Rennes, capital da Bretanha
Texto & Foto de Mário Menezes
O retorno às viagens em 2021 foi feito em Malta e em França. O mês de outubro foi extraordinário! Aguardemos que estes dias sejam para continuar em 2022.
Quatro dias e três noites, sendo duas delas em Rennes. A outra em Nantes, que marcou o início e o fim desta escapadela.
A Rennes cheguei já de noite, o dia seguinte foi destinado ao Monte Saint-Michel, o ponto principal desta viagem. Assim, para Rennes, sobrou um dia inteiro para conhecer os seus pontos principais.
Rennes é a capital da Bretanha, uma das regiões famosas do país mais visitado do Mundo, e o maior da UE-União Europeia. Esta região continental, é a mais ocidental, possui uma área maior que alguns dos Estados Membros da UE (Eslovénia por exemplo…) e para ser explorada são necessário alguns dias, sendo a forma mais eficiente, alugando um automóvel. Famosa pelos seus monumentos pré-históricos, os menires e os dolmens, pelas suas praias e cidades portuárias sendo algumas consideradas das mais bonitas cidades da França. É possível aceder por via marítima à Inglaterra ou à Irlanda, da cidade de Roscoff, e de Saint-Malo às Ilhas Britânicas do Canal da Mancha. A minha curta estada fez-me desejar um dia voltar para conhecer melhor esta região, um slogan que já profiro de forma recorrente…
Rennes é uma cidade ainda mais pequena que Nantes. Num dia conseguimos percorrer praticamente todos os seus pontos principais, quase sempre caminhando. Banhada pelo Rio Vilaine, com canais contendo jardins flutuantes, que se encontram no centro histórico e praias fluviais na periferia, como é o caso da Plage d’Apigné.
No centro histórico sobressaem as suas coloridas casas de enxaimel, uma técnica em que as paredes são montadas com vigas de madeira em posições horizontais, verticais ou inclinadas sendo espaços preenchidos com pedras, adobe ou taipa, praticamente sem utilização de reboco. A notória influência Germânica por estes lados, as “fachwerkhaus” assim chamadas na Alemanha, em França chamadas de “maisons à pans de bois”.
Foi na Praça de Sainte-Anne, por onde na noite anterior tinha deambulado, que dei início ao meu passeio por Rennes, no dia, véspera “de todos os Santos”, que começou com uma grande chuvada. A indumentária que trazia, as calças não eram as mais adequadas aos salpicos, e tive de me abrigar durante cerca de uma hora num café, localizado numa das coloridas casas de enxaimel, pedindo a São Pedro que o temporal passasse rapidamente. A minha “pinta” de estrangeiro motivou que fosse abordado por três senhoras locais, tendo passado algum tempo a falar com elas sobre as minhas aventuras pelo Mundo fora e mostrar-lhes o que já tenho escrito, desde os tempos em que a pandemia me limitou as viagens às memórias do passado! Uma conversa muito agradável, à mesa, com vista para a Igreja “Notre-Dame de Bonne Nouvelle” , mais uma das muitas “Notre-Dame” por terras Gaulesas e para o Convento dos Jacobinos onde atualmente funciona um centro de congressos.
As senhoras encantaram-se com o meu conhecimento do Mundo, que tenho ganho nos últimos anos, e prometeram que iam ler tudo o que escrevi, recorrendo como é óbvio ao “Google translator”. A chuva finalmente deu tréguas e eu segui a minha vida, pois a hora tinha mudado na noite anterior e com isso, o dia ia ter menos uma hora de sol. E pelo centro histórico, e periferia também, havia muito que descobrir.
A Igreja de Saint Germain e a Basílica São Salvador de Rennes são alguns dos edifícios religiosos existentes na cidade que cruzamos no nosso passeio pelas ruas, algumas delas pedonais, como a Rua d’Estrées, com várias lojas, até à Praça do Parlamento onde se localiza o Parlamento da Bretanha, o edifício mais famoso da cidade. Até 1790 ali era efetivamente sediado o Parlamento Bretão, depois serviu como tribunal. Destruído por um incêndio em 1994, foi restaurado e atualmente alberga o Tribunal de Recurso da Bretanha. Ao lado, a Praça “de la Mairie” onde se destacam os edifícios, um em frente do outro, da Ópera e da Câmara Municipal (Hôtel de Ville).
