Monte Saint-Michel, a jóia da Normandia Francesa
Texto & Fotos de Mário Menezes
Passar 4 dias em França e visitar 3 das mais importantes regiões foi uma missão cumprida com muito prazer: Nantes, a capital da região do País do Loire, Rennes, capital da Bretanha e o Monte Saint-Michel na Normandia. Qualquer destas regiões necessita de vários dias para ser explorada, sendo a forma mais rápida e eficiente, alugando um automóvel.
A França é o país mais visitado do Mundo e a sua região da Normandia, cujo seu grande embaixador gastronómico é o queijo Camembert, é um dos seus pontos de romaria de turistas. A região possui uma superfície próxima da superfície da Bélgica, é procurada sobretudo pelas suas praias, não como estâncias balneares, mas como locais históricos. Foi nas praias da Normandia que se deram os desembarques das tropas dos Aliados, na II Guerra Mundial, que deram início à libertação da Europa das mãos de Hitler, no “Dia D”, como é conhecido o dia 6 de junho de 1944. São 5 essas praias históricas, sendo a de Omaha a mais importante. No interior, a cidade de Rouen, a capital da região, foi o local onde a Santa Joana dArc foi executada.
A Normandia teve grande importância histórica na II Guerra Mundial como também na Guerra dos Cem Anos que opôs, no século XV, a França à Inglaterra, com Santa Joana d´Arc, uma adolescente, a ter papel determinante! A Europa é um continente carregado de História, nenhum outro lhe faz frente em museus, monumentos ou palácios. Conhecer melhor a Normandia é um desejo futuro, mas desta vez fiquei-me pela sua “joia da coroa”!
A Abadia do Monte de Saint-Michel, inscrita desde 1979 na lista do Património Mundial da UNESCO, é um dos monumentos mais visitados de França, muito provavelmente o local mais visitado fora da área metropolitana de Paris. Muitos turistas visitam-no num bate volta de um dia, aproveitando a sua estada na “Cidade luz”, que dista cerca de 350 Km. Eu visitei-o aproveitando a minha estada em Rennes, que fica bem mais perto, cerca de 80 km. De autocarro a viagem dura cerca de 1h30 e pelo percurso, a maior parte em estradas secundárias, desfrutamos de paisagens verdes de prados a perder de vista, de uma França profunda, longe do rebuliço das grandes metrópoles. A França vista do ar é verde e naquele local, além da ilha, pouco mais existe a não ser a natureza a perder de vista: o mar e a vasta zona rural das regiões da Normandia e da Bretanha.
O nome da localidade, que há muitos anos foi chamada de Monte Tombe, é agora chamado Monte Saint-Michel, uma ilha rochosa, banhada pelo Canal da Mancha, na foz do Rio Couesnon. Nessa ilha foi construída uma abadia, a Abadia do Monte Saint-Michel que é um santuário em homenagem ao arcanjo São Miguel (Michel em Francês).
A sua História remonta ao ano 709 quando o Bispo Aubert, de Avranches teve um sonho. Nesse sonho, o Arcanjo Miguel apareceu-lhe e pediu-lhe que construísse uma ali uma abadia. O sonho repetiu-se e o Bispo Aubert voltou a não lhe dar importância. Pela terceira vez, o Bispo voltou a sonhar com o Arcanjo Miguel e desta vez, o Arcanjo deve ter perdido a paciência, e fez-lhe um buraco na testa com o dedo. No interior da Abadia podemos observar uma escultura alusiva a este sonho. Então o Bispo Aubert percebeu que não se tratava de um simples sonho e ordenou ali a construção de uma igreja numa rocha que se encontrava abandonada. Em 966, o duque da Normandia ali estabeleceu uma comunidade de monges beneditinos. Estes, desde o ano 1000 foram construindo uma abadia pré-romana e uma pequena vila ao seu redor. A abadia sofreu várias ampliações ao longo dos séculos, sendo protegida por muralhas durante a Guerra dos Cem Anos, tornando-se uma fortaleza inexpugnável que resistiu a todas as tentativas dos Ingleses de tomá-la, e constitui-se assim num símbolo de identidade nacional. Durante a Revolução Francesa a abadia foi utilizada como uma prisão para dissidentes políticos. Era um local horrível de onde fugir era impossível! Em 1863 devido à pressão da opinião pública, nomeadamente de diversos intelectuais, entre os quais, o escritor Victor Hugo, a prisão foi desativada. Ao longo dos anos tem sido um local de peregrinação, pois acima de tudo é um local religioso que inspira espiritualidade.
