Belgrado, a cidade branca, a capital da Sérvia
Texto & Fotos de Mário Menezes
A Jugoslávia foi dos últimos blocos Comunistas da Europa a desaparecer. Uma antiga República Socialista Federativa estabelecida por Tito em 1946. Em tempos existia uma piada famosa que definia a Jugoslávia como “seis repúblicas, cinco etnias, quatro línguas, três religiões, dois alfabetos e um Partido”. Uma nação que apesar da ideologia de Esquerda, viveu sempre de “costas voltadas” para Moscovo, a mãe Rússia que dominava os países situados para lá da “Cortina de Ferro”. A desintegração desta nação começou a ocorrer no início dos anos 90, com a Guerra dos Balcãs. Só mesmo em 2003 o nome de Jugoslávia desapareceu por completo do mapa geográfico, sendo hoje aquele território ocupado por vários países independentes, e em que dois deles (Croácia e Eslovénia) pertencem à União Europeia e desses dois, um (Eslovénia) faz parte da zona Euro.
Belgrado era a capital dessa grande nação do Leste Europeu. Hoje é apenas a capital da Sérvia, um dos países Europeus com menor território. Uma das cidades mais antigas da Europa, pois aquela região, é há mais de 7000 anos habitada, já foi invadida por Celtas, Otomanos, Gregos e Romanos.
Foram as tribos Eslavas que ocupavam a região, que passaram a chamar-lhe “Belgrad”. A palavra pode ser encontrada na língua Sérvia, uma das línguas Eslavas da Europa, é composta por aglutinação, de “beli” com “grad” e traduz-se por “cidade branca”, nome oriundo do facto da cidade ostentar muralhas brancas. Localizada na confluência dos rios Danúbio e Sava, atualmente com quase 2 milhões de habitantes faz dela a maior de todas as capitais dos países da antiga Jugoslávia.
A minha curta passagem por Belgrado, onde dormi duas noites, ocorreu durante uma viagem com cerca de 2 semanas pela Europa. Num dia acordei em Copenhaga (Dinamarca) onde passei a manhã, depois a tarde foi passada em Malmo (Suécia) e de noite aterrei no Aeroporto Nikola Tesla na capital Sérvia, com muita neve. E foi com muita neve que vivi estes dias nesta “cidade branca” que fazia “jus” ao nome.
Nikola Tesla, além do nome do Aeroporto internacional de Belgrado, é uma figura incontornável da ciência. É para os Sérvios um herói Nacional. Tesla que afinal nasceu em território Croata, foi um inventor nas áreas da engenharia mecânica e eletrotécnica. Por exemplo os motores de corrente alternada, usados largamente nos dias de hoje ou mesmo as telecomunicações, são fruto dos trabalhos levados a cabo por este “cientista louco” que infelizmente morreu na miséria. O Museu Nikola Tesla é um dos mas importantes para ser visitado, com uma exposição permanente sobre a sua vida e obra e onde mostra muitos equipamentos com a sua patente e que foram modelos de desenvolvimento científico e tecnológico. Para meu desgosto, não foi possível visitá-lo pois ao fim de semana encontrava-se encerrado. Tenho esperança de um dia uma das suas exposições itinerantes passe por Portugal.
O centro da cidade tem largas avenidas. Uma das principais que nos conduz à Estação de comboio, a “Nemajina” passa junto às ruínas do antigo Ministério da Defesa.Uma das feridas da Guerra dos Balcãs, um edifício destruído pelos bombardeamentos NATO em 1999. Um local que nos arrepia e que serve para que saibamos o que são os horrores de uma guerra.
O edifício do Teatro Nacional é outro local onde devemos ir. Mesmo durante os dias dos bombardeamentos da NATO em 1999, manteve-se em funcionamento. Hoje ali, e em paz, podemos assistir a excelente espetáculos por um preço muitíssimo baixo para os padrões Europeus. Assisti à ópera “Madame Butterfly” por 7€ na plateia!
Na Sérvia a cultura é muito barata e tal como qualquer país do Leste Europeu, acaba por ser um paraíso cultural que só por este facto justifica visitar.
O Templo de São Sava é o edifício religioso mais famoso da cidade. É o maior templo ortodoxo na Europa e uma das 10 maiores igrejas do Mundo. É visível de vários pontos da cidade, dado a sua localização sobre um planalto. Num dia de muita neve foi inesquecível a vista ao perto deste monumental monumento. O branco era a cor predominante, devido ao nevão que se fazia sentir e também ao facto deste templo ser de cor branca.