Caminhando mais um pouco, chegamos à Praça da República, cujo edifício do Palácio do Comércio domina, é local de confluência de várias linhas de autocarros da rede de transportes públicos, que inclui também a estação “République” da linha do metropolitano. Rennes é uma das cidades Francesas que possui metropolitano, com troços subterrâneos. Inaugurado em 2002, é um sistema ultramoderno. Carruagens sem maquinista, estações com plataformas anti suicídio, elevadores e escadas rolantes em profundidade, até à plataforma e monitores que apresentam o tempo de chegada exato das composições. A rede de bicicletas partilhadas, sistema de mobilidade em crescimento nas cidades, também está incluída na rede de transportes públicos. Outro local servido pelo metropolitano, é a “Gare Rennes” onde se chega à cidade de comboio, de TGV também, ao lado do terminal rodoviário, onde se chega de forma mais económica, tanto de dentro como de fora do território Gaulês.
Mercados na cidade, destaca-se um, na Praça de Lices, de venda ambulante, que funciona todos os Sábados pela manhã. Trata-se do segundo maior mercado de alimentos de França, onde cerca de 300 produtores locais vendem frutas, legumes, peixe fresco, carne e queijo, além de flores. Há cerca de 400 anos é um evento importante na vida da cidade. Funcionando diariamente, Mercado central La Criée. Um local coberto, com as suas bancas de venda de produtos nacionais, onde os queijos e os mariscos se destacam. Um local que nos traz água na boca e alguma frustração, pois um viajante em curta escapadela, cuja bagagem se limita a uma mochila às costas, não tem possibilidade de trazer nada consigo no avião…
Parques e jardins também não faltam em Rennes.
Os jardins do Palácio do Saint-Georges. Palácio mandado construir pela Abadessa Magdelaine de la Fayette, cujo nome se encontra escrito em maiúsculas na fachada. Durante a Revolução Francesa tornou-se quartel. Atualmente ali funcionam serviços públicos como, por exemplo, a Polícia Municipal.
O Parque do Thabor, comparado pelos locais ao Central Park de Nova Iorque onde anualmente na Primavera é levado a cabo o Festival “Mythos”. Ocupa uma área com cerca de 10 hectares, combinando um jardim Francês, um jardim Inglês, uma caverna, cascatas, um jardim botânico, aves em cativeiro, um coreto de música e um jardim com mais de 2.000 variedades de rosas.
Junto ao edifício “Hôtel de la Préfecture” onde funciona o Governo Regional, fica a Praça da Ordem Nacional de Mérito, junto a um pequeno jardim que contém um memorial de guerra com as antigas colónias do Norte de África: Tunísia, Marrocos e Argélia.
Saindo do centro da cidade, rumando à zona sul, passamos no Jardim da confluência, nas margens do Rio Vilaine.
Em Rennes também se respira futebol. O “Stade Rennais Football Club” conhecido como “Stade Rennes” é o maior clube da cidade. Fundado por estudantes em 1901, já conquistou alguns troféus nacionais, mas nunca foi campeão Francês. O maior feito ao nível da “Ligue 1” ocorreu em 2020 ao atingir a “Champions League”. Grandes figuras do futebol Francês e Mundial vestiram a sua camisola “vermelha e negra” como por exemplo Sylvain Wiltord, Petr Čech ou Alexander Frei, nomes que podem ser encontrados num mural nas proximidades do estádio. Estes rumaram a outras paragens, a grandes ligas, a grandes palcos, vindo aí alcançar a fama, os grandes títulos e os ordenados milionários. Também se destaca uma placa, um memorial aos membros do clube que perderam a vida ao serviço da pátria nas duas grandes guerras.
O Estádio “Roazhon Park” é a casa do Stade Rennes. Anteriormente chamado de “Estádio da Estrada de Lorient”, fica localizado na margem do Rio Vilaine, na zona sul da cidade, a cerca de 3 km da Praça da República. Foi o passeio escolhido para o meio da tarde, depois de explorar praticamente todo o centro da cidade.
Inaugurado em 1912, propriedade do Município de Rennes, teve várias remodelações, antes da II Guerra Mundial, na década de 50 e no final da década de 80. Entre 1999 e 2004, todas as bancadas foram renovadas ou reconstruídas, aumentando assim a sua capacidade para cerca de 30.000 lugares sentados, todos cobertos.
Infelizmente neste estádio, não passei da porta e não pude juntá-lo ao rol dos muitos que visitei pelo mundo fora. Aliás, a França é um país onde na maior parte dos estádios de futebol não consigo entrar.
De regresso ao centro histórico, para me despedir da cidade com as últimas horas de sol, a caminho do hostel onde deixei a mochila, uma passagem pelos Portões Mordelaises. Aquilo que resta das muralhas da cidade, um sistema de defesa e também era aqui que todos os duques da Bretanha tinham de fazer um juramento antes de serem coroados, daí o monumento também se chamar de “Porta real”. A poucos metros fica a Catedral de Saint-Pierre de Rennes, em tempos o local onde os duques da Bretanha eram coroados. No seu interior destacam-se os vitrais, as pinturas dos tetos e das naves e também os sumptuosos órgãos. Foi neste local, de certo modo abençoado por Deus, que dei por encerrado o passeio por Rennes. Regressei então a Nantes, onde cheguei à hora do jantar.