A localização da Ilha, numa zona de marés altas, é por si um fenómeno. Imagine-se o construir ali aquela Abadia… A ilha encontra-se ligada ao continente por um istmo natural que ficava submerso quando a maré enchia. Recentemente foram levados a cabo vários trabalhos por forma a permitir a construção de uma ponte que permite aos visitantes o acesso à ilha por estrada e por um deck de madeira. Com a maré baixa, é possível efetuar passeios organizados com guias experientes e conhecedores da região, pelos seus terrenos pantanosos com areias movediças, sendo uma atividade com bastantes adeptos. Sozinho não é permitido pois é perigoso! Esse caminho até à ilha, chamado de “La traversée”, era percorrido pelos peregrinos há centenas de anos.
Para aceder à abadia, lá no alto, é necessário atravessar a vila medieval amuralhada. A própria vila também é uma atração turística. Literalmente recuamos centenas de anos no tempo quando percorremos aquelas ruas carregadas de visitantes! A “Grande Rue” é a rua principal, onde encontramos lojas de souvenirs, cafés, hotéis e restaurantes. Daqui sempre a subir chegamos à Abadia cujos acessos são também sempre em caminhada ascendente até ao topo. E do topo se inicia a visita ao interior.
Quando falamos na Abadia do Monte Saint-Michel associamos imediatamente a sua vista panorâmica do alto dos seus 80 metros, até onde é possível subir. As vistas, para o Canal da Mancha, para as duas regiões, Normandia e Bretanha e para as areias movediças que cercam a ilha que podem ser observadas com a maré vazia, são soberbas. Lá do alto conseguimos observar várias pessoas caminhando por aquelas areias movediças em grupos organizados. Mas a visita à Abadia é bem mais do que a vista panorâmica das plataformas de observação. É aos seus acessos e aos seus interiores. Ao interior da igreja românica lá no alto com 80 metros de comprimento e a estátua em ouro do Arcanjo Miguel que fica situada a 156 metros de altura, abençoando aquele local. O interior da Igreja, o refeitório, os claustros, os jardins e a sala dos Cavaleiros são alguns dos seus pontos altos.
O regresso da abadia, descendo novamente até à vila medieval amuralhada, também nos permite desfrutar de belas vistas sobre a envolvente e também sobre o casario. A hora e o local convidam a desfrutar de uma bela pausa para uma reconfortante refeição. Os “Moules-Frites”, mexilhões com batatas fritas, uma especialidade originária da Bélgica, mas que por aquelas paragens também se consome em grande escala, foi a minha escolha e recomendo! O mexilhão era de excelente qualidade, não tive quaisquer problemas, apesar de ser uma das coisas que é arriscado comer longe de casa…
Para visitar o Monte Saint Michel, é possível ficar alojado em uma das diversas unidades hoteleiras existentes na vila medieval amuralhada. Isso permite desfrutar do local durante a noite, pois iluminado é um encanto, assim como assistir à subida e descida das marés. Para um alojamento mais económico, e caso tenhamos menos dias de viagem, aconselho a ficar em Rennes, a maior cidade e a mais próxima, com ligações aéreas diretas por companhias “low cost”, a Portugal. Daqui é possível fazer um bate volta de um dia, o que é suficiente para desfrutar de todos os encantos que a joia da Normandia tem para oferecer.
De Rennes para aceder ao Monte Saint-Michel, utilizando transportes públicos, o autocarro é a melhor forma de o fazer, dado existir um serviço direto com duas carreiras diárias em cada sentido. A primeira partida de Rennes é a meio da manhã e o regresso mais conveniente é na última carreira, que é ao final da tarde. Isto permite desfrutar de um dia inteiro pelo Monte Saint-Michel, o que acaba por não ser excessivo. A viagem entre Rennes e o Monte Saint-Michel dura cerca de 1h30.
Após a visita ao Monte Saint-Michel, para rentabilizar o tempo que nos sobra até ao final da tarde, regressemos ao “Mont Saint-Michel Parking”, o local onde o autocarro que nos trouxe, nos deixou. Podemos utilizar o shuttle gratuito, ou percorrer a pé os cerca de 3km. Aqui chegados, caminhando cerca de 2 Km pela estrada D776 que conduz a Pontorson, a primeira localidade que aparece é Beauvoir.
