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12 Dez

NEPAL – A VIAGEM MAGNIFICA

 

A viagem magnífica

A emoção de caminhar no tecto do mundo é igual à que se sente no deserto ou perante a vastidão do mar. Igual, não, maior. Relato em forma de diário de duas semanas no coração dos Himalaias, na peugada de João Garcia, o maior escalador português.

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Estamos a 2642 metros ao abrir do pano, depois de um voo rasante por entre as gargantas afiadas da grande cordilheira dos Himalaias. Trinta e cinco minutos a centrifugar numa avioneta – um magnífico Dornier de asa curta e trem fixo – bastam para recuar 30 séculos, até aos primórdios do primeiro Buda. A pista de Lukla é uma rampa oblíqua de cento e poucos metros, desenhada contra a face da montanha e onde se aterra aos esses após uma razia entre duas gargantas assustadoras.

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A caminhada de duas semanas que me levará ao sopé do Evereste, um grupo de catorze maduros guiados por João Garcia, o histórico do alpinismo português que escalou o Evereste em 2001.

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Phakding‑Namche Bazaar (3440 metros)

Alvorada às seis, a coronhadas de piolet na porta do quarto, um cubículo de quatro metros por quatro, seguida de pequeno‑almoço de lavrador, ou «ração de combate», como aponta o caminheiro Gabriel, o elemento mais velho do grupo, de 60 anos, mas de determinação imparável. Comemos em redor da salamandra enquanto deitamos o olho ao mapa e à marcha de oito horas do dia (ela por ela nos restantes dias) que nos levará quase mil metros acima. O pitéu consta de papas de aveia ensopadas em leite de iaque, panquecas a quilo e chá rançoso, daqueles que dão vida a um morto. Depressa se conclui
que mesmo um lingrinhas comerá como um bruto ou ficará reduzido ao esqueleto. Garcia esclarece: «Quem venha à espera de mordomias pode tirar o cavalinho da chuva.»

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A frase avisada de Carlos, o açoriano mergulhador de Rabo de Peixe, faz a súmula: «Cada passo é um mergulho na humildade, um safanão no orgulho.» Em suma, viajar a pé pode ser uma das formas de introspecção mais compensadoras. Do que mais gostei na subida foi de entender o que importa na vida dos xerpas: ter um prato de comida, pernas para andar e acabar o dia com um abraço a alguém que amamos e uma oração sincera por aqueles que nos querem mal. De Pangboche, o retrato de sépia: aldeola com casas de tecto plano, bandeiras de oração e sacos de esterco deitados ao sol como panquecas ou velhas gordas; no cimo da aldeia ergue‑se um pequeno gompa (mosteiro) com um telhado curvo e dourado sobranceiro ao rio – que aqui corre docemente – e ao penhasco que parece uma colmeia. No socalco mais próximo do rio dorme um iaque tresmalhado. As coisas mais efectivas são as mais simples e directas. Noutra aldeia do trilho, à porta das casas (cavernas embutidas na montanha), as mulheres espreitam quem passa, de olhos minguados pela falta de luz. Atrás há uma ponte pênsil guardada por soldados desocupados. Pastores guiam rebanhos que pastam em moitas violeta. O rugido do rio afoga qualquer outro som. Acordamos na Primavera e deitamo‑nos no Inverno. A neve cobre suavemente o mundo, a luz côa as montanhas ocre de um branco cintilante. Há neve na erva suspensa e nas margens pedregosas do lago. O único sinal de vida é a sombra escura e curvada de um iaque. Sinto o silêncio e a solidão, dois meios‑irmãos inseparáveis. A melhor parte do dia será a tarde de descanso nas pastagens de altitude. Deslaçar a sacola, fazer posições de praia no capim e gozar a borla da paisagem com uma chapati de queijo coalhado e um termo de chá de menta.

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Já no topo, duas horas e 450 metros de altitude mais tarde, deito‑me entre duas pedras a comer Toblerones, enchumaçado de polares, kispos, termotebes, peúgas «à campeão», regalado com os banhos de sol para compensar o corpo fustigado pelo frio cortante da subida. Nessa altura, o «general» Garcia diverte‑se a desfraldar a bandeira da conquista e a fixar o momento para a posteridade. Para ele, tratou‑se de uma brincadeira de meninos. Para o batalhão, uma batalha do Salado. O maior espectáculo da subida, que leva cerca de duas horas de escalada à pata (isto é, sem encordoamento ou crampons), é o grand finale, quando se dá de caras com o Evereste e se soltam os ooohhhss, uauuusss… e os chiças na carriça.

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valeu a pena, pois valeu. Basta abrir os olhos e regalar a alma.

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Escritor Português

Tiago Salazar no Nepal

 

–Texto de Tiago Salazar–

Jornalista freelancer, formador de Escrita de Viagens e guia de viagens literárias.

Excertos do Livro ” Viagens Sentimentais ”

Tiago Salazar

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Chamo-me João Almeida, moro em Sintra (Portugal), e sou um AMANTE DE VIAGENS. Uma paixão que existe faz longos anos. A minha missão com esta página é de ajudá-lo a realizar o seu próximo destino! Saiba mais sobre mim e sobre o site.

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