
vi monstruos execrables
blasfemando tu nombre sacrosanto,
sembrar error y fanatismo impíos,
los campos inundar con sangre y llanto,
de hermanos atizar la infanda guerra,
y desolar frenéticos la tierra.
Vilos, y el pecho se inflamó a su vista
en grave indignación. Por otra parte
vi mentidos filósofos, que osaban
escrutar tus rnisterios, ultrajarte.
y de impiedad al lamentable abismo
a los míseros hombres arrastraban.
Por eso te buscó mi débil mente,
en la sublime soledad; ahora
entera se abre a ti; tu mano siente
en esta ininensidad que me circunda;
y tu profunda voz hiere mi seno
de este raudal en el eterno trueno.
¡Asombroso torrente!
;Cómo tu vista el ánimo enajena!
y de terror y admiración me llena!
¿Do tu origen está? ¿Quién ferti!iza
por tantos siglos tu inexhausta fuente?
¿Que poderosa mano
hace que al recibirte
no rebose en la tierra el Óceano
Abrió el Señor su mano omnipotente;
cubrió tu faz de nubes agitadas,
dió su voz a tus aguas despeñadas
y ornó con su arco tu terrible frente.
Ciego, profundo, infatigable corres,
como el torrente oscuro de los siglos
en insondable eternidad…! Al hombre
huyen así las ilusiones gratas,
os florecientes días,
y despierta al dolor… ¡Ay! agostada
yace mi juventud; mi faz, marchita,
y la profunda pena que me agita
ruga mi frente de dolor nublada.
Nunca tanto sentí como este día
mi soledad y mísero abandono
y lamentable desamor… ¿Podría
en edad borrascosa
sin amor ser feliz? ¡Oh! ¡Si una hermosa
mi cariño fijase,
y de este abismo al borde turbulento
mi vago pensamiento
y ardiente adrniración acompañase!
¡Cómo gozara viéndola cubrirse
de leve palidez, y ser más bella
en su dulce terror, y sonreirse
al sostenerla mis amantes brazos…
Delirios de virtud… ¡Ay! ¡Desterrado,
sin patria, sin amores,
sólo miro ante mi llanto y dolores!
¡Niágara poderoso!
¡adiós! ¡adiós! Dentro de pocos años
ya devorado habrá la tumba fría
a tu débil cantor. ¡Duren mis versos
cual tu gloria inmortal! ¡Pueda piadoso
viéndote algun viajero,
dar un suspiro a la memoria mia!
Y al abismarse Febo en Occidente,
feliz yo vuele do el Señor me llama,
y al escuchar los ecos de mi fama,
alce en las nubes la radiosa frente.
Links:
Mr Doubtfire (1993) – hot jambalaya scene
Poema de José María Heredia, “Oda al Niágara”
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