Em Beauvoir, logo à entrada e junto à rodovia, encontramos diversos restaurantes, lojas de souvenirs, cafés e bares, onde podemos saborear e vinhos locais e também a “poire”, assim se chama a sidra, uma bebida regional, sendo confecionada por aqueles lados com sumo de pêra fermentado, ao invés do sumo de maçã. Mais um local que me trouxe água na boca e alguma frustração, pois um viajante em curta escapadela, cuja bagagem se limita a uma mochila às costas, não tem possibilidade de trazer nada consigo no avião, muito menos líquidos…
Em Beauvoir localiza-se a “Alligator bay”. Os amantes de répteis têm aqui um local de eleição. A Europa não é habitat de grande parte destes bichos, sobretudo os letais predadores, pelo que muitas destas espécies vieram de bem longe. Tartarugas de vários tamanhos, iguanas, dragões e lagartos, cobras, incluindo as temíveis anacondas, jacarés e crocodilos, com estes últimos a justificarem a minha visita. A “Alligator Bay” alberga o maior conjunto de jacarés (alligators) da Europa! Jacarés, crocodilos e gaviais, que podemos ver de perto, com distanciamento e aprender a distingui-los. Temíveis predadores, que são descendentes diretos dos dinossauros!
O Monte Saint-Michel, com a sua abadia lá no alto com a estátua do Arcanjo Miguel, cativa-nos desde o primeiro momento. Assim que o vemos pela primeira vez ao longe. Ao caminharmos em direção a ele pelo deck de madeira. Ao subirmos pelas ruas da sua vila medieval amuralhada. As vistas que obtemos do topo da sua abadia. Ao sair da abadia, descendo no regresso à vila medieval. Ao anoitecer quando o autocarro nos leva de volta ao nosso ponto de partida.
Bebendo uma “poire” numa esplanada, avistando-o ao longe e brindando a ele, foi esta a forma que escolhi para me despedir deste local místico!
Voos
Rennes é a maior cidade, servida por companhias aéreas low cost, com voos diretos desde Portugal, de onde mais facilmente se acede para visitar o Monte Saint Michel.
A Easyjet tem voos diretos do Porto para Rennes e de Lisboa para Nantes. Entre Nantes e Rennes, cerca de 115Km, é possível viajar de comboio ou autocarro, sendo esta última a forma mais económica.
Viagens de autocarro entre Nantes e Rennes
A “Flixbus” é uma forma excelente de viajar entre cidades, conseguindo-se preços bem mais económicos que em viagens de comboio. É necessário instalar a aplicação no smartphone e através dela adquirir online os bilhetes. A paragem de autocarros “Flixbus” em Rennes fica junto à “Gare Rennes”. A paragem de autocarros “Flixbus” em Nantes (pesquisem no Google maps por “Flixbus Nantes”) é fora do centro da cidade, porém fica a poucos metros da paragem de elétrico rápido “Haluchère-Batignolles”. A viagem entre as duas cidades dura cerca de 1h20 e é sobretudo em autoestrada.
Esta ida a França marcou a minha estreia nesta forma “low cost” de viajar de autocarro!
Viagens entre Rennes e o Monte Saint-Michel
A keolis-armor oferece viagens de ida e volta de Rennes ao Monte Saint-Michel. Os autocarros partem do terminal, que fica junto à Gare Rennes. Para visitar o Monte Saint-Michel, o bilhete de ida e volta custa 25€, sendo necessário um dia inteiro, pois existem poucas carreiras diárias em ambos os sentidos.
É caro, mas há que ter em conta que, para quem se deslocar em viatura (própria ou alugada), o custo do estacionamento também é caro, e nas imediações não parece que exista estacionamento gratuito….
O autocarro deixa os passageiros na zona dos parques de estacionamento, de onde existe um “shuttle” até perto da entrada da vila amuralhada. É possível fazer esse circuito a pé, são cerca de 3 Km.
Hotel Rennes
Em Rennes, o “Auberge de jeunesse HI Rennes” oferece alojamento económico. Mas é só isso mesmo, económico. Entenda-se cerca de 45€/noite. O pequeno almoço é rudimentar, o sinal de wifi nos quartos é péssimo e com várias quebras e os quartos não possuem WC, apenas duche e lavatório. No entanto, o hostel, acaba por ser uma escolha acertada, tendo em conta os preços praticados nos hotéis em França. A Gare de Rennes, servida pelo metropolitano, fica a cerca de 3 Km. A estação mais próxima do hostel é “Anatole France”, cerca de 1Km.
Restaurante no Monte Saint-Michel
Le Chapeau Rouge, na Grande rue, foi o local onde almocei Moules-Frites.
Esplanada para degustar uma poire com vista para o Monte Saint Michel em Beauvoir.
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