Quanto à gastronomia, a França é o país da alta cozinha, no entanto os preços praticados nos restaurantes afastam os turistas para o fast food! Os “burritos” apesar de serem de origem Mexicana, por Rennes abundam, sendo um dos produtos de fast food de eleição por estas paragens!
Estando na Bretanha, não podemos deixar de provar os crepes. Foi por aquelas terras que os “crêpes”, assim se escreve em Francês, foram criados, depois do trigo sarraceno ter sido introduzido no século XII. Dali se deram a conhecer em todo o Mundo, com as devidas adaptações…
A primeira vez na vida que comi crepes tinha 8 anos de idade, numa casa que existia em Lisboa, no Centro Comercial Pão de Açúcar, agora o Pingo Doce da Av EUA. Eram saborosíssimos, mas muito diferentes dos originais que somente aos 46 anos conheci!
Os crepes de farinha branca só apareceram no início do século XX, quando a farinha de trigo se tornou acessível, tal como o açúcar. A farinha branca é usada somente na confeção da massa dos crepes doces. A massa dos crepes salgados é de trigo sarraceno, daí ser escura. Estes são recheados por dentro e por fora, podendo levar por cima, queijo, molho de tomate, ervas aromáticas, ovos estrelados ou bacon. Fora de França, na confeção de crepes, doces ou salgados, utiliza-se apenas a massa de farinha branca sendo os salgados, fechados sem quaisquer ingredientes por cima. Como qualquer especialidade gastronómica que atravessa fronteiras, vai sofrendo as devidas adaptações para se adaptar aos gostos locais.
“Poiré”, assim se chama a sidra, é outra bebida regional, sendo confecionada por aqueles lados com sumo de pêra fermentado, ao invés do sumo de maçã. Os crepes são tradicionalmente acompanhados com poiré, mas existem também inúmeras marcas de cerveja locais, muito agradáveis, como por exemplo a “Moragane”.
Voos
A Easyjet tem voos diretos de Lisboa para Nantes e do Porto para Rennes. Entre Nantes e Rennes, cerca de 115Km, é possível viajar de comboio ou autocarro, sendo esta última a forma mais económica.
Hotel
O “Auberge de jeunesse HI Rennes” oferece alojamento económico. Mas é só isso mesmo, económico. Entenda-se cerca de 45€/noite. O pequeno almoço é rudimentar, o sinal de wifi nos quartos é péssimo e com várias quebras e os quartos não possuem WC, apenas duche e lavatório. No entanto, o hostel, acaba por ser uma escolha acertada, tendo em conta os preços praticados nos hotéis em França. Fica bem localizado, distando da Praça de Sainte-Anne cerca de 1Km. A Gare de Rennes, servida pelo metropolitano, fica a cerca de 3 Km. A estação mais próxima do hostel é “Anatole France”, cerca de 1Km. Para quem chega pela primeira vez à cidade, o metropolitano é o meio de transporte mais fácil de utilizar.
Transportes públicos na cidade
Rennes é bem servido transportes públicos, nomeadamente o metropolitano, os autocarros e as bicicletas partilhadas, tudo gerido pela mesma empresa, a “Star”. Um bilhete para 1 hora custa 1,5€.
Viagens de autocarro entre Nantes e Rennes
A “Flixbus” é uma forma excelente de viajar entre cidades, conseguindo-se preços bem mais económicos que em viagens de comboio. É necessário instalar a aplicação no smartphone e através dela adquirir online os bilhetes. A paragem de autocarros “Flixbus” em Rennes fica junto à “Gare Rennes”. A paragem de autocarros “Flixbus” em Nantes (pesquisem no Google maps por “Flixbus Nantes”) é fora do centro da cidade, porém fica a poucos metros da paragem de elétrico rápido “Haluchère-Batignolles”. A viagem entre as duas cidades dura cerca de 1h20 e é sobretudo em autoestrada.
Esta ida a França marcou a minha estreia nesta forma “low cost” de viajar de autocarro!
Viagens entre Rennes e o Monte Saint-Michel e outros destinos
A keolis-armor oferece viagens de ida e volta a St Malo e ao Monte Saint-Michel, entre outros destinos. Os autocarros partem do terminal, que fica junto à Gare Rennes. Para visitar o Monte Saint-Michel, o bilhete de ida e volta custa 25€, sendo necessário um dia inteiro pois existem poucas carreiras diárias. A viagem entre Rennes e o Monte Saint-Michel dura cerca de 1h30 e é sobretudo em estradas secundárias.
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