Belgrado é famosa por dois clubes de futebol, o Estrela Vermelha e o Partizan. Os seus estádios estão separados por pouco mais de 1 Km. O Estádio Rajko Mitic é a casa do Estrela Vermelha. Clube que em 1991 venceu a Taça dos clubes Campeões Europeus (TCE), batendo na final, em Bari (Itália), o Marselha. O jogo foi decidido por pontapés da marca de grande penalidade e o momento decisivo coube a Darko Pancev. Na visita ao Museu do clube, entre inúmeros troféus estão presentes as botas com que a estrela da companhia, nascida na Macedónia, marcou esse penalty decisivo. O Estádio conhecido também por “Maracanã vermelho” devido à sua forma redonda, é local de jogos de altíssimo risco, mas fora disso é um ponto de visita obrigatório para os amantes do desporto rei. Os visitantes são ali muitíssimo bem recebidos. No meu caso, o staff falou comigo sobre o Benfica, sobre Zoran Filipovic, antigo jogador de ambos os clubes, que era visita habitual, e sobre Eusébio que tinha falecido recentemente. Ainda tive tempo de tomar uma cerveja, no bar com vista para o relvado, com um grupo de turistas Australianos que amavelmente me convidaram. Eles estavam viajando pela Europa e visitavam muitos estádios de futebol e o seu filho adolescente ficou pasmado e nem queria acreditar, quando lhe disse que vi muitas vezes jogar ao vivo o Cristiano Ronaldo!
O Estádio Partizan, onde joga o clube rival, consegui entrar dentro, amavelmente me convidaram a fazê-lo, e posar no relvado que estava coberto de neve. Nas transmissões televisivas noturnas dos jogos aqui realizados, muitas vezes é mostrado o Templo de São Sava iluminado que se pode ver ao longe do alto das bancadas onde as câmeras das TV são colocadas.
Quis o destino que o meu 39º aniversário fosse passado nesta cidade. A Fortaleza de Kalemegdan foi o local escolhido. Fica localizada num complexo que engloba o Parque Kalemegdan e no ponto de confluência dos rios Danúbio e Sava. Daqui podemos desfrutar da vista para a parte moderna da cidade. Este é o local mais visitado de Belgrado. Uma fortaleza antiga com mais de 2000 anos e que já albergou a população da cidade. O Museu Militar também faz parte do complexo e durante a visita podemos observar inúmeros canhões e tanques de guerra e diverso material bélico. Referências à Guerra dos Balcãs também não faltam.
Ali nas imediações da Fortaleza de Kalemegdan encontramos a “Knez Minailova”, uma rua pedonal de compras, onde todos os caminhos vão dar.
Também a famosa “Strahinjića Bana”, uma rua chamada ironicamente de “Silicone Valley” devido à elevada frequência de transeuntes do sexo feminino que parecem ter implantes mamários. Ali reside a classe rica de Belgrado e também é uma das zonas de diversão noturna.
Ao lado, a “Skadarska” também famosa pela atividade boémia em Belgrado. Jamais esquecerei o Red Bar, um local ideal para beber um copo, e conviver com os gatos de estimação lá residentes, muito mansinhos e cujos visitantes não os incomoda! Por ali há diversos restaurantes onde se podem provar vários pratos de gastronomia Sérvia em que o borrego é muito usado, devido à influência Muçulmana.
Vinhos Sérvios também existem e provar é obrigatório. Quanto à bebida nacional, a “rakija”, convém não abusar!
Quem Visitou a Hungria e ficou “fan” dos “Kürtőskalács”, tem aqui em Belgrado possibilidade de voltar a deliciar-se com esses doces. Excelentes para fazer uma pausa durante uma tarde a caminhar por aquelas ruas.
Belgrado e a Sérvia são sobretudo caminho de passagem dos Europeus para as praias e estâncias de ski, da Grécia, Roménia ou da Bulgária e provavelmente estão entre os “parentes pobres” destes países da antiga Jugoslávia, cujas estâncias balneares, parques naturais e lagos existentes na Eslovénia e na Croácia estão no topo de visitas dos turistas estrangeiros. O facto da Sérvia ainda não pertencer à UE também condiciona. Muitos Sérvios “torcem o nariz” a esta possibilidade, que significará verem a Alemanha comandar os destinos da sua pátria. Mesmo assim, as pessoas em Belgrado são muito comunicativas, falam Inglês em grande escala e recebem muito bem os estrangeiros. Muitos Sérvios emigram para países limítrofes como por exemplo a Áustria, onde os salários são bem mais altos.
A Sérvia mesmo não pertencendo à UE, já é possível ser visitada sem passaporte.
Os dias que passei em Belgrado deixaram-me encantado. O povo é extremamente alegre, afável e atencioso. Do melhor que encontrei na Europa. De Belgrado segui para Sófia (Bulgária) de comboio noturno. Em Sófia o povo é muito diferente. Bruto, fechado e antipático!
O desejo de regressar à antiga Jugoslávia tem-se mantido desde que visitei Belgrado, pois há tanta beleza para descobrir nesta zona do Leste Europeu que tão bem me senti!
Nesta fase de pandemia em que viagens turísticas intercontinentais não deverão fazer parte dos nossos planos para os próximos anos, quem sabe se para lá dos Balcãs não estará uma luz ao fundo do túnel para eu poder continuar a celebrar os meus aniversários no estrangeiro.
Links:
Voos: A Wizzair tem atualmente uma rota direta de Lisboa para Belgrado
Resumo do jogo (penaltis) da final TCE, Estrela Vermelha-Marselha (1991)
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